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    Casas pagas no Jardins do Éden sem terrenos

    Além daquelas pessoas que não têm as suas casas acabadas, outros clientes do projecto imobiliário Jardins do Éden que terão pago na totalidade ou a maioria do valor das suas residências dizem não que conhecem sequer os terrenos onde elas seriam erguidas.

    O funcionário público António Neto é um dos lesados. Pagou mais de 70 por cento de uma residência que custava há quatro anos pouco mais de 90 mil dólares, mas até ao memento nem tem noção de onde será o espaço em que um dia virá a morar, caso a casa seja levantada como prometido.

    Até 2007 o cliente já havia liquidado mais de 60 mil dólares norteamericanos, mas foi informado recentemente por um funcionário da Ridge Solutions, a proprietária do projecto Jardins do Éden, que nem sequer tinham um espaço para o seu imóvel.

    “No acordo que fizemos estava previsto que eles entregariam a casa em um ano. E só com a chave na mão é que poderia liquidar os restantes 20 por cento”, explicou António Neto, realçando que “por ironia do destino, hoje, passados quatro anos, nem sequer conheço o terreno onde ela será construída um dia”.

    Documentos em posse de O PAÍS apontam como os critérios para a aquisição de uma moradia passam pelo pagamento de dois por cento do valor para se ter acesso ao contrato e no prazo de três meses, que corresponde ao período do início das obras, o cliente deve liquidar 50 por cento do total.

    O futuro morador do Jardins do Éden tem ainda um ano para pagar os 48 por cento em falta, que eram depositados nos principais bancos comerciais do país. Segundo o referido critério de aquisição, a moradia é entregue nos 14 meses seguintes.

    A situação vivida hoje por António Neto contrasta duramente com a que lhe foi apresentada pela direcção do projecto imobiliário. Ele está à espera há quatro anos e ainda não se vislumbra o dia em que poderá receber a sua moradia.

    Situação semelhante está a viver a família Januário que há cinco anos pagou na totalidade uma residência avaliada em 97 mil dólares para albergar a sua matriarca que vivia na província da Lunda-Sul.

    Para efectuarem o pagamento, a família teve de vender algum do património que possuía naquela localidade diamantífera para que tivessem a mãe ao lado, porque ela vive acometida por diversos problemas de saúde.

    “Veja bem que tivemos de nos desfazer de um bem para comprar outro.

    Queríamos ter a nossa mãe próximo de nós para que a pudéssemos assistir sempre que necessário”, contou um dos Januário, que também vive no Jardim do Éden, alertando que “a situação dela (a mãe) continua a piorar, mas nem sabemos o terreno onde poderá ser construída a casa e muitos menos o dia da sua recepção”.

    “O que é que um gajo pode fazer a estes tipos caso aconteça o pior com a nossa mãe?”, acrescentou o nosso interlocutor.

    Também agastada com a situação, a nora da senhora que se encontra doente informou que a mãe do marido pagou antes deles próprios terem feito o mesmo em relação à residência que ocupam actualmente no referido complexo imobiliário.

    Para ter acesso à sua casa, Paulinha, a nora, deslocou-se quatro anos depois aos escritórios da empresa Rigde Solutions, onde funciona José Ramos, para exigir dos seus responsáveis a devolução total dos 220 mil dólares dispendidos na aquisição do imóvel.

    A senhora e o marido tiveram mesmo de fazer alguma confusão e exigiam até que a direcção encabeçada por José Ramos pagasse os valores do arrendamento da casa onde viviam temporariamente, algures na Ilha de Luanda.

    “Só assim entregaram a casa. Mas inacabada, porque ainda tivemos de fazer muitas reformas. Eles apareceram semanas depois de organizarem as infra-estruturas e outras coisas que faltavam”, contou a senhora.

    Uma fonte da promotora imobiliária (ver caixa) revelou que existem alguns atrasos por causa da ocupação ilegal dos terrenos do projecto por alguns indivíduos desconhecidos, mas a sua instituição não tem poder para retirá-los do local.

    Uma retirada dos indivíduos, segundo apurámos, implicaria indemnização dos mesmos. Durante a expansão do projecto, a construção de 100 casas implicava a destruição de mil casas “anárquicas” que lá estavam, elevando para cerca de 30 milhões de dólares o valor gasto até agora na compensação aos moradores.

    Casas por concluir

    Não obstante as reclamações existentes, outros clientes têm as suas futuras casas inacabadas, assim como as infra-estruturas nas ruas onde estão situadas.

    A informação foi confirmada por uma cliente que teve a sorte de conseguir o seu imóvel por pertencer ao primeiro grupo de beneficiários. Os que compõem o segundo e terceiro grupo de clientes não teviram a mesma sorte e muitos deles nem sequer avançam um horizonte temporal.

    Acredita-se que no próximo mês de Março a direcção do projecto aposte forte na conclusão dos demais edifícios, assim como na construção de outros para beneficiar os compradores. Ainda assim, clientes ouvidos por este jornal acreditam que o projecto terá falido, uma informação desmentida por uma fonte da Ridge Solutions, a holding.

    A conclusão da primeira fase do complexo Jardins do Éden estava prevista para finais de Dezembro de 2010. Uma reportagem publicada pela revista Exame apresentou o condomínio como o primeiro grande projecto imobiliário do grupo, iniciado em 2005, com uma área de 300 hectares. A fase I englobava 2400 residências, cuja meta ainda não foi atingida sete anos depois. A fase II

    Fonte: OPAIS

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