Os negócios da elite política moçambicana estão a “migrar” para áreas mais promissoras da economia, principalmente recursos minerais e energia, aproveitando o vazio legal em relação a conflitos de interesses, alertou hoje a ONG moçambicana Centro de Integridade Pública.
O “conluio” entre a classe política moçambicana, nomeadamente figuras do partido no poder, FRELIMO, e os negócios é objeto de uma base de dados que o Centro de Integridade Pública (CIP), lançou hoje em Maputo.
Numa apresentação sumária da base de dados, que analisou 589 empresas participadas por dirigentes do Estado moçambicano, Edson Cortes, pesquisador do CIP, afirmou que a elite política local detém interesses empresariais em quase todas as áreas de negócios, mas está a “migrar nos últimos anos” para os setores-chave da economia.
“É interessante observar o processo de migração da elite política moçambicana nos negócios. Agora os seus interesses estão mais nas áreas-chave da economia, como os recursos minerais, energia, corredores de desenvolvimento e portos”, disse Edson Cortes.
A aposta em novas áreas empresariais está a deixar para trás a atração que a classe dirigente do país sentia pelas pescas, madeira e serviços, devido ao potencial altamente lucrativo nos setores com maior margem de crescimento no futuro.
“Houve um tempo, quando o Presidente era Joaquim Chissano, em que o peso da classe política moçambicana era mais forte nos serviços. Foi o período em que tínhamos mais agências de viagens”, assinalou o pesquisador do CIP, referindo-se ao antigo chefe de Estado, ironicamente conhecido por ter “um gabinete aéreo”, devido às inúmeras viagens ao estrangeiro.
Mas nas novas áreas empresariais, destacou Edson Cortes, os políticos moçambicanos são normalmente meros detentores de licenças, que lhes permitem fazer a subcontratação de empresas estrangeiras com tecnologia e capital para o desenvolvimento dos projetos empresariais.
“É uma elite política rendeira, cujos negócios assentam mais em rentabilizar as licenças que obtém através da sua influência nas instituições do Estado”, afirmou o pesquisador.
Segundo o CIP, para estender os seus tentáculos a mais áreas de negócios, os políticos moçambicanos criam sociedades empresariais com um objeto abstrato e amplo, na expetativa de se envolver em qualquer nova atividade que se revele mais lucrativa no futuro.
A vastidão dos interesses empresariais dos políticos moçambicanos é tal que já se registam antagonismos entre membros da FRELIMO pelo acesso às novas oportunidades oferecidas pela economia moçambicana, conclui a organização.
FONTE: Lusa