Com chegada ao Luau, Moxico, prevista para o final deste ano, o CFB porá fim ao seu maior desafio, ou seja, ligar todas as suas estações em território angolano. Porém os projectos de captação de negócios fora de portas por via da penetração na RDC e principalmente na Zâmbia poderão encontrar concorrência neste segundo país. Sem desistir da aspiração da criação de um ramal destinado a ligar directamente os seus principais centros de produção de cobre ao CFB, a Zâmbia acaba de anunciar a aplicação de 120 milhões de dólares em projectos de reparação das linhas que ligam aqueles postos à África do Sul.
A Zâmbia exporta a maior parte da sua produção de cobre através do porto de Durban, África do Sul, num processo em que a maior parte dos operadores prefere o transporte por estrada devido a ineficiência do caminho-de-ferro do país. Num pronunciamento feito recentemente, em Lusaka, o ministro das Finanças da Zâmbia, Alexander Chikwanda, disse à agencia Reuters que a recuperação das linhas de caminho de ferro, “é uma questão prioritária e urgente”. O aumento do uso do comboio vai reduzir o volume de dinheiro aplicado a longo prazo na reparação de estradas, acrescentou.
O investimento anunciado por Lusaka promete reduzir também o impacto da desactivação das linhas que ligam a República Democrática do Congo ao Luau e aos terminais de exportação de cobre dentro do território zambiano. Atenta a esta situação, e perante a declarada incapacidade de Kinshasa em pôr as linhas em funcionamento, em Abril do ano passado Lusaka pediu ao Banco Mundial para que financiasse a construção de um ramal que ligaria os centros de produção de cobre, seu principal produto de exportação, ao Caminho de Ferro de Benguela. Analisado em Washington, à margem da reunião anual do FMI e do Banco Mundial, o pedido submetido por Lusaka tinha sido objecto de consultas com o governo angolano, a quem as autoridades zambianas pediram para que considerasse os benefícios da criação de um ramal de 200 quiilómetros, com início em Cazombo, e com término no centro de produção. Lusaka entende que além de deixar de usar o território congolês como trânsito, o novo ramal iria acelerar a integração económica regional.
Teria também viabilidade garantida, pois está prevista para 2015 a entrada em funcionamento de novas jazidas cuja produção deverá atingir um milhão de toneladas por ano. Apesar do incentivo atirado a Angola, as autoridades não deram muita esperança porque o comboio nem sequer tinha chegado ao Huambo. “Agora pode revisitar o assunto”, disse fonte oficial angolana. A fonte angolana aludia à chegada, a 2 de Agosto último, de um comboio experimental ido do Kuíto, Bié. Chegou ao Luena após uma viagem de 14 horas.
Na visita que fez a Zâmbia, em Maio deste ano, o secretário de Estado das Relações Exteriores disse que o comboio poderá chegar a Jimbe, do outro lado da fronteira, no princípio do próximo ano. Manuel Augusto aludiu também à reparação das estradas que ligarão as estações ao longo da linha em ambos os territórios. Comentando as declarações do governante angolano, Enock Kavindele, CEO do North West Railroad Company (NWRC), disse que a construção do ramal de ligação ao CFB começaria tão logo uma equipa de especialistas da Zâmbia, África do Sul e EUA concluísse estudos de viabilidade e de impacto ambiental.Em Dezembro, a NWRC recebeu autorização do governo para construção de uma linha que deverá ligar Chingola a Solwezi, na RDC, a Jimbe, e esta a Angola. Este projecto está orçado em 1 bilião de dólares.
Em Setembro deste ano, aparentemente “cansada” de esperar pelo BAD e por Kinshasa, Lusaka decidiu tirar 120 milhões de dólares de um total de 750 milhões que angariou de uma operação de alienação de títulos de tesouro.
Produtores de cobre licenciados pelo governo zambiano disseram que embora o porto do Lobito fique mais próximo do que o Porto de Durban, não há nenhuma indicação de que os ramais que cruzam o Congo Democrático, ou aqueles que a Zâmbia pondera abrir para ligar os centros de produção ao CFB, entrem em operações antes da conclusão da reparação das linhas para Durban. “Seja como for, é bom ter mais do que uma alternativa”, disse um executivo citado pela imprensa zambiana.
Tomás Vieira
Fonte: Novo Jornal