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    Anúncio em NY sobre novas medidas para SP amplia dimensão do caos

    A confirmação de um terceiro caso da variante ômicron do coronavírus em São Paulo levou o prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), e o governador João Doria (PSDB) a anunciarem uma série de medidas impopulares que, na prática, restabelecem e reforçam as medidas de isolamento social dos tempos mais preocupantes da pandemia. Parece, e é, roteiro de um filme repetido. A luz do fim do túnel era uma nova volta de recomeço.

    O detalhe, longe de ser só um detalhe, é que o anúncio foi feito de Nova York, onde eles viajaram juntos e mantiveram a agenda de compromissos mesmo com todos os sinais de que os planos para o fim de ano dos paulistanos estão prestes a serem alterados.

    À distância, os dois gestores ficam praticamente imunizados de perguntas como em que mundo estavam quando os gráficos de contaminação nos primeiros países onde a variante foi detectada já mostravam sua alta velocidade de transmissão.

    No caso do prefeito, o anúncio à distância o protege de explicar se os investimentos para a realização do Réveillon, que acaba de ser cancelado, era mesmo necessária ou minimamente segura em um momento em que, de fato, a situação dava sinais de melhora, mas 300 pessoas seguiram morrendo por conta do vírus no país.

    O fim da pandemia, afinal, não foi declarado pela autoridade no assunto, a Organização Mundial de Saúde. Os gestores é que correram para dar a notícia antes e faturar com ela. Às custas de dinheiro e das expectativas de possíveis eleitores.

    Uma semana atrás, a OMS já tinha declarado a ômicron como uma variante de preocupação.

    Mesmo assim, Doria anunciou com pompa, em uma coletiva, que a partir do dia 11 não haveria mais a obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares abertos no estado. O simples anúncio já serviu como fator de desmobilização —basta dar uma olhada em como as pessoas baixaram a guarda ao sair de casa nos últimos dias.

    O anúncio do recuo, agora, veio sem pompa, pelo Twitter. “Atendendo recomendação do Comitê Científico, o estado de SP vai manter a exigência do uso de máscara em espaços abertos. Todos os números demonstram que a pandemia está recuando em São Paulo, mas vamos optar pela precaução. O nosso maior compromisso é com a saúde da população”.

    A precaução é justa e faz sentido. O problema é o vaivém, que dá aos anúncios anteriores a sensação de queima na largada. O presidenciável já pode preparar o novo slogan: recua, São Paulo, em substituição ao conhecido “acelera”, em V.

    Nicolau Maquiavel, que nunca escreveu que os fins justificam os meios, ensinava, no livro “O Príncipe”, que as ofensas (e viajar até Nova York para anunciar como os súditos de São Paulo devem ser comportar a partir de agora é uma ofensa das grandes) devem ser feitas todas de uma vez só, a fim de que, pouco degustadas, ofendam menos. Em contrapartida, os benefícios deveriam ser feitos aos poucos, para que sejam mais bem apreciados.

    Nunes e Doria inverteram o ensinamento. De forma açodada, praticamente decretaram o fim da pandemia ao anunciar um calendário de festa e retorno de uma rotina que já permitia aposentar a velha máscara.

    A boa notícia deram de uma vez e de forma apressada. A má foi feita em pílulas, pelo Twitter, e a 7.861 quilômetros de distância de seus palácios.

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