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    Fim de ciclo em Angola

    Pode ser precipitado dizer-se que é o fim da linha da supremacia do partido maioritário MPLA que governa o país vai para 46 anos… duas gerações! João Lourenço teve o benefício da dúvida. Mas a travessia do Rubicão não pode ser feita de piroga e, na melhor das hipóteses, navega-se à deriva.

    O combate à corrupção parece enviesado e ela persiste extensamente. Mudanças na política económica, na convivência do espaço político-partidário ou na relação com a sociedade civil criaram expectativas. Foi fogo fátuo. As eleições autárquicas são uma quimera e as legislativas e presidenciais do próximo ano recordam marteladas.

    O historial lamentável da Comissão Nacional de Eleições não augura nada de bom. As grandes empreitadas, geradoras de elevado endividamento e corrupção, mantêm-se. É uma mão estendida ao exterior tilintando dólares e euros. Os empresários clamam no deserto.

    As jogadas contra a sociedade civil e os partidos, com destaque para a UNITA, são rasteiras e rascas. A revisão da Constituição é um nado envergonhado. A propaganda voltou com o domínio dos meios de comunicação social. Vende-se um futuro risonho e censuram-se participações.

    O sistema de saúde, o saneamento básico ou a educação há muito que tiraram férias. Gustavo Costa em março de 2020 já alertava em ‘Palavra de honra: ou agora ou… adeus!’. O desalento transforma-se em desencanto, seja ele observado pelo prisma etário, profissional, político ou regional. A oposição e a sociedade civil vociferam. É assinalável o enorme descontentamento dentro ou nas periferias do MPLA.

    O logro que foi o esclarecimento sobre os acontecimentos do 27 de maio é paradigmático. E com que elite se pode fazer a mudança? Não é certamente com a que o recente Elite Quality Index 2021 da universidade de St. Gallen (Suí­ça) classifica a angolana: posição 143/151 países e no último nível de cinco possíveis, isto é, elites atrasadas. Como escreve no “Novo Jornal” de 10 de maio Alexandra Simeão da Ong Handeka, em “A morte da competência”, “a morte não é apenas de pessoas.

    Temos ainda a morte da consciência, da sabedoria, da ética, da honra, da liberdade para exercer cidadania, da compaixão, da ciência, do dever, da sanidade mental e da decência. A morte dos nossos direitos elementares.

    No limite, a morte da esperança sem a qual nenhuma nação sobrevive”. Dirão os responsáveis desta tragédia, glosando Mark Twain, que “as notícias sobre a minha morte são manifestamente exageradas”… o que, angolanizando, pode também querer dizer “e no final vence o algoritmo informático eleitoral”?

     

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