Proveniente de uma família de desportistas, começou no basquetebol por insistência do pai. A princípio não gostava da disciplina e esteve quase a desistir, mas aprendeu cedo a levar as coisas a sério.
Quando começou a interessar-se por desporto?
A minha paixão pelo desporto começou desde que me conheço. Até que aos 12 anos senti uma vontade mais forte de começar a praticar alguma modalidade. Escolhi o basquetebol por influência do meu pai, que também foi jogador de basquetebol.
Começou logo a jogar como federado?
Sim, fui para o Petro, mas foi mais por insistência do meu pai. Não fui muito feliz no princípio porque não gostava de acordar cedo e também não conseguia levar aquela vida de ter de treinar todos os dias. Como não queria deixar de fazer as coisas a que estava habituado, faltava a muitos treinos, o que não é compatível com a vida de desportista. Preferia jogar na rua. Já com 13 anos comecei a encarar o basquetebol como uma coisa mais séria, o que acontece até aos dias de hoje.
Como reagiu a sua mãe quando se apercebeu que queria levar o basquetebol como profissão?
Reagiu bem porque já tinha o exemplo do meu pai, que tinha sido jogador. A minha própria mãe tinha jogado andebol, por isso sabia bem o que é a vida de desportista. Mas houve um período em que quase me obrigou a abandonar o basquetebol porque eu faltava a muitas aulas por causa dos treinos. Os horários coincidiam… Depois de algum tempo consegui conciliar as duas coisas até porque percebi que para se ser um bom jogador é importante ser bom estudante.
Lembra-se da primeira vez que vestiu a camisola da selecção? Qual foi a sensação?
Lembro-me muito bem da primeira vez que fui internacional sénior. Estava a estudar nos Estados Unidos, em 2005, quando recebi a chamada do treinador principal a perguntar se eu queria representar a selecção. Disse logo que sim e vim para Angola. Fiz os treinos e acabei por ficar na equipa. O primeiro jogo oficial foi contra a África do Sul e lembro-me que entrei muito nervoso, mas depois correu tudo bem. Ganhámos por muitos pontos e penso que a minha estreia foi em grande.
Qual foi o jogo mais difícil até hoje?
Foi o recente jogo contra os Camarões. Acho que todo o angolano amante de desporto sabe muito bem do que estou a falar. Foi um jogo em que a dez segundos do fim tínhamos tudo perdido. Nesses dez segundos nós tínhamos de recuperar a bola e ganhar o jogo, o que aconteceu _por um ponto. Foi o mais difícil _e o mais marcante da minha carreira até hoje.
Há quem diga que é muito mimado porque está sempre a chorar nos jogos, como aconteceu no último campeonato que Angola perdeu…
Sou mimado, mas não sou chorão [risos]. Por acaso algumas pessoas – ou praticamente todo o mundo – pensam que no último campeonato estive a chorar, mas não é verdade. Como transpirava muito – e como me tinha ferido no lábio –, quando fui para o banco de suplentes, ao limpar o suor, apenas limpei o suor dos lábios. Por isso fiquei com o rosto um bocado molhado na parte de cima e as pessoas olhavam para mim na televisão, se calhar com o reflexo das câmaras, e ficaram com a impressão que estava a chorar, mas não é verdade.
Não acha que as pessoas que choraram consigo naquele momento vão ficar desapontadas com a confissão?
Se calhar não estava a chorar por fora, mas estava por dentro, porque aquela situação deixou-me muito preocupado com a responsabilidade que tinha em cima. Os angolanos viveram aquele momento e sei que muita gente viveu-o comigo. Estava a chorar por dentro, mas não o podia demonstrar por causa dos adversários e porque tinha de me concentrar para fazer os lances livres…
Quantos títulos já conquistou com a selecção?
Três campeonatos africanos. A nível pessoal já fui uma vez o melhor ‘triplista’ de África, em 2009, na Líbia, e agora, no recente Campeonato em Madagáscar, fiz parte do cinco ideal, além de ter sido considerado o melhor extremo.
Não terem ganho o último campeonato foi uma enorme desilusão. Como viveram essa experiência?
Foi triste para nós, porque trabalhámos muito duro durante a preparação, sempre com o objectivo de chegar ao primeiro lugar, que nos garantia a participação nos Jogos Olímpicos. Tivemos muitos problemas e, apesar de termos dito que não ficámos afectados, a verdade é que esses problemas nos marcaram. A troca de treinadores, em pleno campeonato, abalou-nos e muito. Também alguns jogadores não estavam no seu melhor no que diz respeito ao estado físico. Mas não podemos ganhar sempre, temos é de aprender com os erros que cometemos para que não os repitamos nas futuras competições.
Que análise faz do basquetebol angolano?
