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    Crédito informal: Kixiquila financia novos negócios e o pequeno empreendedorismo

    Financiamento é dado a um grupo, um pouco à imagem de algumas iniciativas de micro-crédito, e os integrantes vão recebendo a sua quota à vez. Mecanismo de apoio é também utilizado para acudir emergências e situações imprevistas. Neste caso assemelha-se a uma solução popular de segurança social para quem não tem acesso a protecção social.

    A kixikila, como é conhecida popularmente, é uma prática antiga mas ainda muito comum. Consiste em juntar um grupo de amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho ou simplesmente conhecidos, com todos os integrantes a descontarem mensalmente a mesma quantia para o bolo total, que entregam a um responsável, que depois reparte pelos integrantes do grupo, um em cada mês, repetindo o processo até que todos tenham recebido a sua quota.

    Imaginemos 30 pessoas que todos os meses entregam 1.000 Kz para o grupo. Cada um dos integrantes vai receber, no seu mês, 30.000 Kz. É uma forma de estimular a poupança colectiva, sendo que nos mercados informais é também utilizada como forma de financiamento para quem pretende começar um negócio ou aumentar o que já tem. Nos mercados de Luanda, a kixikila é uma das únicas alternativas para quem precisa de capital para potenciar o seu negócio.

    A responsável pela gestão do bolo é conhecida como “mãe” e todos os outros integrantes do grupo são conhecidos como filhos/as. Dada a complexidade dos mercados informais, nestes casos a lista de integrantes não pode exceder os 25 membros, que têm de pertencer à mesma fila de venda, o que significa vender o mesmo tipo de produto. Cada vendedora entrega mensalmente entre 500Kz a 2.000 Kz (para negócios com baixa margem de lucro) e 4.000 Kz a 10.000 Kz para as vendedoras que gerem negócios mais rentáveis.

    Informal mas bem organizado

    Júlia Tomás é “mãe” em jogo de kixiquila no mercado do São Paulo, em Luanda. Há alguns anos que é responsável por recolher diariamente 4.000 Kz às 25 jogadoras de uma das filas de venda de sapatos femininos. Em entrevista, contou ao Expansão que o “jogo” sempre serviu para alavancar o negócio das vendedoras e tem contribuído igualmente para que elas consigam alcançar a estabilidade financeira. “Por sermos muitas a nossa kixiquila não pode durar um mês. A contribuição dura apenas dois dias e cada pessoa recebe 200.000 Kz. Quando todas recebem, voltamos a recolher. Se contássemos apenas com a venda das nossas mercadorias, neste momento não teríamos nada, a kixiquila ajuda muito”, explica.

    Júlia disse ainda ao Expansão que o jogo, nestes últimos anos, muito por conta da crise que o País enfrenta, funciona também como um crédito. As beneficiárias são as vendedoras que não têm a possibilidade de participar, mas que precisam do dinheiro para começar o próprio negócio ou até mesmo para acudir uma situação de emergência. Trata-se, na maioria dos casos, de empreendedoras que, tendo o desejo de comprar o próprio negócio, solicitam à responsável um empréstimo. Esta solicitação deverá ser aprovada por todas as integrantes do grupo, ou seja, por unanimidade. A comerciante deverá ser conhecida por todas, tal como a sua patroa, que em alguns casos funciona como uma espécie de avalista.

    Na prática, este valor (poupança) de todas, passa a ter contornos de investimento, rentabilizando assim a actividade de uma nova associada que passa a fazer parte do grupo. Esta vendedora passa também a contribuir, sendo que o valor a receber por cada uma também aumenta.

    Empréstimo

    Nanda Jardim é mãe de três filhos e vende no mercado do São Paulo há seis anos. Solicitou um empréstimo quando o primeiro negócio que fazia, no mercado do Pepe no bairro 11 de Novembro, faliu e ficou sem nada. A avalista foi a sua irmã Marta, que na altura vendia no mercado do São Paulo. “Quando cheguei aqui não tinha dinheiro para fazer negócio e ninguém me conhecia, foi a minha irmã que me trouxe e que me apresentou à responsável. Recebi o empréstimo. A kixiquila é uma forma que encontramos para comprar as nossas coisas e para o negócio não ir abaixo. Além da casa que tenho, onde vivo com a minha família, tenho também alguns terrenos que consegui comprar com o jogo. Mas os terrenos não são grandes”, disse, com um sorriso nos lábios.

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