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    Homenagem a António Marques Monteiro! (Antonico)

    Comemora-se este sábado, 4 de Fevereiro, o 51º aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional, data que constitui um marco indelével na história da resistência contra o regime colonial-fascista português, para o alcance da Independência Nacional.

    Na madrugada de 4 de Fevereiro de 1961, um grupo de homens e mulheres, munidos de paus, catanas e outras armas brancas, atacou a casa de reclusão e a cadeia de São Paulo, em Luanda, para libertar presos políticos ameaçados de morte.

    Um deles era António Marques Monteiro, (Antonico), nacionalista angolano e um dos integrantes do processo dos 50.

    Preso pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) em 5 de Junho de 1959 e por razões de forte tortura, Antonico foi internado no Hospital Psiquiátrico de Luanda e mais tarde encaminhado para a Casa de Reclusão (Fortaleza do Penedo) Forte do Século XVII, sito no actual Porto Comercial de Luanda, Bairro da Boavista.

    Recordar Antonico neste dia simbólico é também recordar, todos aqueles que como ele, deram suas vidas pela luta de libertação de Angola.

    Como Ilídio Machado, Higinio Aires, Liceu Vieira Dias, Amadeu Amorim, Gabriel Leitão, André Mingas, Beto Van-Dúnem, Belarmino Van-Dunem, António Jacinto, Figueiredo, Noé Saúde, Diogo Ventura, Mendes de Carvalho e muitos outros.

    Nascido em Luanda, aos 19 de Julho de 1920, António Marques Monteiro era filho de Nazaré Nunes, angolana descendente de famílias da Ilha do Mussulo e Ilha do Cabo e paterno de António Monteiro, português, oriundo da cidade de Nelas, Viseu.

    Por ter sido abandonado por seu pai, sua educação foi integralmente assessorada por sua mãe, dentro dos padrões culturais e tradicionais angolanos.

    Funcionário do Banco de Angola, em Luanda, Antonico, foi membro do MIA (Movimento para a Independência de Angola). Esteve ligado ideológica e politicamente a Monsenhor Cónego Manuel das Neves e a Joaquim Pinto de Andrade, organizando diversas reuniões clandestinas para promoverem estratégias e debaterem questões políticas relacionadas com a independência de Angola.

    Inseriu o nome da Raínha Ginga Mbandi como figura máxima da resistência colonial e para o efeito, mandou fazer clichés da sua efígie, distribuindo-as depois em homilia que mandara rezar em nome de Ana de Sousa, pelo Cónego Manuel das Neves na Igreja da Sé dos Remédios em Luanda.

    Durante o seu julgamento, António Marques Monteiro disse:

    “Aceito tudo quanto a meu respeito consta dos autos, essencialmente a tudo quanto se refere aos actos que pratiquei com vista a obtenção da Independência de Angola. A este respeito apenas tenho a acrescentar que pretendi e pretendo a Independência total, imediata e incondicional de Angola.”

    A história deste julgamento encontra-se retratada em documentos que fazem parte do acervo da Torre do Tombo, em Lisboa e do qual extraímos este recorte.

    António Marques Monteiro é um dos integrantes do célebre processo dos 50. O seu nome, embora constando na toponímia da cidade de Luanda, lamentavelmente é muitas vezes omitido, nos discursos oficiais. Mas a sua coragem permanece perene na memória dos familiares, amigos e contemporâneos . Chegará o momento em que heróis como ele e outros a quem a história muito deve serão glorificados pelos seus feitos.

    No julgamento que ditou a sua prisão e sem receios diria:  Neste momento em que o povo de Angola se vem batendo e morrendo pela sua libertação, resta congratular-me com a perfeita identificação e a vontade patente de todos os meus compatriotas”.

    “Pode pois este tribunal deliberar como entender sobre a minha pessoa, sendo certo porém que os meus actos foram de carácter pacífico e legitimados pelo direito natural e internacional”.

    Ciente naquilo que queria, Antonico apelou ainda ao Governo-geral na altura, à realização de uma mesa redonda para se decidir da proclamação da independência de Angola.

