A chegada de João Lourenço à Presidência da República veio abrir outros focos de debate a respeito da vitalidade democrática no seio do partido no poder e no país. O engenheiro Fernando Pacheco (FP) ajuda-nos a perceber nesta entrevista ao Novo Jornal (NJ) os últimos eventos que marcam a agenda política nacional, por conta, sobretudo, do “novo” estilo de governação.
NJ – Pela primeira vez na história política de Angola, o MPLA tem à frente da Presidência do país uma figura que não é cumulativamente líder do partido. A polémica à volta da bicefalia só se coloca pelo facto de num dos lados da questão se posicionar uma figura com o peso político de JES?
FP – A bicefalia torna-se um problema pelo histórico do MPLA e pela cultura de partido-Estado que ainda prevalece. O peso político e a personalidade de JES acentuam o problema. Num outro contexto a questão colocar-se-ia de modo bem diferente. Acredito que no futuro as coisas mudarão.
NJ – Teria sido diferente se se tratasse de uma outra figura?
FP – Diferente, sim. Mas a cultura de partido- -Estado continuaria a influenciar negativamente a acção do Presidente da República.
Basta ver o que se passa nas províncias sempre que o governador não acumula o cargo de primeiro secretário do MPLA. As tensões são imensas e a actividade do governador é muito afectada, e com ela o funcionamento das instituições.
É uma aberração que tem de ser encarada e corrigida, mas, infelizmente, não vejo, para já, disponibilidade do MPLA para mudar a situação. (Novo Jornal Online)