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    Eleições na Nigéria: Quem são os candidatos à presidência?

    Apenas três dos 18 candidatos a Presidente nas eleições na Nigéria têm uma hipótese realista de ganhar. O próximo Presidente do país mais populoso de África vai chamar-se Bola Tinubu, Atiku Abubakar ou Peter Obi?

    Na reta final da campanha para as eleições legislativas e presidenciais da Nigéria em 25 de fevereiro, o candidato do partido no poder All Progressives Congress (APC), Bola Tinubu e Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular (PDP) na oposição, desdobraram-se em comícios para mobilizar os votos e aumentar as suas hipóteses de ganhar uma corrida renhida à presidência.

    O candidato do Partido Trabalhista, Peter Obi, que lidera em quase todas as sondagens, preferiu recorrer às plataformas digitais onde mais facilmente chega aos seus seguidores, na maioria jovens urbanos.

    Conscientes das questões que irão dominar os votos, todos os candidatos prometem reavivar dar novo impulso a uma economia em crise, combater a corrupção endémica e reforçar a segurança.

    Bola Tinubu: “Chegou a minha vez”.

    O multimilionária Bola Ahmed Tinubu, governador de Lagos de 1999 a 2007, é um muçulmano da etnia iorubá oriundo do sudoeste do país. Co-fundador do APC em 2013 com o Presidente cessante Muhammadu Buhari, o septuagenário não esconde a influência que teve na eleição de Buhari.

    Mas agora, afirmou regularmente durante a campanha, “chegou a minha vez”. Apesar de enfrentar uma concorrência feroz, Tinubu tem a vantagem de ter à disposição o aparelho do Estado para mobilizar apoio para o partido no poder.

    A carreira política de Tinubu começou nos anos 90, quando se opôs ao regime militar na Nigéria. Passou muitos anos a construir alianças políticas, étnicas e religiosas em todo o país, antes de se candidatar a Presidente.

    Tinubu promete reforçar o exército para pôr fim à insurreição islamista que grassa no norte do país há 13 anos. Mas os eleitores já ouviram essa promessa por parte Buhari, que nunca a cumpriu.

    Tinubu deve também enfrenta acusações de corrupção e apropriação indevida de fundos, alegações que sempre negou. Até agora, com êxito, pois nunca foi formalmente acusado, apesar de documentos partilhados pelo Departamento de Justiça dos EUA datados de 1988, que mostram depósitos de lucros de venda de heroína em contas bancárias no seu nome.

    Um processo levantado por uma firma, há dois anos, foi resolvido fora do tribunal. Tinubu foi também ilibado por duas vezes pelo tribunal competente de acusações de violação do código de conduta dos funcionários públicos.

    O que não impede os opositores de Tinubu de utilizar as alegações como munição na batalha pela presidência, incluindo acusações de que esteve envolvido na compra de votos em 2019.

    Tinubu também se tem que defender contra suspeitas de que o seu estado de saúde é precário. Vídeos do candidato a fazer exercícios físicos foram suscitaram alguma troça. Mas os nigerianos receiam um chefe de Estado com problemas de saúde, tendo assistido às numerosas viagens que Buhari teve que fazer para obter tratamentos no estrangeiro.

    Tinubu nomeou para seu potencial vice-presidente Kashim Shettima, muçulmano e ex-governador do Estado de Borno, no Nordeste. A escolha almejou aliciar os eleitores do Norte predominantemente muçulmano. Mas a decisão perturbou muitos cristãos, que a consideram uma rutura com a tradição de uma lista que represente as duas fés.

    Atiku Abubakar: Fé na liberalização

    Esta é a sexta, e provavelmente última, tentativa do ex-Vice-Presidente Atiku Abubakar, de 76 anos, de aceder ao mais elevado cargo do Estado. O também multimilionário é um muçulmano oriundo do Norte e pertence ao grupo étnico fulani. Tratava-se do baluarte de Buhari, contra quem Abubakar nunca teve grandes possibilidades de ganhar. Mas com o atual Presidente fora da corrida após cumprir os dois mandatos consecutivos permitidos pela constituição, Abubakar espera agora sair vencedor no Norte, onde reside o maior bloco de eleitores.

