Em uma manhã fria em Jerusalém, o general americano Martin Dempsey entra na sala principal do Yad Vashe, o museu do Holocausto de Israel. Ao passar pela porta, ele tira seu chapéu militar em sinal de respeito e o substitui por um quipá judaico.
Um minuto depois, dizem a ele que pode voltar a usar seu chapéu. O general americano faz então uma discreta troca e deixa uma coroa de flores em memória dos seis milhões de judeus mortos no Holocausto.
É um ritual familiar. Cada visitante de Israel é levado ao Yad Vashen. A visita é forma de transmitir a mensagem central de Israel: o povo judeu certa vez foi quase destruído. O Estado deve se proteger contra ameaças parecidas no futuro.
Alguns em Israel acreditam que a ameaça hoje vem do Irão, assunto que o governo israelita quer discutir com Dempsey.
“Acredito que o Irão tem suas próprias ambições de reviver o Império Persa e eles gostariam de fazer isso assumindo o controle do Oriente Médio”, diz o vice-primeiro ministro de Israel, Silvan Shalon, em entrevista em seu escritório em Tel Aviv.
“Eles acreditam que uma arma nuclear é a única forma de se tornarem uma superpotência.”
Nas paredes de seu escritório há uma grande foto de Shalon entre dois ex-presidentes americanos, Bill Clinton e George W. Bush. Israel se orgulha de sua longa aliança com os EUA, mas os dois países têm diferenças notáveis sobre como interpretar a escala das atividades nucleares iranianas.
Alguns em Israel sugerem que o Irão tenta construir um arsenal nuclear. Mas o Pentágono discorda.
“Eles (o Irão) tentam desenvolver uma arma nuclear? Não. Mas sabemos que eles estão tentando desenvolver capacidade nuclear. E isso é o que nos preocupa. E nosso alerta vermelho ao Irão é este: não tente desenvolver uma arma nuclear”, disse o secretário de Defesa americano, Leon Panetta, à CBS News em 8 de janeiro.
Shalon vê as ambições iranianas com menos subjetividade. Sua voz sobe de tom quando ele fala.
“Sabemos que os iranianos tentam desenvolver uma bomba nuclear e sabemos muito bem que eles vão fazer todo o possível para ter uma arma nuclear e acreditamos que deveríamos nos conscientizar disso e não discutir entre nós se eles têm esta intenção ou não.”
“É ridículo. O que deveríamos fazer é impedi-los.”
Mas como?
O chefe do gabinete militar, Benny Gantz, alertou recentemente que o Irão poderia esperar “acontecimentos não naturais” em 2012. Logo depois, ocorreu o assassinato de um cientista nuclear em Teerão por motociclistas não identificados.
O Irão acusa Israel de liderar uma campanha não declarada contra seu programa nuclear. Líderes israelitas preservam o silêncio sobre isto. Mas nos últimos meses, a discussão sobre um ataque militar contra o Irão aumentou a ponto de o governo precisar agora desmentir as especulações.
“A coisa toda está muito distante”, disse o ministro da Defesa, Ehud Barak, em 18 de janeiro.
“Nenhum de nós gostaria de uma opção militar”, declarou Silvan Shalon. “Mas obviamente Israel não pode viver com a ideia de que lunáticos como os do regime iraniano vão poder decidir se destroem ou não o Estado de Israel.”
Qual o tamanho do risco?
Mas nem todos em Israel acreditam que o Irão é uma ameaça tão grande. Martin van Creveld, historiador militar, afirma que Israel exagera os perigos representados pelo Irão.
“Somos muito autocentrados. Somos ensinados desde o início que o mundo todo nos odeia sem motivos e somos vítimas virtuosas. Esta é uma posição que os israelitas adoram e nos é muito útil”, diz ele.
Van Creveld fala de um pequeno escritório nos arredores de Jerusalém. Alguns dos 20 livros que ele escreveu ficam na prateleira acima de seu computador. Ele parece gostar de se opor a opinião reinante no país.
“O Irão é um país perigoso, mas não para nós”, diz ele. “Israel é longe e tem o que precisa para deter os iranianos se isto for necessário”, afirma.
O que aconteceria no Oriente Médio se o Irão se tornar uma potencial nuclear?
“Nada”, diz ele.
O historiador acredita que um Irão nuclear ajudaria a manter a paz no Oriente Médio, da mesma forma que as armas nucleares ajudaram a manter a paz entre URSS e EUA na Guerra Fria.
“Não acho que esta seja uma analogia válida”, diz Michael Herzog, que chefiava a divisão de planejamento estratégico do Exército israelita.
“Na Guerra Fria você tinha dois atores que eram cuidadosos sobre o que eles possuíam e havia um canal de comunicação entre eles”, afirma.
“Se o Irão tem uma arma nuclear sem estes canais de comunicação com Israel, dado o estado das relações entre os dois países, acredito que isto elevaria bastante as tensões e o potencial para uma crise nuclear.”
O pensamento comum em Israel é de que o Irão significa uma ameaça séria para sua sobrevivência. Mas há uma importante pergunta a ser feita ao seu vice-primeiro ministro.
Israel não é indefeso, mas tem um Exército poderoso e um arsenal nuclear não declarado. Um país precisaria ser suicida para atacar Israel, não?
“Este é sempre o problema que temos com amigos leais como vocês”, diz Silvan Shalon.
“Vocês pensam de uma maneira ocidental. No Oriente Médio, eles pensam diferente. Não combina. O que para você parece ilógico, para outros pode fazer sentido.”
Fonte: BBC