O antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, defendeu ontem, em Luanda, a via do diálogo para a solução das crises políticas em África e sublinhou que não se deve copiar o que se passa no Norte do continente.
“Temos de procurar meios para o diálogo, em que se conheçam os interlocutores”, disse Joaquim Chissano, ao responder a perguntas da plateia depois de ter apresentado, no I colóquio sobre a história do maior partido de Angola, uma comunicação sobre “o papel do MPLA e da Frelimo na libertação da África Austral”.
Joaquim Chissano salientou também a educação da população e maior confiança entre os partidos políticos para se evitarem os conflitos pós-eleitorais em África.
O antigo Chefe de Estado moçambicano referiu a cultura de uma oposição construtiva como uma das soluções e frisou que democracia significa aceitar a diferença e respeitar as instituições, incluindo as que regem os processos eleitorais.
O desenvolvimento das democracias, disse, deve ser igualmente acompanhado pelo desenvolvimento económico, humano e das instituições. “Democracia não é só no dia das eleições”, lembrou para advogar também a democracia dentro dos partidos políticos.
O antigo Presidente de Moçambique criticou os que antecipam a ideia de fraude antes da realização das eleições e referiu que os conflitos eleitorais “existem em quase todo o mundo, incluindo nas democracias mais antigas”, mas que as circunstancias não são as mesmas em todos os países. Chissano criticou a forma como a democracia foi imposta pelo Ocidente em alguns países africanos, que ainda não estavam preparados para o multipartidarismo.
Sobre a situação no Zimbabwe, disse ser “a possível” solução encontrada, com a formação de um governo de unidade nacional entre a ZANU-PF e o MDC, de Morgan Tsvangirai. “Conseguimos que no Zimbabwe não houvesse guerra”, declarou Joaquim Chissano.
Em relação a Madagáscar, que vive uma crise política, garantiu que “a situação está melhor do que antes”, apesar de o país estar ainda sob sanções da União Africana.
Joaquim Chissano salientou o papel desempenhado pelo MPLA e pela Frelimo na luta de libertação nacional em Angola e em Moçambique e a contribuição dada, após as independências, ao processo que levou também à independência do Zimbabwe e da Namíbia e à abolição do apartheid na África do Sul.
O MPLA e a Frelimo, disse, não desempenharam o seu papel libertador só para a África Austral, apoiaram igualmente a luta dos povos vietnamita contra a agressão e ocupação norte-americana, o povo português contra o fascismo, o povo chileno e outros. Joaquim Chissano acrescentou que o êxito das lutas de libertação no Zimbabwe, na Namíbia e na África do Sul prova que as reflexões e decisões que foram tomadas pelo MPLA e pela Frelimo, enquanto movimentos de libertação, foram as mais correctas.
Maior intercâmbio
Ao discursar em nome do Presidente do MPLA, na abertura do colóquio, o secretário-geral do partido, Julião Mateus Paulo Dino Matrosse, defendeu maior intercâmbio entre os partidos de países irmãos, que contribuíram para a conquista da soberania dos Estados da África Austral.
Dino Matrosse advogou a elaboração da história dos antigos movimentos de libertação da África Austral, que aprovaram o roteiro para a preservação da memória colectiva da região, a fim de garantir a sua perenidade no tempo, sobretudo na divulgação, junto das novas gerações, do passado heróico de luta.
Com a realização do colóquio, afirmou, o MPLA pretende consolidar e renovar o desafio, no interesse de continuar a ser um partido do povo para o povo, promotor da paz, do aprofundamento da democracia e do desenvolvimento.
A historiadora e ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, que falou sobre o tema “MPLA – A luta clandestina a principal arma para a sua constituição e expansão”, recordou que aquele partido emergiu no seio das organizações que fizeram da clandestinidade um meio eficaz no processo de luta política.
O colóquio prossegue hoje com a apresentação de outros temas. Participam no encontro representantes de Portugal, Moçambique, Estados Unidos, Cuba, Brasil, Rússia e Itália.
Fonseca Bengui
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: Santos Pedro