Depois da captura do porto da Mocímboa da Praia, analistas não têm dúvidas de que os insurgentes não vão tomar a capital, Pemba. Ministro da Defesa garante que FDS estão a tentar recuperar o controlo da situação.
O porto de Mocímboa da Praia foi alvo de uma ousada captura por insurgentes na última terça-feira (11.08). No entanto, analistas ouvidos pela DW África entendem que, apesar de disporem de uma considerável força militar, os insurgentes não podem tomar a capital de Cabo Delgado, Pemba.
O diretor-executivo do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, sustenta que há vários factores que podem impedir os insurgentes de tomar a capital Pemba, entre os quais a geografia.
“Não creio que isso seja possível. As características próprias da zona norte de Cabo Delgado propiciaram a captura em Mocímboa da Praia: as ilhas, as dificuldades de patrulhamento, com dificuldades de acompanhamento por parte do Estado, a floresta à volta, mata densa, distritos extensos, isto permite capacidade de manobra. Mas não creio que isso seja possível ao nível de Pemba”, explica.
Falhas do Estado
Mesmo assim, Adriano Nuvunga não tem dúvidas de que os insurgentes estão a ganhar terreno em Cabo Delgado e aponta falhas: “Falhámos como estado, falhámos como sociedade, e os sinais vinham de todos os lados sobre a escalada da violência”.
Para Nuvunga, “os insurgentes aparecem mais organizados, mais capacitados, ao usarem armamentos mais sofisticados”.
O director-executivo do CDD acredita que os ataques em Cabo Delgado afectem o avanço dos mega-projectos. “É verdade que se perceba isso. Mas o que nós não queríamos ver era um fechamento, porque o que vai acontecer no fundo com o desenvolvimento da insurgência é que Moçambique vai ficar armadilhado. Há-de haver um ilhamento aos projectos”, defende o analista.
Interesses políticos
O editor do jornal semanal Zambeze, Egídio Plácido, também defende que a capital provincial de Cabo Delgado não vai ser tomada pelos insurgentes e aponta interesses políticos que podem travar essa intenção.
“Não há efectivamente um perigo de se assaltar a cidade de Pemba. E mais, mesmo as zonas próximas a cidade de Pemba, estou a falar de Metuge, os terroristas ainda não atingiram, mas estão numa zona circunvizinha. O perigo está ali perto, mas a cidade continua muito segura e é lá onde todas as acções são coordenadas”.
Plácido acredita que as Forças de Defesa e Segurança são capazes de dar uma resposta para voltar a controlar o porto da Mocímboa da Praia, como já aconteceu no passado. “Mas não é garantia total de que os insurgentes não vão voltar”, pondera.
“Pelos sinais que já foram dados no passado, claramente que é muito difícil expulsar terroristas por uma simples razão: no início deste ano, circularam vários vídeos de alguma população que apoia os terroristas. Há um trabalho de base que deve ser feito ao nível das comunidades”, explica.
A província nortenha de Cabo Delgado é palco de um dos maiores projectos de exploração de gás em África. Entretanto, desde Outubro de 2017 também é alvo de ataques de insurgentes, que já provocaram centenas de mortos e milhares de deslocados.
Insurgentes terão recebido apoio externo, diz ministro da Defesa
“O inimigo infiltrou-se em diversos bairros, trajado à civil e beneficiando de várias cumplicidades, atacando a vila de dentro para fora, causando destruição, saques e assassinato de cidadãos indefesos, com manobras de sabotagem e ataques a meios navais de socorro a partir do porto de Mocímboa da Praia”, anunciou esta quinta-feira (13.08) o ministro da Defesa de Moçambique, Jaime Neto.
O governante acrescentou que o “alegado Estado Islâmico” em Cabo Delgado denota ter recebido reforços de fora do país.
Várias infraestruturas foram vandalizadas em Mocímboa da Praia e, neste momento, as Forças de Defesa e Segurança tentam recuperar o controlo da situação, apesar do reforço que os insurgentes receberam de “equipamentos e homens provenientes de bases de fora do território” moçambicano, segundo Jaime Neto.
O governante, que falava em conferência de imprensa em Maputo, admitiu que a situação “continua tensa, devendo todo o Estado moçambicano empenhar-se na normalização da vida das populações tão fustigadas pelo terror”.
“Apela-se para calma, vigilância e para não difusão de boatos ou imagens chocantes dos combates, nem que seja por um simples ato de decência e respeitosa lembrança dos nossos jovens tombados ao serviço da pátria e do povo”, frisou o ministro da Defesa de Moçambique.