O primeiro-ministro, com “a impreparação” que revelou no anúncio das novas medidas de austeridade, “não percebeu que isso podia significar a pré-rutura do País com ele”, afirmou este domingo Marcelo Rebelo de Sousa.
Num comentário muito cáustico para Pedro Passos Coelho, Marcelo apontou uma série de medidas que o primeiro-ministro devia ter explicado e não explicou: por exemplo, “porque falhou” o programa de austeridade em curso e como é que os novos cortes “vão produzir” efeitos em 2013.
Porquê cortar um salário a todos os trabalhadores por conta de outrém, “qual é a meta” a atingir com as novas medidas, porque é que na Função Pública passa a haver só 12 salários e os privados manterão “formalmente 14”, porque é que o aumento dos descontos para a Segurança Social “não é um imposto”, etc.
“Fiquei gélido” por ouvir Passos Coelho só “contar uma parte da história” – os cortes “ao mexilhão” – e não explicar ou dizer quais as medidas a aplicar “aos outros”, desde logo no próprio Estado, exclamou o comentador na TVI. “Quando está a pedir sacrifícios ao mexilhão, tem de explicar o que faz aos outros”, adiantou Marcelo.
Mais, Passos devia “dar o exemplo” e ter anunciado uma redução nos salários dos membros do Governo (como Itália, Reino Unido) e também uma “remodelação ministerial”, sustentou Marcelo, acrescentando: “Aí as pessoas” compreenderiam que os novos cortes “são para todos” e não só alguns.
“Houve um discurso concreto em relação ao mexilhão, para outras espécies […] foi genérico”, repetiu Marcelo, mostrando espanto por já haver quem fale em inconstitucionalidades na futura proposta de Orçamento de Estado.
“Falta saber tudo para saber se há justiça e equidade” nos sacrifícios pedidos pelo Tribunal Constitucional no acórdão sobre o orçamento deste ano, pois o discurso do primeiro-ministro “é vaguíssimo em partes fundamentais” frisou Marcelo Rebelo de Sousa.
Considerando a rede social Facebook como “uma praga na política portuguesa”, após Passos Coelho se dirigir aos portugueses por essa via após os anúncios de sexta-feira, Marcelo qualificou o discurso como “descuidado, no máximo desastrado”.
Ou as coisas são explicadas aos portugueses ou “vamos ter um tormentoso ano de 2013”, não por as pessoas irem protestar para a rua mas porque “vão viver com a sensação de que não vale a pena” o sacrifício por que estão a passar, alertou Marcelo.
O comentador – além de considerar que o PP também foi atingido, apesar do silêncio dos seus responsáveis – mostrou-se igualmente demolidor com o líder do PS, António José Seguro, que ainda só “balbuciou” generalidades “quando tinha a obrigação de dizer algumas das coisas” que ele, Marcelo, tem dito.
FONTE: DN