Ponteciana Lusimana, de 32 anos, é uma jovem que aprende a ler e escrever no centro de alfabetização Santo António, localizado no bairro Sagrada Esperança, na cidade de Mbanza Congo, província do Zaire. Mãe de uma filha, Ponteciana faz parte de um grupo de cidadãos, entre homens, mulheres e jovens, que movidos pela vontade de aprender o ABC, venceram o preconceito e partiram para o desafio de sair da lista dos iletrados.
Visivelmente satisfeita com a aposta, Ponteciana, que está numa instituição de ensino pertencente às madres da Congregação Escravas Divinas da Igreja Católica há um ano, já sabe ler e escrever o nome completo e outras palavras de grafia menos complexa, graças à perícia dos alfabetizadores na transmissão dos conteúdos.
“Eles têm muita paciência para nos ensinar e isso tem-nos ajudado a aprender muita coisa”, disse a alfabetizanda, para quem os estudos não vão parar até que consiga concretizar o seu maior sonho: ser professora e contribuir para o processo da erradicação do analfabetismo no país. Por isso, convida outros adultos e jovens a seguirem o seu exemplo, integrando-se nas salas de alfabetização, o que pode abrir novos rumos para as suas vidas.
Ponteciana confessa que, no início, viveu momentos difíceis, porque tudo aquilo que os alfabetizadores ensinavam lhe parecia uma coisa do outro mundo. Mas os colegas que encontrou no centro desempenharam um papel importante para o seu rápido enquadramento no ambiente de aprendizagem.
Reconhecendo o valor da escrita e da leitura para o bem-estar social, salientou que só estudando é que as pessoas podem almejar um futuro melhor, tendo recorrido à velha máxima segundo a qual mais vale tarde do que nunca. “Quando há interesse e força de vontade, nos podemos sobrepor-nos a qualquer tipo de preconceito”.
Tal como Ponteciana, Beatriz António, 29 anos, é uma jovem determinada em sair da condição de analfabeta. Por isso, inscreveu-se no referido centro para aprender a ler e a escrever, depois de vários anos fora da escola.
Antiga residente na cidade de Luanda, onde vivia com a irmã mais velha, a jovem estudou apenas até à 2ª classe, por razões não reveladas. Mãe de uma filha, lembra que, depois de ter regressado a Mbanza Congo, sua terra natal, foi aconselhada pelo marido a retomar os estudos. Ciente dos benefícios que a escola traria à sua vida, não pestanejou em seguir o conselho do companheiro.Há três anos no centro, a jovem frequenta, neste momento, a 6ª classe. Os estudos vão prosseguir até que consiga ingressar na Função Pública.
Beatriz elogiou o empenho dos alfabetizadores, que mesmo auferindo subsídios bastante baixos, estimados em cerca de dez mil kwanzas, transmitem os conteúdos aos alfabetizandos com muita paciência e dedicação.
Patriotismo soa mais alto
Muitos alfabetizadores ingressaram no processo de alfabetização e aceleração escolar movidos pelo espírito patriótico.
É o caso de Eduardo Nimi Afonso, 22 anos, que lecciona há dois, no referido centro. O jovem professor sente-se orgulhoso por dar o seu contributo para o engrandecimento do país, ensinando muitos adultos a ler e a escrever.
Na sua perspectiva, trata-se de uma tarefa que requer paciência e dedicação, uma vez que ensinar a ler e a escrever a uma pessoa adulta é, em muitos casos, mais difícil, embora tenha considerado positivo o desempenho dos alunos, no centro Santo António. Eduardo Afonso revelou que as condições de trabalho ainda carecem de grandes melhorias, tendo por isso aproveitado para pedir às entidades de direito que desenvolvam esforços para alterar o quadro, dada a importância do processo para o desenvolvimento do país.
Mais alfabetizados
O director provincial da Educação do Zaire, Domingos Nkita Margarida, salientou que o número de cidadãos alfabetizados continua a crescer todos os anos, fruto do apoio financeiro que o processo recebe do Ministério de tutela. Este financiamento tem permitido o pagamento de subsídios aos alfabetizadores, que estão a dar vazão ao processo na região que, este ano lectivo, matriculou um total de 7.686 alfabetizandos e dispõe de 384 alfabetizadores.
Lançado, em 2007, o Programa de Alfabetização e Aceleração Escolar já alfabetizou 10.684 pessoas a nível da província.
Domingos Nkita Margarida disse existir um desequilíbrio de género nas escolas de alfabetização, sendo que as mulheres estão em maior número em relação aos homens. Este facto, que considerou preocupante, tem-se registado não apenas no Zaire, mas também noutras províncias, onde os homens demonstram uma certa vergonha de participar no processo de alfabetização. O Executivo está a fazer um esforço, em estreita colaboração com os parceiros sociais, nomeadamente Organizações Não-Governamentais, igrejas e partidos políticos, no sentido de se alcançarem resultados satisfatórios.
“Não temos estruturas físicas, como escolas equipadas para este sistema, mas estamos a trabalhar nas capelas e barracas, algo que é massacrante para o alfabetizador e alfabetizandos”, reconheceu.
O director provincial da Educação assinalou que só é possível ter comunidades activas e interactivas quando as pessoas sabem ler e escrever, dai que os esforços devam ser redobrados no sentido de fazer com que os cidadãos participem activamente no processo de alfabetização.Nkita Margarida realçou que o processo de alfabetização e pós alfabetização desempenha um papel importante no desenvolvimento comunitário, uma vez que os seus conteúdos dão às comunidades elementos científicos, técnicos e culturais capazes de estimular mudanças substanciais na consciência das populações.
Estas mudanças, reforçou, afectam directamente a forma colectiva da tomada de decisões e o aumento da produtividade.
Fonte: JA
Fotografia: Kindala Manuel