    Mas o septuagenário irá provavelmente ter dificuldades em capturar o voto do eleitorado mais jovem num país onde a maioria dos quase dez milhões de novos eleitores recenseados este ano tem menos de 34 anos de idade.

    Para destacar a sua competência, Abubakar aponta para o seu mandato como vice-presidente entre 1999 e 2007. Na altura chefiou uma equipa económica que implementou com sucesso reformas nos sectores das telecomunicações, pensões e banca. Abubakar reivindica uma política que, segundo ele, criou emprego no país e fomentou o crescimento económico. Promete repetir o sucesso através de uma política de liberalização que permita ao sector privado desempenhar um papel mais importante na economia.

    Tal como Tinubu, Abubakar é alvo acusações de apropriação indevida de fundos e de compadrio que datam do seu tempo em cargos públicos, que nega igualmente.

    E tal como Tinubu, a solução de Abubakar a crescente insegurança é fornecer mais equipamento aos militares, que combatem uma insurreição extremista islâmica no Nordeste, rebeldes no noroeste e secessionistas no Sudeste, bem como bandos criminosos por todos o país.

    Abubakar escolheu Ifeanyi Arthur Okowa para seu vice. O atual governador cristão do Estado do Delta – a maior zona de produção de petróleo do país – é um cristão A campanha de Abubakar espera assim aumentar o apoio no Sul maioritariamente cristão. Mas governadores influentes no Sul não escondem a sua insatisfação com a nomeação de Abubakar para candidato, que veem como uma rutura com o acordo tácito de que depois de Presidente do Norte, teria chegado a vez de um Presidente do Sul.

    Peter Obi: Aposta nos Obi-dientes

    Peter Obi, do Partido Trabalhista, distingue-se dos dois outros concorrentes por ter a idade relativamente jovem de 61 anos. Obi apresenta-se como o candidato anti estabelecimento na esperança de angariar os votos dos jovens desiludidos com o status quo.

    O ex-governador do Estado de Anambra é muito popular entre a juventude urbana do Sul, duramente atingida por dificuldades económicas, desemprego e insegurança. Os seus seguidores autodenominam-se os “Obi-dientes”.

    Várias sondagens recentes veem Obi à frente na corrida. Mas os analistas advertem que estas sondagens são deficientes, pois muitos nigerianos recusam-se a revelar em quem vão a votar.

    Os observadores dizem que uma elevada afluência às urnas aumentará as chances de Obi. Mas o país que é notório pela apatia dos eleitores. Segundo a Comissão Eleitoral Nigeriana, apenas 35% dos eleitores recenseados foram às urnas em 2019. E são os jovens que menos votam.

    Obi é um cristão da etnia igbo, um grupo étnico do Sudeste que tem facões separatistas. Em 2019, concorreu como vice-Presidente na lista de Abubakar pelo PDO. Mas abandonou o partido, alegando que estava “desiludido” com o processo de nomeação.

    Obi aponta para o seu desempenho como governador de Anambra, que há dez anos registou um raro excedente orçamental. Afirma também que, ao contrário dos seus concorrentes, tem as “mãos limpas”, e nega a acusação contra ele levantada de que terá fugido aos impostos.

    O também milionário é mais um candidato que pretende modernizar as forças armadas. Defende ainda a necessidade de diversificar a economia a fim de reduzir a dependência do país dasreceitas de petróleo. E quer renegociar a dívida externa e criar condições para o sector privado prosperar.

    Obi disse estar convicto que, desta vez, os eleitores nigerianos vão renunciar às lealdades religiosas, étnicas e tribais que tipicamente garantem que os principais partidos vençam sempre eleições. Mas jogou pelo seguro e escolheu Yusuf Baba-Ahmed como seu vice, um economista e ex-senador do estado de Kaduna do Norte.

    Por Cristina Krippahl

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    FonteDW

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