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    Centralidades do Zango e Cacuaco sem água e luz eléctrica

    Foto (opais.net)
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    Os cidadãos que conseguiram realizar o tão almejado sonho da casa própria ao receberem as chaves de um dos imóveis disponíveis na centralidade de Cacuaco, dizem estar desapontados com o Executivo, pelo facto de estarem a ser cortados do direito de beneficiar do fornecimento de água potável e energia eléctrica.

    O silêncio que se registava na parte norte da rua 2 daquela centralidade na manhã desta terça-feira, 28, por volta das 11horas e 15 minutos, foi quebrado pelo enorme ruído de um gerador que tentava a todo o custo proporcionar aos seus utentes a possibilidade de assistirem televisão e manter a arca em pleno funcionamento.

    A “máquina velha” denunciava escassez de óleo no motor, emitindo barulho ensurdecedor, como se estivesse clamando ao seu proprietário que fosse desligá-lo para não gripar.

    Minutos depois, eis que surge um adolescente trajado de calção, camisola e descalço, com um certo ar de tristeza, que desligou o que se encontrava no passeio de um dos edifícios.

    A dona de casa África dos Santos, que está entre as dezenas de jovens que mudaram-se recentemente para a centralidade, depois de terem pernoitado em frente à loja do Sonip, contou a O PAÍS que aquele era o cenário que vivem todos os dias.

    “Tem sido bastante complicado viver nestas condições pelo facto de sermos obrigados a ligar o gerador todos os dias, não só para proporcionar aos nossos filhos a possibilidade de se divertirem como também para conservar os bens alimentares perecíveis”, frisou.

    Ela confessou que apesar de estar consciente dos riscos que corre ao passar a noite com esta fonte alternativa de energia em pleno funcionamento, ainda que na parte exterior do imóvel, não vêm outra solução. Para conseguir intervir em caso de alguma anomalia, o casal opta por não desfrutar de um sono profundo.

    A nossa interlocutora disse que só mudaram da casa de renda em que residiam na comuna do Zango para a nova, porque o seu esposo havia recebido a garantia dos funcionários da Sonip, no dia em que recebeu as chaves, que tanto a energia eléctrica como a água seriam restabelecidas dois dias depois, mas nada disso aconteceu até agora.

    “Desde que cá estamos, nunca apareceu ninguém para nos dizer quanto tempo mais iremos continuar nesta situação. Soube de um vizinho que a imobiliária descartou qualquer responsabilidade sobre a falta destes bens preciosos, alegando que são da competência da Edel e da Epal”, contou.

    À semelhança de África dos Santos, os novos inquilinos do Estado (por estarem a adquirir às residências, na modalidade de renda resolúvel), são unânimes em afirmar que os custos de vida aumentaram deste que mudaram para lá devido aos gastos diários com a compra de combustível, quando na verdade ansiavam por uma redução.

    “Estou aqui há um mês e durante este período passei a gastar mil e 200 Kwanzas todos os dias só com a compra de gasolina, o que perfaz um total de 36 mil Kwanzas. Sem ter ainda em conta os custos que os cerca de oito quilómetros que separa a centralidade da bomba de combustível mais próxima provoca ao automóvel, tendo em conta que há ocasiões que em fizemos este percurso simplesmente com este objectivo”, declarou.

    PERIGO IMINENTE

    Foto (opais.net)
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    De modo a melhor ilustrar o perigo  que passam, a nossa interlocutora explicou que no período na noite o desvio da via expresso para a centralidade de Cacuaco fica totalmente às escuras no princípio e que só depois do seu utente percorrer metade da distância é que se depara com iluminação pública.

    Segundo ela, a parte iluminada é assegurada pelos geradores industrial do estaleiro da empresa chinesa encarregue das obras e, após passar por esta zona, segue-se novamente uma área totalmente escora até o interior da cidade.

    Este cenário acabou por sofrer uma ligeira alteração, pelo facto de os chineses terem se encarregado de transportar vários grupos de geradores, para determinados pontos da cidade, para manterem a iluminação pública em pleno funcionamento.

    “O que mais nos preocupa é que até agora não recebemos nenhuma explicação sobre a falta de água e de luz eléctrica e nem soubemos de concreto onde devemos apresentar as nossas reclamações, tendo em conta que aqui só existe uma loja da Sonip e as pessoas que ali funcionam se recusam a prestar qualquer informação”, declarou.

    A existência de contentores e postes de betão armado no meio da via, a estreitarem-na para evitar a circulação de camiões no asfalto, é ainda descrita, pela estudante universitária, como sendo uma das coisas que mais aumenta o perigo.

    “Normalmente chego da escola às 21horas e para tentar inibir qualquer tentativa de assalto uso uma dinâmica que considero ser incrível, pois coloca-me perante o dilema de acelerar de mais e arricar embater nos dos objectos postos no meio da estrada ou conduzir  devagar correr  o risco de ser assaltada”, desabafou.

    Ela disse ainda que quase todos os finais de semana há pessoas que estão a mudar-se para lá, mas o número  de residentes seria bem maior caso estivesse resolvido o problema da distribuição de água e de energia eléctrica.

    Para colmatar a carência do precioso líquido,  ela contou que acorrem a  bocas-de-incêndio que estão a escassos metros da loja da Sonip ou, de vez em quando, aos camiões da construtura chinesa destinados à rega dos jardins. “Olha, se os senhores jornalistas tivessem chegado mais cedo poderiam nos encontrar a acarretar água  de um camião. Agora imaginem só uma coisa, se eu que vivo no rés-do-chão considero esta actividade bastante penosa, imaginem o sofrimento daqueles que estão no quarto andar”, opinou.

