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    Afastamento do MPLA do marxismo nunca foi explicado, diz Sousa Jamba

    O colapso gradual da União Soviética – que resultou na sua dissolução, faz agora 20 anos – teve uma vasta gama de efeitos espectaculares por toda a África: dos governos de inspiração marxista passando pelos movimentos que perderam o seu apoio, a novos conflitos alimentados por um caudal inesgotável de armas e de mercenários provenientes da antiga esfera de influência soviética.

    A guerra fria foi descrita por muitos analistas como uma partida de xadrez geográfico entre a União Soviética e os EUA com o objectivo de alargar ou evitar a influência comunista. O continente africano não ficou imune aos efeitos desta disputa.

    Angola é um exemplo de como a situação, por vezes, se transforma numa guerra civil sem fim.

    Os vencedores da guerra em Angola e os governantes desde a sua independência de Portugal, em 1975, são do MPLA, um partido apoiado pelos soviéticos. Mas quando as tropas cubanas, patrocinadas por Moscovo, abandonaram Angola, em 1991, e a União Soviética deixou de enviar armas e ajuda, o governo angolano renunciou ao marxismo e adoptou as políticas do mercado livre.

    Sousa Jamba, um escritor e jornalista angolano que trabalha para o “Semanário Angolense”, diz que o afastamento da ideologia socialista foi muito abrupta e nunca foi explicada. Diz Jamba: “Numa determinada altura, eles eram marxistas muito fervorosos e quando a União Soviética entrou em colapso, tudo o que eles disseram foi que eles iam também afastar-se do marxismo. E a minha questão é saber se eles eram marxistas porque acreditavam na ideologia ou se eram marxistas porque era conveniente, por forma a obterem o apoio da então União Soviética? Essa questão nunca foi respondida.”

    Noutros países, como na Etiópia, quando a União Soviética deixou de apoiar o governo, os governantes foram rapidamente afastados do poder. Outros líderes apoiados pelos soviéticos, caso de Mathieu Kerekou, no Benin, renunciaram ao marxismo e perderam, logo a seguir, eleições multipartidárias.

    Os regimes autoritários anticomunistas que os EUA e os europeus apoiaram também, lentamente, promoveram eleições multipartidárias.

    Leonard Wanttchekon,do Benin, é professor da Universidade de Princeton e diz que o sistema multipartidário melhorou, mas para muitos africanos foi um desapontamento. “Desapontados não com as eleições sem si – diz Wastchekon – “mas desapontados pelas poucas mudanças proporcionadas pelas eleições em termos de governação e desenvolvimento proporcionado”.

    O colapso da URSS em África foi também seguido pela perda de influência por parte da camada de activistas e funcionários pró-soviéticos mais educados, por uma vaga de privatizações e por um aumento da dependência nas agências de ajuda estrangeiras tendo em vista o fornecimento de serviços básicos. De acordo com Sousa Jamba, verificou-se também uma deterioração da governação:”Nalguns desses países o que temos é a pior espécie de capitalismo, no qual as pessoas usam o Estado para roubarem dinheiro e os recursos do país”.

    Para além de Angola, a Guerra Fria coincidiu com outros movimentos africanos de libertação, resultando também em violentas guerras civis e, na África Austral, com governos de minoria branca anticomunistas que resistiram à mudança durante anos a fio.

    Com muitos antigos militares e pilotos soviéticos lançados no desemprego, alguns tornaram-se mercenários, operando equipamento soviético em conflitos na África Ocidental, tal como foi o caso da Costa do Marfim e da Libéria.

    Outros conflitos, como os que ainda duram na República Democrática do Congo e na Somália, ainda se alimentam das armas que sobraram da Guerra Fria: obtidas mais recentemente dos paióis herdados da União Soviética, sublinhando como o colapso daquela antiga potência ainda se está a fazer sentir hoje em dia em África

    Fonte: VOA

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