Uma ampla maioria de argentinos apoia a decisão do governo de Cristina Kirchner de expropriar 51 por cento das acções da YPF, filial argentina da companhia petrolífera espanhola Repsol.
De acordo com uma sondagem elaborada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública, 74 por cento dos argentinos inquiridos ter-se-á manifestado de acordo com a decisão do governo de expropriar a petrolífera.
Entre os 67,1 por cento de cidadãos que dizem conhecer os motivos da expropriação, 35,2 por cento consideram que a Repsol não fez os investimentos necessários e outros 33 por cento entendem que o Estado deve controlar os recursos estratégicos nacionais.
A sondagem, publicada no diário “Página 12”, revela ainda que mais de 60 por cento dos argentinos acredita que a empresa será “bem gerida” nas mãos do Estado, enquanto 60,9 por cento qualifica de “negativa” a gestão da Repsol.
Outros resultados da sondagem dão conta que menos de 3 por cento acredita que a YPF deve estar em mãos privadas, cerca de 23 por cento considera que poderia ser administrada por capitais privados argentinos e 70 por cento pensa que a petrolífera deve ser gerida pelo Estado.
YPF Gás será nacionalizada
O governo argentino anunciou também, na semana passada, a expropriação da YPF Gás controlada pela espanhola Repsol e essa medida deve ser aprovada pelo Senado amanhã.
O projecto de lei de expropriação de 51 por cento das acções da Repsol-YPF já passou pelas comissões de Assuntos Constitucionais, de Orçamento, de Mineração e de Energia e Combustíveis do Senado, depois de dois dias de acalorados debates. O governo culpou a Repsol pela crise energética do país. A empresa é a maior accionista da YPF (Yacimentos Petrolíferos Fiscales), a estatal argentina de petróleo privatizada nos anos 90 e responsável pela exploração de 30 por cento do petróleo e um terço do gás natural da Argentina.
Especialistas ouvidos pelos senadores concordam que a crise energética é séria. Até 2010, a Argentina tinha um superavit de 1,5 mil milhões de dólares americanos na sua balança comercial energética e, no ano passado, registou um défice de 3,7 mil milhões de dólares. Este ano deve gastar 12 mil milhões de dólares para importar petróleo e gás, que poderiam ser produzidos no país.
Dois ex-secretários da Energia, Jorge Lapena e Daniel Montamat, respectivamente, disseram aos senadores que o país precisa de uma política energética de longo prazo. Sem regras claras, ninguém irá investir e o Estado argentino não tem recursos suficientes para investir na exploração de novas reservas de energia, sublinharam.
Daniel Montamat citou, como exemplo, o congelamento dos preços da energia, determinado pelo governo argentino, depois da crise de 2001. “É politicamente incorrecto falar em preços, mas eles influem”, disse.
“Pretendemos que a YPF produza um BTU (Unidade Térmica Britânica) de gás a 2,70 dólares, quando importamos a mesma quantidade da Bolívia por 12 dólares, ou trazemos de barco de outros países por 18 dólares”, completou.
Segundo Daniel Montamat, dificilmente um empresário investirá num empreendimento desses, a não ser que exista alguma política de Estado que leve em conta a diferença de preços. “E o Estado vai precisar de associar-se a empresas privadas, para explorar e produzir combustível. Não pode tomar decisões a curto prazo, baseadas em necessidades políticas”, declarou.
O consultor Walter Chebli disse que a Repsol não foi a única empresa que diminuiu a sua produção na Argentina. Outras empresas fizeram o mesmo, citando como exemplo a Petrobras, ao comprar uma empresa argentina, a Chevron e a Total, que acabam de anunciar que querem investir mais na Argentina. Depois de dois dias de debates no Senado, ainda restam muitas dúvidas sobre qual o valor das acções expropriadas. A Repsol quer no mínimo uma compensação de 10 mil milhões de dólares, valor que o governo argentino rejeita. Na sequência do anúncio da expropriação, as acções da YPF sofreram quedas de 24 por cento na Bolsa de Buenos Aires e 28 por cento no mercado internacional.
Acordo com a Total
O governo da Argentina divulgou um comunicado em que anuncia um acordo com a empresa petrolífera francesa Total, para aumentar, a curto prazo, a produção de gás natural dos campos em que existe sociedade com a YPF em 2 milhões de metros cúbicos.
Uma reunião de 50 minutos entre o ministro do Planeamento, Júlio De Vido, e o director de Exploração e Produção da Total para a América, Ladislas Paskiewicz, culminou com um acordo para o início das conversações. O ministro disse que a perspectiva é um aumento de produção total na ordem de dois por cento, que no ano passado foi de 45,522 mil milhões de metros cúbicos.
Em razão da queda da produção da YPF, a Total é hoje a maior produtora de gás natural da Argentina. Em 2011, a Total extraiu 13,6 mil milhões de metros cúbicos, ou 30 por cento da produção nacional. A YPF ficou em segundo, com 10,6 mil milhões de metros cúbicos extraídos. A brasileira Petrobras é a quarta maior produtora, com uma extracção de 4,187 mil milhões de mestros cúbicos. A terceira colocada é a Pan American Energy, que também é sócia da YPF e da Total nos campos em que a produção será ampliada.