Apesar do investimento de alguns clubes e do aparecimento de uma equipa nova, o Libolo, penso que está um bocado adormecido. Sinto que é preciso fazer alguma coisa para motivar os jovens a praticarem a modalidade por forma a que possamos, no futuro, ter selecções ganhadoras. Para que isso aconteça é preciso investir, é preciso encontrar pessoas com vontade de fazer crescer a modalidade. O basquetebol tem de continuar a dar grandes alegrias ao país.
O Carlos Morais que tem contribuído para as vitórias de Angola é o resultado de muito trabalho e muitos puxões de orelhas do pai, que também foi basquetebolista?
Os conselhos do meu pai e da minha mãe têm-me ajudado a crescer como desportista. Eles, no final de cada jogo, dizem-me sempre o que acharam. Criticam-me, quer ganhe ou perca, quando acham que o devem fazer, da mesma forma que me elogiam quando entendem que mereço. Penso que é importante sabermos onde errámos para na oportunidade seguinte fazermos diferente. Acho que eles têm contribuído para que eu me tenha tornado no profissional que sou hoje.
Enquanto jogador de basquetebol qual é o seu principal objectivo?
Neste momento é chegar à NBA, por isso treino todos os dias, foco-me em ajudar a minha equipa, o Petro, para ganharmos jogos, ganharmos campeonatos. Penso que o objectivo de qualquer jogador é jogar na maior liga do mundo e eu não fujo à regra. Esse é o meu grande objectivo.
Que basquetebolista tem como referência?
Bom, eu foco-me muito no basquetebol americano, pois acho que são jogadores que ensinam muito, e tenho como principal fonte de inspiração Kobe Bryant. Há outros que também admiro, mas tento seguir algumas das coisas boas de Kobe Bryant. Ele é o meu grande ídolo.
Tem alguma outra área profissional onde gostaria de trabalhar?
Gosto muito de música. O meu pai além de jogador de basquetebol também foi DJ – e muito conhecido na altura. Tento seguir os passos dele, já que também gosto muito de música. Se não fosse basquetebolista acho que seria cantor ou se calhar DJ. Vejo a música como algo essencial na minha vida.
Como é o seu dia-a-dia?
É simples: normalmente acordo de manhã, vou para os treinos – actualmente não estou a estudar, porque as aulas ainda não começaram, mas vou fazê-lo este ano. Depois dos treinos descanso um bocado e é basicamente isso: casa-treinos, treinos-casa. Nos finais de semana é que tento fugir um pouco à rotina, saio com alguns amigos, vou ao cinema, a uma festa de aniversário e não fujo muito disso.
Disse que sai às vezes. Nunca foi assediado? E como gere o assédio das fãs?
Sim, tento gerir de uma forma normal, tento ser a pessoa mais simples e humilde possível. Às vezes há aquelas fãs que se excedem um bocado, mas » tento ser simpático e não tenho tido grandes problemas em relação a isso.
Falou em música e na paixão que tem por essa área. Sabe dançar?
Sim, claro que sim. Acho que todo o bom angolano sabe dançar [risos]. Não sou um grande dançarino, mas danço de tudo um bocado.
As viagens atraem-no?
Sim, gosto muito de apreender. Quando viajo gosto sempre de procurar saber mais sobre a cultura dos sítios em que passo. Por exemplo: se eu for a Roma e não passar pelo Vaticano, é como se não tivesse ido. Sempre que viajo gosto de aprender línguas, conhecer culturas. Adoro viajar…
Falou em aprender línguas, gosta de ler?
A literatura é outra coisa que me atrai. Gosto muito de ler, principalmente nas minhas horas mais calmas. Quando estou triste ou pensativo gosto de ler para relaxar e desanuviar.
Qual foi o último livro que leu?
O último livro que li foi um de Michael Jordan, que retracta a vida dele. Fala de crenças e diz como fez para alcançar o que alcançou até hoje, ou seja, os seis títulos da NBA e alguns títulos pessoais.
Fale-nos um pouco mais do outro lado de Carlos Morais?
[risos] Sou uma pessoa muito calma. Às vezes quando estou a jogar transformo-me um bocado porque vivo muito aquilo que faço. Não sou tão extrovertido, mas também não me considero uma pessoa introvertida. Tenho de me sentir à vontade com as pessoas para poder falar, rir, brincar e fazer perguntas.
Falou muito do seu pai. Gostava que falasse sobre a restante família.
Sou o primeiro filho dos meus pais, tenho mais dois irmãos em casa e mais quatro por parte do pai. Somos uma família unida e feliz. Temos os nossos problemas como qualquer outra família, mas amamo-nos e compreendemo-nos.
Dos irmãos é o único desportista?
Não, tenho o Bráulio, que joga comigo no Petro Atlético de Luanda; tenho um outro irmão que joga futebol em Inglaterra, nos escalões de formação; a irmã que vive comigo joga ténis e há ainda a Karina, que é nadadora.
É o rosto da campanha de uma bebida energética. Como encara este desafio?
Tem sido bom e calmo, mas estou na expectativa de saber como os consumidores vão apreciar primeiro o produto e depois a propaganda.
Fonte: Sol