    “Ouviu Vossa Excelência a leitura da minha contestação e apenas quero acrescentar que Portugal não perderá em ceder Angola aos angolanos, porquanto saberemos ser gratos e terá em cada um de nós um amigo sincero e leal.

    Peço transmitir ao Governo-geral, a fim de levar ao conhecimento do Governo Central o meu desejo de uma reunião a mesa redonda para se decidir da proclamação da Independência de Angola”, disse António Marques Monteiro perante o tribunal.

     

    Jorge Monteiro/Edson Magalhães/António Santos

     

    Fonte: Portal de Angola

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    1 COMENTÁRIO

    1. Meu saudoso pai. Deste a vida por Angola e pelo povo angolano, esquecendo que tinhas a teu cargo 7 filhos ainda pequenos, a mais velha com 13 anos e o mais novo com 1 aninho, que deixaram de usufruir o afecto, a ternura e o amor que tinhas por eles. Esta foto aqui exposta, demonstra plenamente a tortura que tu e os teus companheiros tiveram quando foram submetidos aos famosos interrogatórios feitos pela P.I.D.E. Dói-me o coração de te ver com a cara inchada, só demonstra os maus tratos que foram infringidos a ti e aos teus colegas de infortúnio, foste internado na psiquiatria de Luanda. Sofremos muito com a tua ausência, durante 17 dias não sabiamos aonde estavas, depois fomos informados para te visitar na cadeia de S. Paulo. Uma breve visita aonde nem um beijo tivemos condições de te dar. É uma tristeza teres dado a vida pela terra que amavas , tentando evitar os maus tratos que os teus conterrâneos sofriam, defendendo uma Angola para todos os angolanos sem excepção de raça, credo ou ideologia. Tenho quase a certeza que na História de Angola não consta a vossa existência, esqueceram-se que vocês enfrentaram o governo Português sem medo de qualquer represália, vocês os idealistas também deveriam ser condecorados pela vossa coragem. Mas os homens que são falados são aqueles que estiveram na mata estes é que têm valor porque pegaram em armas. Faz nesta madrugada 51 anos que as cadeias de S. Paulo e a Casa da Reclusão onde tu e os demais presos políticos estavam presos foram atacadas para ver se conseguiam retirar-vos da prisão. Estou a reportar-me ao dia 4 de Fevereiro de 1961 onde vocês (intervenientes do processo dos cinquenta) se encontravam detidos. Ainda não tinham sido julgados nem condenados. Para o povo angolano, tenho a certeza, como já me disseram um dia, são passado, para eles vocês nunca foram nada. Os indivíduos que lutaram com armas, é que são os verdadeiros homens de valor que lutaram para Angola ser independente. Mas vocês intelectuais e idealistas mostraram ao mundo que Angola teria de ser um País livre e os dirigentes desse País deveriam destacar os homens que conseguiram levar para além fronteiras e dar a conhecer ao Mundo a luta por uma Angola independente e que ela se tornasse terra para todos. Aquilo por que vocês lutaram não se pode realizar, porque Angola não para todos os Angolanos, mas sim para alguns. Vocês revoltaram-se pela opressão do povo, mas o povo continua oprimido. Não sei se já têm liberdade de expressão. Fiquei escandalizada quando a tua mãe morreu e eu fui a Luanda com os meus irmãos ao funeral dela, dirigi-me ao Jornal de Angola para pôr o anúncio da morte da minha avó tua mãe e não me deixaram pois fotografias só dos dirigentes e a tua mãe que perdeu o seu primogénito por defender a causa de Angola independente não era nada. Deveriam ter o mínimo de respeito por essa mulher. E os teus filhos? Que sofreram desde tenra idade e carregaram nas costas o peso da independência o que têm? Nada, nasceram para sofrer e continuarão a sofrer até ao fim dos seus dias, pois não há uma palavra de conforto, uma ajuda mínima que seja, nada.
      O Povo Angolano deveria saber toda a verdade sobre a independência de Angola. As primeiras detenções começaram em 1959 e a luta armada a 4 de Fevereiro de 1961.

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