O comandante municipal da Policia Nacional no Lobito, superintendente chefe Gabriel Kapusso, afirmou que o policiamento de proximidade está a ter êxito. E revela o registo de 60 jovens que abandonaram o lar e viviam na rua. Actualmente têm uma vida tranquila no seio familiar.
Os rapazes abandonaram a delinquência e hoje fazem a fiscalização dos parques de automóveis, nos bairros Comercial, Restinga, Compão e Caponte auxiliando a polícia na vigilância e protecção das comunidades.
O policiamento de proximidade permite o combate de actos criminosos e “nós no Lobito com a ajuda da Administração Municipal e empresários, encontramos mecanismos para evitar que crianças e adolescentes de rua sejam potenciais agentes do crime. E a via encontrada foi dar actividade socialmente útil aos 60 rapazes e acções que passam por aulas de alfabetização”, disse Gabriel Kusso.
Nas ruas do Lobito há jovens que abandonaram os lares ainda crianças e actualmente têm 18 anos. Nunca foram à escola e alguns entraram no “mundo” da criminalidade.
“Esse desvio deve-se ao facto de muitos pais perderem o controlo dos filhos. Como uma das nossas atribuições é prevenir a criminalidade, estamos a inserir na sociedade os que atingiram a maioridade. Felizmente estão a dar-se bem. Este é o trabalho que o Comando Municipal do Lobito da Polícia Nacional e parceiros tem vindo a desenvolver, junto de jovens que merecem algum cuidado”, disse Gabriel Kapusso.
Muitos destes rapazes de rua, reconheceu, são oriundos de famílias pobres e uns tantos “entram” nesta vida para obter recursos para a sobrevivência. O superintendente chefe acrescentou que “com o início do trabalho de proximidade levado a cabo pela Polícia Nacional, é cada vez menor o número de crianças e jovens na rua, pedindo esmolas ou assaltando pessoas”.
Relações de confiança
A Administração Municipal do Lobito, referiu, está actualizar estudos sobre o fenómeno dos jovens que vivem na rua. Este trabalho é difícil porque as crianças se esquivam e não aceitam conselhos dos especialistas.
“Deve nascer a confiança recíproca entre os especialistas, membros da Polícia Nacional e as crianças e jovens, para que juntos possamos trilhar um caminho para o bem de todos”, sublinhou.
A Polícia Nacional mostra aos jovens que está em condições de ajudá-los e que podem contar com ajuda dos agentes para a sua segurança. Para entrar no mundo destes jovens, disse Gabriel Kapusso, é preciso “fechar os olhos” sobre os delitos por eles praticados e contar com a forte colaboração de ONG de reconhecida idoneidade e de especialistas em questões de saúde e problemas da infância: “é triste vermos crianças na droga e na prostituição”.
Questionado sobre a idoneidade das ONG, Gabriel Kapusso respondeu que no cadastro de algumas dessas organizações, no Lobito, existem relatos de que não trabalham para o bem das crianças e jovens: “faziam das crianças em situação vulnerável uma fonte para obtenção de dinheiro junto dos seus patrocinadores”.
Um trabalho que começa depois de uma longa experiência na rua, não deve estar destinado ao fracasso, disse Gabriel Kapusso.
“Pelo carinho que proporcionamos aos jovens de rua, provavelmente eles não vão fazer coisas capazes de pôr em perigo a existência do projecto”, referiu.
Experiência da rua
Acrescentou que “com o policiamento de proximidade evitamos que os jovens e crianças de rua caiam na delinquência. Todos em conjunto temos de inserir estas crianças e jovens numa vida normal, com acesso à escola, saúde e outros cuidados básicos”. Álvaro Fernandes tem 26 anos. Vive com a mulher e dois filhos: “fui menino de rua e sem pai para me educar. Sei que a sociedade não liga às crianças de rua. Mas com o trabalho de proximidade da Policia Nacional as coisas vão mudar para melhor. Até porque já estamos em paz há dez anos”.
O estigma que sentia, frisou, colocou-o numa condição de menor valor que outras crianças com família. Era visto com desprezo e desconfiança pela sociedade: “hoje tenho 26 anos, mulher e dois filhos. Devido ao desempenho da Polícia Nacional, no Lobito tenho hoje todas as condições para sustentar os meus filhos. Era tido com bandido. Não era respeitado. Hoje estou feliz por ter uma família e sair daquela vida que não desejo a ninguém, mesmo aos meus piores inimigos”.
Meninas são especiais
“No Lobito, não se regista o fenómeno de meninas a viverem na rua, nem existem sinais de surgimento de prostituição infantil”, afirmou o superintendente chefe Gabriel Kapusso.
Quando se regista uma ruptura com a família, as meninas ficam pouco tempo fora do lar. Porque a família monta estratégias para tê-las de volta a casa, enquanto que com os rapazes “fecham os olhos” e não querem saber de nada.
“A Polícia não conhece casos concretos de meninas que vivem na rua. Quando esporadicamente surge algum caso, os agentes da ordem pública procuram a família e há uma forte mobilização para resolver o assunto familiarmente”, frisou Gabriel Kapusso.