    Por outro lado, África dos Santos mostrou-se bastante preocupada com a ausência de uma administração na centralidade, contrariamente ao que ocorre na Cidade do Kilamba, pelo facto de necessitar de realizar algumas remodelações no interior do seu imóvel que está localizado no rés-do-chão de um dos edifícios, como pintura do interior.

    Na falta de quem autorize, a moradora optou por tomar algumas medidas de precaução,como gradeamento dos acessos, para evitar que fique à mercê dos amigos do alheio, depois de ter sido informada pelos chineses de que tem havido assaltos às residências.

    CLIENTES INIBIDOS PELA SITUAÇÃO

    Foto (opais.net)
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    Apesar de a Sonip já ter efectuado a entrega de mais de 500 apartamentos e os actuais ocupantes estimarem que todo o fim-de-semana pelo menos uma nova família muda-se para lá, a centralidade de Cacuaco ainda se encontra quase às moscas.

    Na manhã desta terça-feira, a equipa de reportagem de O PAÍS deparou-se com cerca de cinco indivíduos, diante da loja da Sonip, que haviam se deslocado para lá com o intuito de se inteirarem da situação dos serviços de distribuição de água e energia eléctrica.

    “Já recebi as chaves há cerca de um mês e meio, mas ainda não mudei porque, no meu ponto de vista, a centralidade ainda não tem as condições básicas de habitabilidade e não estou disposto a submeter a minha família a estes sacrifícios”, contou um dos presentes que só aceitou falar à nossa reportagem sob a condição de anonimato.

    O jovem contou que, na altura em que assinou o contrato, indagou a funcionária da Sonip sobre a situação do fornecimento destes dois bens de primeira necessidade, mas ela não conseguiu precisar.

    Contrariamente à sua vizinha, o jovem considera que os proprietários dos imóveis devem é contactar a Sonip e não a Epal ou a Edel, como algumas pessoas sugerem, por ser ela quem está a vender os imóveis em nome do Estado.

    Embora não tenha a certeza do que se está a passar, de concreto, o nosso interlocutor disse que circula a informação de que este atraso deve-se ao facto de a imobiliária não ter procedido, atempadamente, à entrega da planta de instalação à Edel.

    Diante desta situação, ele declarou que não viu outra solução a não ser prolongar por mais algum tempo a sua permanência na casa que arrenda, o que o levou a alterar os seus planos e a gastar mais uma elevada soma monetária com o pagamento de mais rendas.

    “Estou a gastar desnecessariamente um dinheiro que não estava no plano e que se calhar estaria a juntar para pagar a segunda parcela da renda resolúvel, cujo prazo final está marcado para 31 de Março próximo. Neste momento, já estou a ser prejudicado por não desfrutar de todos os meses que paguei a renda resolúvel aqui”, concluiu.

    Na centralidade “Vida Tranquila”, localizada na comuna do Zango, os novos moradores deparam-se com o problema da falta de água canalizada e, para suprir esta dificuldade, são frequentemente abastecidos por camiões cisterna da construtora chinesa. De acordo com uma moradora, os camiões abastecem um prédio, por dia, o que leva os habitantes a terem que reservar a maior quantidade deste precioso líquido possível. Por esta razão, alguns moradores optaram por instalar, nas varandas dos edifícios, tanques de água de até cinco mil litros e uma electro-bomba, independentemente do andar que ocupam.

    AADIC DEFENDE OS MORADORES

    Desesperados por não receberem nenhuma explicação plausível da Sonip sobre o prazo para a normalização dos serviços de energia eléctrica e água potável, alguns beneficiados, filiados da Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC), solicitaram a intervenção dos peritos desta organização para avaliarem o caso e intervirem junto da imobiliária.

    O vice-presidente da AADIC, Lourenço Texas, revelou que os moradores haviam sidos informados pelas duas empresas públicas a cima mencionadas, que ainda não haviam recebido as plantas da centralidade das mãos dos directores da Sonip”, frisou.

    “Estamos perante uma situação que é bastante preocupante, porque,  a Sonip,  ao celebrar os contratos com os clientes,  devia proceder à entrega das chaves com estes serviços já incorporados. Ao saber que não estava em condições de proporcioná-los, deveria  informar que as obras ainda não tinham terminado”, defendeu.

    Na esperança de ver o problema resolvido, a associação enviou uma reclamação à imobiliária, no dia 13, na qual pedia que fosse transmitida uma informação plausível aos seus filiados que já receberam os imóveis, mas até ao dia de fecho da presente edição, isto é, na quinta-feira 30, ainda não haviam recebido nenhuma resposta.

    No documento que tivemos acesso, a associação defende que é da competência e responsabilidade da Sonip (na qualidade de fornecedora), garantir aos seus clientes a entrega dos bens imoveis em condições de habitabilidade efectiva e com a qualidade que se espera, sendo que estes serviços básicos e indispensáveis, garantem a saúde e vida de qualquer ser.

    “Sem estes serviços, a instituição vendeu os imóveis incompletos, ou seja, sem todas as condições de habitabilidade. Deste modo, estavam impróprios para a venda e ao fazê-lo cometeram o crime de prática abusiva, previsto e punível por lei (…)”, lê-se no documento.

    Na denúncia consta ainda que a falta de energia eléctrica atenta contra a integridade física dos moradores por eles terem acreditado, no momento em que se candidataram a um dos imóveis, que entrariam em novas residências com melhores condições de vida, em relação ao lugar onde viviam.

    Os defensores dizem ainda que depois de terem analisado os Contratos Promessa de Compra e Venda a renda resolúvel, constataram que não há nenhuma cláusula que informa aos compradores que os serviços de água e energia eléctrica só seriam integrados meses após a sua ocupação efectiva, o que também constitui num crime. PAULO SÉRGIO (opais.net)

     

     

     

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