O cardeal dom Alexandre do Nascimento afirmou esta quinta-feira, em Luanda, que Angola está a dar sinais de maturidade de uma maneira geral, o que se explica pelos 10 anos de paz.
O cardeal fez esta afirmação em entrevista à Rádio Nacional de Angola (RNA), por ocasião dos 87 anos de idade, que hoje comemora.
“Isto alegra-me, não foi em vão que vivemos 10 anos de paz e tranquilidade. Estou a ver com estes olhos os avanços que nós temos, graças à Deus. Cada dia sinto-me mais contente por ser filho de Angola”, asseverou.
Essas divergências políticas que as vezes acontecem, Dom Alexandre do Nascimento considerou-as normais, tendo dado exemplo de experiências semelhantes ocorridas em Portugal e na Itália, país em que chegou a viver por algum tempo.
Questionado sobre as seitas religiosas no país, o cardeal disse que não se assusta com elas, porque se estão de boa vontade Deus lhes dará o caminho para chegar à verdade.
O cardeal fez ainda saber que a igreja respeita a liberdade das pessoas, porque o próprio Deus também respeita. “O que nós fazemos é apontar o caminho e dizer olha, para nós, a verdade é esta. Agora, segundo a sua consciência siga e seja honesto”, indicou.
“O Espírito Santo sabe donde partimos, onde estamos e para onde vamos. A igreja não está sozinha, o Santo Padre, Bispos e Padres não são os donos da igreja, pois há uma força que é do próprio Deus que nos guia”, salientou.
Relativamente a sua vida literária, revelou que tem três volumes sobre as suas memórias, com 300 páginas cada, já na tipografia, e com o objectivo de os publicar ainda em vida, fruto do conselho de alguns amigos, como do falecido Frei João Domingos.
O cardeal dom Alexandre do Nascimento nasceu aos 1 de Março de 1925 na província de Malanje e estudou Filosofia e Teologia na Universidade Gregoriana de Roma (Itália), de 1948 a 1953.
De 1965 a 1970, o homem que sempre primou sempre pelo patriotismo, tolerância, solidariedade, paz e reconciliação nacional, muito cedo começou a trilhar os caminhos da intelectualidade e da religião.
Dom Alexandre do Nascimento licenciou-se em Direito Civil pela Universidade Clássica de Lisboa (1965 – 1970) e, de 1953 a 1961, foi professor de Teologia Dogmática, no Seminário Maior de Luanda.
Por nomeação do senhor dom Moisés Alves Pinho, o religioso exerceu a função de pregador da Sé Catedral, de 1956 a 1961, ano em que a autoridade politica portuguesa o forçou a fixar residência em Lisboa.
Depois do seu regresso ao país, em 1971, foi nomeado juiz-presidente do Tribunal Eclesiástico de Luanda, sendo, um ano depois, inscrito na Ordem dos Advogados.
Durante as suas funções como bispo da diocese de Malanje, de 1975 a 1977, Alexandre do Nascimento procurou encorajar os cristãos sob a pressão revolucionária.
Foi arcebispo do Lubango em 1986, depois nomeado para exercer a mesma função em Luanda, onde, entre outros factos, restaurou o Seminário Maior, as igrejas de São Joaquim, Nossa Senhora dos Remédios, da Nazaré e Nossa Senhora da Muxima.
Dom Alexandre do Nascimento desempenhou, até 1997, vários cargos, com destaque para os de presidente da Comissão Jurídica da Caritas Internacional e da Conferencia Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).
No campo literário, o cardeal dom Alexandre do Nascimento é autor de muitas obras, dentre as quais, “Do homem sem fé – suas possibilidades e Limites – Segundo Francisco Suarez”, “ Sobre o belo e a Moral”, “Como Li o Livro de Rute”, “A Experiência Constitucional da Itália Moderna (1968)” e “Minhas origens e aprendizagens”.
Fonte: Angop