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    Hoje à noite, em direto: uma mentira, duas armas secretas e uma barra de dinamite

    Dois a três milhões de portugueses, estima-se, vão ver hoje o confronto televisivo entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro. E nós, que ainda não vemos o futuro mas já vimos o passado, arriscamos antecipar três coisas que vão marcar esse debate. Um debate que um deles têm de ganhar e o outro tem de não perder.

    1. A “mentira” das pensões

    Ninguém engana os pensionistas: eles sabem que ninguém pensa neles a não ser de quatro em quatro anos – ou melhor, neste Portugal politicamente sísmico, de dois em dois anos. Eles não têm sindicato que os defenda todos os dias. Mas têm uma força eleitoral grande, porque são muitos e votam muito.

    Luís Montenegro já por duas vezes disse que, em 2022, o PS cortou as pensões futuras em mil milhões de euros. E por duas vezes Pedro Nuno Santos disse que esta é a maior mentira da campanha eleitoral.

    Bom, já falei sobre isto aqui (dizendo que é enganador) e já aqui escrevi (relembrando os factos). Quase parece um dilema filosófico: se alguém corta uma coisa e depois anula esse corte, essa coisa alguma vez foi cortada? Pronto, é mais ou menos isso: o PS cortou em 2022, anulou o corte em 2023, os pensionistas estiveram para perder mas acabaram por perder nada. O que dirá Luís Montenegro? Talvez que o PS cortou. O que dirá Pedro Nuno Santos? Certamente que o PSD mentiu.

    2. O ataque da habitação

    É dos maiores mistérios para mim: como é que Pedro Nuno Santos não está a ser espremido até do tutano com o tema da habitação. O PS acordou tardíssimo para o problema, já o mal estava feito, e com um programa Mais Habitação muito mal amanhado. Mas Pedro Nuno tem escapado ao aperto do torno bastando-lhe dizer que lançou um grande plano de construção. Será finalmente atacado como deve ser? Talvez hoje.

    3. A defesa dos rendimentos

    É o outro grande mistério para mim: como é que Pedro Nuno Santos não tira da cartucheira a munição dos aumentos de rendimentos deste mês de janeiro? Há poucos dias, os trabalhadores por conta de outrem tiveram um aumento de salário líquido por causa da descida do IRS (que foi decidida antes da queda do governo) e os pensionistas tiveram aumentos ainda maiores não só por causa do IRS mas também por causa da fórmula de cálculos dos aumentos anuais. É mais dinheiro no bolso de milhões de portugueses. E o PS não está a valer-se disso porquê? Porque foi António Costa quem o fez? Porque está a guardar o trunfo? Talvez hoje.

    4. Uma barra de dinamite

    Os dois vão dizer que querem ganhar as eleições e nenhum quer dizer o que fará e as perder. Mas as sondagens apontam para uma possibilidade, a de que um deles ganhe sem maioria nem capacidade de a formar em coligação. O que fará nesse caso o outro?

    Esse é o único cenário que Luís Montenegro ainda não esclareceu: se o PS vencer as eleições mas a esquerda estiver em minoria, o PSD viabiliza um governo PS minoritário, nomeadamente nos Orçamentos do Estado?

    E que fará na situação inversa o PS, se o PSD ganhar mas não tiver maioria nem com a Iniciativa Liberal, e dispensando acordo com o Chega? O PS viabiliza?

    Os dois líderes dos dois partidos não clarificam. Mas há quem nos seus partidos se tenha antecipado, Francisco Assis do lado do PS e Pedro Duarte do lado do PSD. Mas não só: em entrevista ao La Vanguardia, António Costa afirmou este fim de semana que acredita que Portugal não vai acabar por depender do voto da extrema-direita. E talvez isso queira mesmo dizer que, em caso de necessidade, o perdedor entre o PSD e o PS deve viabilizar o vencedor.

    Veremos se, no debate de hoje, algum responderá a essa pergunta. Receio que não. Mas, mais importante que não ser arquitetada uma ponte, é o debate não deitar o dinamite da ofensa, do insulto e da incompatibilidade definitiva entre ambos.

    Bom, é evidente que, além dos possíveis ataques à habitação pelo PSD e defesa dos rendimentos pelo PS, os candidatos levarão mais armas secretas. Talvez a saúde e a educação, do lado do PSD; talvez o fantasma do austeridade, do lado do PS. No fim desta maratona, que foi mais favorável a Montenegro do que a Pedro Nuno, ao primeiro bastará não perder, mas o segundo terá de ganhar.

    E nós todos vamos ver: cerca de metade dos votantes nas eleições de 10 de março vão estar colados à televisão. Até lá.

    Por Pedro Santos Guerreiro

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