Segundo os dados mais recentes da Agência Internacional de Energia (AIE), aproximadamente 2,3 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a fontes de energia limpa, dependendo principalmente de lenha, querosene e carvão para cozinhar.
Pensar em formas de combater a fome e a pobreza passa também por refletir sobre o acesso universal à energia. A solução para muitas destas famílias, confrontadas com tais despesas, é utilizar fontes de energia “sujas”, por exemplo, para cozinhar.
O acesso a tecnologias que garantam uma cozinha limpa depende da formulação de políticas públicas e de investimento eficazes e de financiamento público e privado.
Considerando que as regiões mais pobres da Ásia e de África são aquelas onde as populações mais sofrem com a falta de acesso a uma cozinha limpa, as ações de cooperação Sul-Sul são essenciais para transferir/difundir políticas públicas de sucesso.
Por isso, a proposta do G20 sob a presidência do Brasil de criar uma coligação global para apoiar países com baixa capacidade estatal de planeamento energético é interessante. Apoiar o desenvolvimento de políticas de transição energética a longo prazo em países cujas matrizes ainda estão altamente concentradas na energia fóssil deverá ser uma forma de contribuir para o objectivo de redução das emissões globais de carbono.
Ao analisar os dados por região, a desigualdade é gritante. A África Subsariana tem a percentagem mais baixa de acesso: apenas 18,5% da população. Segue-se a região Ásia-Pacífico, com 72,2%, um pouco acima da média global. Com exceção destas duas regiões, todas as restantes apresentam percentagens na ordem dos 90% ou mais.
Para começar a inverter este cenário desigual e atingir a meta de emissões líquidas zero de carbono até 2050, as previsões da AIE indicam que aproximadamente 300 milhões de pessoas necessitam de acesso a tecnologias de cozinha limpas todos os anos, como o gás de petróleo liquefeito ( GPL), fogões movidos a biomassa (especialmente em zonas rurais), biogás, etanol e eletricidade. No entanto, a expansão da utilização destas fontes de energia depende de um aumento maciço do investimento, que deverá atingir os 8 mil milhões de dólares por ano até 2030.
Estes números demonstram a urgência de combater a pobreza energética no mundo. O conceito deve ser objeto de amplos debates por parte dos atores políticos, como governos, parlamentares, partidos e sindicatos, sociedade civil e setor privado, para abordar duas questões fundamentais.
A formulação de políticas públicas sólidas que contribuam para o desenvolvimento das novas energias tecnologias que ajudam a aliviar os orçamentos familiares; e meios de financiamento do sector público e do sector privado que apoiem, a longo prazo, a redução contínua das emissões de gases com efeito de estufa.
Neste contexto, o G20 surge como uma plataforma fundamental que pode servir de catalisador para um esforço conjunto de combate à pobreza energética.