As manifestações no Irão são apenas “o princípio de um grande movimento” que pode ser mais amplo do que o de 2009 – considerou a Prémio Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi, em entrevista publicada neste domingo (31) no jornal italiano “La Repubblica”.
“Acredito que as manifestações não vão acabar logo. Me parece que assistimos ao princípio de um grande movimento de protesto que pode ir muito além da onda verde de 2009. Não estranharia se se tornasse algo maior”, declarou Ebadi, que vive exilada em Londres.
Nas últimas horas, o Irão registou novas manifestações contra o governo, durante as quais duas pessoas morreram, dezenas foram detidas, e prédios públicos foram atacados.
São as manifestações mais significativas registadas na República Islâmica desde o movimento de protesto contra a reeleição do ex-presidente ultra-conservador Mahmud Ahmadineyad em 2009. Na época, o movimento foi violentamente reprimido.
Agora, as raízes da revolta são, sobretudo, económicas e sociais: “No Irão, e isso não é novo, há uma crise económica muito grave. A corrupção em todo país atingiu níveis espantosos. O fim de algumas sanções ligadas ao acordo nuclear com Europa e Estados Unidos em 2015 não trouxe benefícios reais para a população, ao contrário do que muitos esperavam”, disse Ebadi.
“A isso se soma o fato de que o Irão tem um gasto militar muito elevado. As pessoas não toleram ver que se gasta tanto dinheiro com isso”, acrescentou a advogada iraniana.
“Os jovens são os mais decepcionados”, advertiu ela, mencionando o alto índice de desemprego, que os afecta directamente, a corrupção e “o clima de censura que se respira nas ruas”.
E, se entre os manifestantes também há mulheres, é porque “o movimento actual não é um assunto de género”, apontou.
“A situação económica e a distância aterradora entre ricos e pobres, entre os que gozam do bem-estar e os que não, estão na base do protesto. As diferenças sociais apenas aumentaram nos últimos anos, e esse é um dos elementos-chave para entender o que está acontecendo”, completou a Prémio Nobel de 2003. (Afp)