À contenção verbal dos primeiros dias seguiu-se a reacção azeda e uma ameaça velada: Teerão avisa que a decisão da Turquia em acolher um radar de alerta precoce do escudo antimíssil da OTAN “vai gerar tensões” que não devem existir “entre países amigos”.
“A instalação de elementos do escudo não vai melhorar nem a segurança nem a estabilidade na região. E esperamos que os países nossos amigos e vizinhos não adoptem políticas criadoras de tensões que só vão seguramente complicar a situação”, afirmou o porta-voz do Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros.
Ramin Mehmanparast, citado pela televisão estatal do Irão, sublinhou ainda que o seu país “condena toda e qualquer acção que gere uma corrida ao armamento no mundo e nesta região”, claramente acentuando o tom de críticas a Ancara, com a qual Teerão tem vindo nos últimos anos a abraçar uma política de aproximação, depois de a Turquia se ter distanciado das sanções do Ocidente contra o programa nuclear iraniano.
Esta crítica surge na esteira do anúncio feito na semana passada pela Turquia de que as negociações entre Ancara e a OTAN para receber o radar de alerta precoce – parte da estratégica de defesa transatlântica saída da cimeira da Aliança, em Lisboa em Novembro passado – tinham já “chegado à fase final”. A decisão turca “reforça as capacidades de defesa da OTAN e também o sistema de defesa da Turquia”, argumentou então o ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país, Selcuk Unal.
Na segunda-feira, Teerão fez os primeiros reparos, mas então bastante contidos no tom, avaliando que tal “não irá melhorar a segurança regional, antes produzirá o efeito contrário”. E mais longe não foi do que argumentar que tanto o Irão como a Turquia são “capazes de assegurar totalmente e por si próprios a segurança, sem nenhuma intervenção exterior”.
Casa Branca
Os planos da Casa Branca sobre a localização de componentes estratégicos do sistema de defesa dos EUA em solo europeu receberam o respaldo de 28 membros do bloco durante a cúpula da OTAN no ano passado em Lisboa.
O radar transportável do modelo AN/TPY-2, de fabrico americana, poderá ser empregado pela Armada ou pelo Exército em trabalhos de vigilância radioelectrónica.
Para analistas, o gesto turco insere-se numa tentativa de Ancara por melhorar as relações com a Casa Branca e a Europa, enquanto aspira consolidar o seu papel na região e como aliado da OTAN.
Fonte: JA
Fotografia: Afp