Quarta-feira, Maio 1, 2024
15.4 C
Lisboa
More

    Desemprego cresce em Portugal, mas poucos cidadãos dos PALOP pedem repatriamento

    Em Portugal, o desemprego aumentou devido à pandemia de Covid-19, mas são poucos os cidadãos dos PALOP a pedir apoio financeiro para o repatriamento, diz OIM. Processos de legalização estão atrasados.

    Didier Vilela está há três anos em Portugal. Estava a estudar em Bragança, já no terceiro ano da Faculdade. Mas a doença da mãe obrigou o jovem oriundo de São Tomé e Príncipe a vir para Lisboa procurar trabalho na área da mecânica. O salário que ganhava ia quase todo para consultas e medicamentos. Entretanto, o surto do novo coronavírus alterou tudo.

    “Estava a trabalhar a recibos verdes. Quando há trabalho é que me chamam. Depois, por causa da pandemia, já não havia trabalho e fui dispensado”, conta. E porque descontava todos os meses 20% do seu salário, o jovem são-tomense recorreu à ajuda da Segurança Social, mas até agora está à espera, sem nenhuma resposta.

    Apesar das dificuldades por que passa, devido também à saúde da mãe, tem fé em voltar a trabalhar e continuar os estudos na área da Engenharia Eletrotécnica de Computadores. Para já, põe de parte recorrer à ajuda da Organização Internacional das Migrações (OIM) para regressar a São Tomé. “Tenho a minha mãe cá doente. Ela veio da Junta Médica. Por enquanto, está fora de questão essa possibilidade de regressar”, explica.

    Legalização atrasada

    Dilma Varela Moreira, natural de Cabo Verde a viver há dois anos em Portugal, teve mais sorte. Embora enfrente algumas dificuldades, mantém o emprego como empregada doméstica. Apenas lamenta os efeitos sociais do surto da pandemia, que afetaram o seu processo de legalização, através da Associação Apoio Imigrante.

    “Sim, estava tudo orientado, só que dez dias antes telefonaram-me do SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] a dizer que por causa da pandemia a minha marcação ia ser cancelada. E agora já estão a tentar remarcar. Estou aqui na Associação Solidariedade Imigrante para tirar os outros documentos que são precisos, que é para eu ir lá”, conta à DW.

    Para já, a jovem cabo-verdiana também não tem motivos fortes que a levem a regressar ao país natal, porque quer retomar os estudos – é esse o seu sonho. “Está fora de questão. Graças a Deus tenho o meu trabalho. Acho que vou continuar, quem sabe regressar aos meus estudos para continuar com a minha vida”, suspira.

    Desemprego cresce em Portugal

    De acordo com a OIM, a pandemia de Covid-19 está a afetar a economia e a sociedade de forma transversal, incluindo as comunidades de imigrantes radicadas em Portugal, que também estão a ser atingidas pelo desemprego. No entanto, segundo Luís Carrasquinho da OIM, ainda são poucas as inscrições de elementos das comunidades africanas no Programa de Retorno Voluntário.

    “Em 2020, até à data, inscreveram-se 383 migrantes no Programa de Retorno Voluntário. 78 regressaram aos países de origem. Em 2019, considerando o mesmo período de tempo, até maio, tínhamos 273 pessoas inscritas e 42 pessoas retornadas”, informa.

    Das comunidades africanas, nomeadamente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), já existem dois pedidos de retorno voluntário contra os 14 de 2019 – conta Luís Carrasquinho, ponto focal para o apoio ao retorno voluntário e à reintegração da OIM em Portugal.

    Nos primeiros cinco meses do ano, o desemprego em Portugal subiu de 6 para 10%, afetando 392 mil pessoas, das quais 76 mil são fruto do coronavírus, o correspondente a cerca de 22%.

    Portugueses em África

    Por causa da pandemia, o desemprego poderá forçar muitos portugueses a procurarem alternativas de emprego noutras paragens, nomeadamente em África. A previsão é de Jorge Fonseca, fundador da consultora George Career Change, que aponta Angola e Moçambique como potenciais destinos para desempregados portugueses.

    “Angola e [outros] países de África, tirando a África do Sul – tirando casos pontuais –, precisam de mão-de-obra qualificada e muitos portugueses poderão ter funções de destaque a apoiar economias em desenvolvimento”, analisa Jorge Fonseca.

    “Em Angola e Moçambique, assim como em diversos outros países de África, deverá continuar a haver boas oportunidades para quadros séniores portugueses, dado que esses países apresentam grandes carências de quadros de gestão, mesmo com a forte queda do preço do petróleo nos últimos meses”, refere uma nota da consultora George Career Change.

    Publicidade

    spot_img
    FonteDW

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Portugal: “Reparação às ex-colónias está a ser feita”

    O Presidente português disse que a reparação às ex-colónias está a ser feita através da cooperação portuguesa com as...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema