O gestor António Costa Silva considerou hoje que o Presidente angolano, João Lourenço, precisa de “rasgos” em termos de política interna para evitar uma “grande instabilidade” no país.
“A combinação do declínio das receitas petrolíferas, deterioração da situação económica do país, as expectativas que podem não ser preenchidas, ou totalmente preenchidas, na luta contra a corrupção, cria uma combinação tóxica”, explicou o gestor, autor do documento-base para o plano de recuperação da economia portuguesa para 2020-2030 e especialista na área do petróleo.
“São esses sinais, que vindos da liderança, depois podem mudar a conjuntura do país”, considerou o gestor em entrevista à Lusa a propósito dos 45 anos da independência do país onde nasceu, que se celebram no próximo dia 11.
Agora, “se a liderança se isolar progressivamente, se não construir estas plataformas colaborativas, se não conseguir agregar vontades”, o executivo “pode rapidamente perder o resto das expectativas e da boa vontade que existe no país”, sublinhou.
Para Costa Silva, o Presidente João Lourenço “é uma pessoa que veio do próprio MPLA, conhece muito bem qual é a situação, e resolveu escolher um caminho”, deu um passo na “luta contra a corrupção, que é essencial”. Mas “é evidente que os desafios são colossais”
É necessária “a mudança de um paradigma mental que existe no país, que é um país rendista, que sempre viveu à conta das rendas do petróleo, sem grande necessidade de fazer sacrifícios para diversificar a economia”, avisou o gestor.
Nos últimos anos, Luanda apostou em novas descobertas petrolíferas nas águas profundas, na esperança de que a costa angolana fosse semelhante ao litoral brasileiro, o que não sucedeu.
“Em função desse erro, as descobertas não ocorreram e a produção petrolífera começou a declinar. No ano passado, foi à volta de 1,37 milhões de barris por dia, quando em 2015 quase chegou a 1,8 milhões de barris por dia, portanto é um declínio de 24% em quatro a cinco anos”, acrescentou.
Para o gestor, que é também presidente da empresa petrolífera Partex, “isto mostra claramente que o futuro de Angola não pode ser o petróleo”.
Por isso, será “muito importante que, quando a economia se reativar e os preços [do petróleo] recuperarem, usar essas receitas para diversificar a economia e desenvolver ouros setores, como o agrícola, absolutamente fundamental para o país. Até porque Angola importa a maior parte dos bens alimentares que consome, o que é um paradoxo em si, porque tem solos que são extremamente ricos”, apontou.