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    Eduardo Mondlane: O arquitecto da unidade nacional de Moçambique

    Eduardo Mondlane lutou para que Moçambique fosse um país livre, unido e independente. Embora tenha sido assassinado antes da independência do seu país, o legado do primeiro presidente da FRELIMO continua vivo.

    Nascimento: Eduardo Chivambo Mondlane nasceu a 20 de junho de 1920, em Manjacaze, província de Gaza, no sul de Moçambique. Trabalhou como pastor até aos 10 anos de idade.

    Educação: Mondlane frequentou uma escola primária na Missão Presbiteriana Suíça, perto de Manjacaze. Mais tarde estudou Antropologia e Sociologia na África do Sul e fez também um passagem rápida por Portugal. Foi aqui que conheceu outros líderes da luta anticolonialista africana como Amílcar Cabral, que lutou pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, e Agostinho Neto, de Angola.

    Eduardo Mondlane completou os seus estudos nos Estados Unidos da América (EUA), onde obteve o seu doutoramento. Durante a sua estadia, Mondlane deu aulas na Universidade de Syracuse e integrou depois o Conselho de Curadoria das Nações Unidas, onde trabalhou como investigador de questões relacionadas com a independência dos países africanos. Entre outras coisas, Mondlane co-organizou o referendo dos Camarões britânicos, em 1961, que acabou depois por ditar a anexação de parte do território aos Camarões e outra parte à Nigéria.

    Reconhecido por: ter sido eleito primeiro presidente e co-fundador da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em Dar-es-Salam, na Tanzânia, em 1962. Foi este movimento que, após a morte de Mondlane, conseguiu a independência de Moçambique. Eduardo Mondlane foi um revolucionário pan-africanista, internacionalista e antropólogo e continua hoje a ser venerado por muitos por ter cultivado uma visão pragmática e unificadora de Moçambique.

    O académico foi autor de vários livros, entre os quais “Lutar por Moçambique”, lançado pouco depois da sua morte. É considerado um documento muito importante do movimento nacionalista.

    Morte: 3 de Fevereiro de 1969. Eduardo Mondlane foi assassinado em Dar-es-Salam quando abriu um pacote que continha uma bomba dentro. Alguns acusam os seus rivais na FRELIMO e a Polícia Internacional e de Defesa do Estado Português (PIDE) de serem responsáveis pela sua morte, mas, até hoje, o seu assassinato continua a ser um mistério.

    Eduardo Mondlane não viveu para ver o seu país tornar-se independente. Apesar de ter perdido a vida muito cedo, a sua visão e ideologia para Moçambique mantém-se viva. Prova disso é que é frequentemente referido como o arquitecto da unidade nacional do país, como lembra em entrevista à DW o jornalista moçambicano Luís Nhachote. “Esse é o grande legado de Eduardo Mondlane, é um legado nacional. Hoje há resquícios de alguns fragmentos por causa do tribalismo, mas ele conseguiu isso”, assevera.

    Também para o sociólogo Elísio Macamo é importante frisar o empenho que Eduardo Mondlane teve na busca pela união do seu país. É alias por isso, constata, que Mondlane vai continuar a ser lembrado. “A imagem que eu tenho dele é naturalmente a imagem de um politico muito pragmático, muito tolerante e um político verdadeiramente comprometido com o projecto nacional. Um aspecto muito importante em relação à sua maneira de fazer política é que ele viu o movimento de libertação como uma espécie de igreja ampla dentro da qual caberiam várias sensibilidades políticas e ideológicas”, diz.

    Foi em 1957, quando começou a trabalhar nas Nações Unidas como investigador de assuntos relacionados com a independência dos países africanos, que o nacionalista moçambicano voltou a sua atenção para a opressão que crescia no seu país. “A unidade de Moçambique na concepção da Frente de Libertação de Moçambique deve-se a Mondlane. Ele era funcionário das Nações Unidas e deixou a organização para atender ao convite de alguns nacionalistas que queriam libertar Moçambique”, conta o jornalista Luis Nhachote.

    Eduardo Mondlane muda-se então para a Tanzânia, onde, em 1962, se torna um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). “Na [Tanzânia], ele encontrou três movimentos dispersos: o UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), a MANU (Mozambique African National Union) e a UNAMI (União Nacional Africana de Moçambique Independente). Sendo Eduardo Mondlane um antropólogo e sociólogo com grau de doutoramento nos Estados Unidos, percebeu que a maneira mais rápida da causa da luta ser justa e mais consistente era unir os três movimentos”, conta Luis Nachote.

    Para além de um legado incontornável, Eduardo Mondlane deixa também vários livros. Lançada um pouco depois da sua morte, a obra “Lutar por Moçambique” tornou-se rapidamente uma espécie de manifesto para o movimento de libertação.

    “Moçambique é visto como o culminar de um processo e é um influenciado por todo o tipo de correntes. É influenciado pela cultura africana e pelo contacto que a cultura africana tem com outras culturas, mas sobretudo com ideias, portanto, a ideia da dignidade humana é muito importante e ela é bem descrita neste livro “Lutar por Moçambique”, diz Elísio Macamo.

    A Universidade de Lourenço Marques, em Maputo, capital de Moçambique, cujo nome foi dado pela administração portuguesa, passou a chamar-se Universidade Eduardo Mondlane depois da independência do país, em 1975.

    O parecer científico sobre este artigo foi dado pelo historiadores Lily Mafela, Ph.D., professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projecto “Raízes Africanas” é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

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    FonteDW

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