A grande novidade desta auditoria não será tanto a situação de “falência técnica”, que já fora confirmada ao PÚBLICO em Maio de 2009, pelo então presidente Filipe Soares Franco, mas o valor preocupante dos capitais próprios negativos (diferença entre activo e passivo) do grupo leonino. Só como ponto de comparação, segundo o presente relatório, em 1999, este valor era de 11,7 milhões de euros positivos. Algo que os oficiais de contas explicam com evidências de “uma estrutura financeira desequilibrada usualmente denominada como falência técnica em termos consolidados”.
O relatório, que analisou a evolução da situação patrimonial do grupo Sporting entre 1 de Agosto de 1998 e 26 de Março de 2011, demonstra um acréscimo de 217 milhões de euros das dívidas de financiamento (a uma média de cerca de 20 milhões por ano). Por outro lado, o endividamento bancário cresceu “com valores mais expressivos, sobretudo, a partir de 2001” (ano em que arrancaram as obras no novo Estádio José Alvalade e do Complexo Alvalade XXI), e atingiu um valor máximo de 277 milhões de euros em 2006. Este montante “foi praticamente retomado em 2011”, após a emissão de 55 milhões de obrigações cenvertíveis em acções (VMOC), que se vencem em 2016. “Nesta data, o Grupo Sporting terá de equacionar a sua posição de controlo sobre a SAD”, lembram os auditores, advertindo que o património imobiliário se encontra “hipotecado, servindo de garantia aos empréstimos contratados”.
Para alguns sócios sportinguistas contactados pelo PÚBLICO que têm acompanhado a situação financeira do clube dentro e fora das últimas direcções, esta auditoria terá precisamente como objectivo preparar os sócios para a alienação da maioria de capital da sociedade que gere o futebol profissional. Para um ex-dirigente do clube, esta será mesmo a única razão que motiva a apresentação de um relatório como este, numa conjuntura global de crise, que poderá dificultar ainda mais o acesso do clube ao crédito bancário.
“Esta auditoria financeira pode ser usada como o derradeiro argumento para a desestruturação do Sporting enquanto associação desportiva, com a venda da SAD a um investidor, que provavelmente é a via defendida da actual direcção”, argumentou também João Mineiro, economista, que encabeçou uma lista ao Conselho Fiscal do clube nas últimas eleições. “O problema causado por muitos dos actuais responsáveis é depois apresentado como justificação para um objectivo que eles agora têm”, prosseguiu, considerando vital que esta auditoria financeira ganhe relevância com uma “auditoria de gestão”: “Temos de entender quais foram os erros e as responsabilidades para perceber porque chegámos aqui.”
Fonte: Publico