Duas pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas nesta quinta-feira no Egito durante confrontos entre a polícia e manifestantes que protestavam contra a violência nos estádios.
Os dois mortos nos protestos teriam sido alvejados a tiros pela polícia, que tentava conter a multidão enfurecida na cidade de Suez, segundo fontes médicas.
Na praça Tahrir, no Cairo, autoridades usaram gás lacrimogêneo para tentar conter a multidão, revoltada com um confronto entre claks após um jogo de futebol ocorrido na véspera em Porto Said. O conflito deixou 74 mortos e centenas de feridos.
Milhares de manifestantes permaneceram nas ruas pela madrugada após um dia de confrontos com a polícia. Uma multidão tentou invadir o Ministério do Interior, mas foi contida pela polícia.
Os manifestantes acusam a polícia de não agir para garantir a segurança depois da partida, em que claks do Al-Masry invadiram o terreno depois que a equipa local venceu por 3 a 1 o Al-Ahly, do Cairo.
Muitos morreram prensados contra as grades do estádio ou caíram das arquibancadas, enquanto outros foram alvejados com pedras, cadeiras e até facas.

O episódio provocou uma nova onda de tensão no Egito e abalou a confiança em relação ao conselho militar governante, em um momento em que o país se prepara para eleições presidenciais cujo objetivo é transferir o poder para um governo civil.
Em resposta, o governo – que declarou três dias de luto oficial – fez reuniões emergenciais de gabinete na quinta-feira e anunciou a demissão de vários altos funcionários.
Confronto político
A tragédia ganhou contornos políticos, já que além dos protestos, a Irmandade Muçulmana, maior partido do atual Parlamento, acusou simpatizantes do ex-presidente Hosni Mubarak de provocarem os distúrbios para levar o “caos” ao Egito.
O partido acusa os generais de fomentar o confronto para evitar uma transferência pacífica do poder. Há ainda especulações dizendo que partidários do ex-líder teriam incentivado claks do Al-Masry a entrarem em choque com os rivais do Al-Ahly, por terem participado dos grandes protestos pró-democracia.
No entanto, o correspondente da BBC no Oriente Médio Wyre Davies afirma que essas teorias, no momento, não passam de meras especulações.

“Muitas das claks do Al-Ahly participaram das batalhas na praça Tahrir, lutando por mais emprego e oportunidades. Eles têm ódios dos privilégios das autoridades”, afirma Davies.
“Mas o que sabemos com certeza é que a polícia mal treinada e mal paga falhou na hora de separar claks rivais com um histórico de violência. Após a queda de Mubarak, é de se esperar que haja união, na expectativa de uma nova era. Mas a realidade é que o Egito continua mergulhado no caos.”
‘Qualquer lugar do mundo’
Hussein Tantawi, líder do conselho militar egípcio, esteve em uma base aérea do Cairo para se encontrar com claks e jogadores do Al-Ahly que haviam sido removidos de Port Said.
“(O episódio) não vai derrubar o Egito”, disse o líder militar, segundo a agência Associated Press. “Esses incidentes podem ocorrer em qualquer lugar do mundo. Não deixaremos os culpados escaparem.”
Nesta quinta-feira, autoridades de Port Said e da associação de futebol do Egito foram demitidas por conta do episódio. O governador local renunciou, enquanto o diretor de segurança da cidade e o chefe de investigações policiais foram suspensos e estão sob custódia policial.
Fonte: BBC