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    Mercados de rua crescem no Luena

    Algumas mulheres zungueiras contactadas na cidade do Luena afirmam que o segredo do negócio reside em mostrar aos clientes as novidades que colocam à venda

    Vender  na rua é para as zungueiras  a única forma de ganhar pão para o sustento das  famílias. Domingas Maria é mãe de dois filhos. Reside no Bairro  Kapango, arredores da cidade do Luena. Ela tem consciência de  que vender na rua é  um risco e constitui crime, mas as necessidades   obrigou-a    enveredar por este tipo de  actividade.
    Não vai para os mercados oficiais porque aí os produtores fazem melhores preços e fica sem clientes. Quanto ao rendimento, Domingas  afirmou que “ganho pouco e tenho muito trabalho”.
    A única vantagem  do negócio da zunga, é não ter sobras ao fim do dia.  Para adquirir  os produtos, Domingas Maria levanta-se  muito cedo e vai ao  encontro dos camponeses  para conseguir banana, mandioca, milho e outros produtos muito procurados pelos clientes.
    Um cacho de banana é adquirido por 1.500 a 2.000 kuanzas, uma mandioca varia entre 50 e 100 kuanzas ao passo que  um quilo de ginguba custa 200 kuanzas. Lutar para ter uma margem de lucro  é um exercício que  requer muitas  contas  para não perder o dinheiro investido. Algumas zungueiras afirmam que o segredo do negócio da zunga reside em mostrar aos clientes as novidades: “convencemos  o cliente  com produtos raros de encontrar nos mercado oficiais”.
    A reportagem do Jornal de Angola apurou que em muitos locais, a  mandioca lidera a lista dos produtos mais procurados. João Moisés, funcionário público, afirmou que come todos os dias mandioca com ginguba, que as zungueiras vendem no seu  local de trabalho.

    Ruas cheias de zungueiras

    Como mãe, Domingas Maria lamenta  a sua ausência constante: “deixo os meus filhos muito cedo  e só volto a vê-los à noite, eles devem compreender  que é a única forma que a mãe encontrou para os sustentar”.  Para atingir a clientela  é preciso andar por todas as ruas da cidade  o que  requer muito sacrifício  e  muitas horas de marcha.
    As ruas da cidade do Luena estão cheias de zungueiras. Umas levam bananas, que vendem três a 100 kuanzas. Outras milho, mandioca,  mangas que vendem, a preços ao alcance de todas as bolsas.  A vida da zungueira é um sacrifício desde o amanhecer até ao anoitecer.
    Atenta aos clientes e aos fiscais, a mulher zungueira é a mais astuta  que existe. Foge das autoridades mas  sem nunca perder de vista o seu próximo  cliente.
    À semelhança das outras, Oliva  Rosa, 26 anos, tem três  filhos e o marido está desempregado. Ela vende milho fresco e manga. Quando vai para a zunga,  de manhã  cedo,  Oliva Rosa  deixa os dois filhos  mais   crescidos ao cuidado da  vizinha  e leva consigo, às costas,  o mais pequeno. Só volta a casa ao anoitecer. “Não cuido suficientemente dos meus filhos porque os deixo muito cedo e só  estão comigo apenas  algumas horas da noite”, disse Oliva Rosa.

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    Esperança Flora, uma jovem de  20 anos, entrou na batalha da zunga quando  ficou grávida pela primeira vez: “os meus pais ficaram aborrecidos quando engravidei  e  por causa disso  fui entregue ao moço que me engravidou, vivemos algum tempo, depois de termos outros dois filhos ele me abandonou”.
    Esperança Flora tem  três filhos para sustentar. O sonho de um dia voltar a estudar está adiado  devido ao peso que cai sobre ela: é  mãe e pai ao mesmo tempo.
    A maioria das  mulheres zungueiras tem histórias semelhantes. O abandono por parte dos maridos e a fuga à  paternidade são  motivos do calvário  destas mães que diariamente lutam nas ruas do Luena para sustentar as famílias.
    Quando está em causa a família, ninguém se lembra dos fiscais, que sempre atrapalham o negócio

    Samuel António | Luena

    Fonte: Jornal de Angola

    Fotografia: Daniel Benjamim

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