A Organização Mundial de Saúde recomenda que a amamentação seja feita em exclusivo até aos seis meses e prolongada como parte de uma alimentação saudável até aos dois anos. No entanto, muitas mulheres evitam esta prática por desconhecerem a importância do aleitamento materno ou por temerem a “quebra” dos seios, como confirma Elisa Gaspar, pediatra-neonatóloga e mestre em saúde materno-infantil da Maternidade Lucrécia Paím.
Embora considerem a concepção uma dádiva, muitas mulheres recusam-se a dar de mamar aos filhos e recorrem a diversos argumentos para justificar essa decisão. Embora haja nisso um grande coeficiente de ignorância quanto à importância do aleitamento materno, a principal razão está no apego à estética, ou seja, ao temor de ficarem com os seios descaídos.
Aos 40 anos, Matondo Isabel deu à luz o quarto filho há duas semanas, na Maternidade Lucrécia Paím. À semelhança do que aconteceu com os três primeiros filhos, também este bebé não estava a ser amamentado. Ainda a recuperar da cesariana a que foi submetida e sem consentimento médico, Matondo ordenou aos familiares que levassem o recém-nascido para casa e o alimentassem com leite em pó. A razão apontada por esta mãe foi a de não ter leite.
“Eu tentei dar de mamar, mas não saía leite. Não é a primeira vez que isso acontece. Nunca amamentei, sempre tive vontade mais nunca produzi leite. Todos os meus filhos foram alimentados com leite industrial”, disse ela. Os argumentos não colhiam porque, perante a situação, a médica de serviço observou-a e constatou que estava com os seios cheios de leite.
Na mesma sala do sexto andar da Maternidade Lucrécia Paim onde se encontrava Matondo Isabel, estavam outras quatro mulheres, três das quais tinham acabado de ser mães pela primeira vez. Nunca participaram em palestras nem sabiam a importância do aleitamento materno.
“Nunca fui mãe. Sei que tenho de dar de mamar, mas nunca soube qual o efeito do leite no meu bebé. Sempre fiz todas as consultas, mas nunca participei em palestras sobre o assunto”, disse Graça Carlos, mãe de primeira viagem.
Muitas mulheres acabam por suspender a amamentação dos filhos por razões profissionais, mas Graça Carlos não trabalha nem estuda e quer dar ao filho leite industrial.“Tenho medo de dar de mamar porque me doem os mamilos. E também porque não posso passar todo o dia em casa. Vou dar peito, sim, mas acompanhado do biberão”.
Companheira de quatro de Matondo e Graça, Joana Pedro era a única que tinha assistido a palestras. Tem outras ideias a respeito da maternidade. “Sou a favor do parto natural sem intervenções e humanizado, aleitamento materno exclusivo até aos seis meses, amamentação prolongada, colo e muito carinho”, diz.
Joana diz estar consciente da importância da amamentação e dos seus benefícios, tanto para o filho como para ela. “Sei que o leite que produzo faz bem ao crescimento do meu filho, por isso, vou dar de mamar até aos dois anos e preveni-lo de todas as doenças e também evitar problemas cancerígenos em mim”.
Importância da amamentação.
Pediatra-neonatóloga e mestre em saúde materno-infantil, Elisa Gaspar diz que o aleitamento materno é um assunto que deve ser falado todos os dias, por ser a “primeira vacina”, do recém-nascido, que o torna saudável e aumenta os níveis de imunidade, sobretudo para os bebés prematuros e que nascem com baixo peso.
“Não custa nada, pode dar-se a qualquer hora que quiser mamar. A família não tem gastos, não é preciso comprar nada para dar de mamar ao bebe até aos seis meses. Quando uma mulher amamenta o bebé, aumento o afecto materno, o carinho e amor”, afirmou a médica.
Elisa Gaspar revela que há mulheres que vão para a maternidade e não sabem pôr o bebé ao peito, não conhecem a importância do leite materno, nem as vantagens da amamentação. E muitas delas já têm quatro ou cinco filhos. “Todos os dias, aqui na maternidade, temos dado palestras e as mães ficam admiradas pelo facto de, mesmo depois de terem dois partos, não saberem pegar no bebé”, acrescenta a médica. “Elas têm falta de informação. As mulheres não assistem às palestras sobre os cuidados a ter com os bebés. Mas é nesses encontros que elas aprendem a cuidar dos seus filhos. Não sabem pegar no seio, pegam nele como se fosse um cigarro, o que é mau”, lamenta.
A pediatra-neonatóloga diz ainda que a mulher deve ser encorajada a amamentar quando e onde quiser, inclusive em lugares públicos, sem sofrer qualquer tipo de censura ou pressão social. Afinal, dar peito é, acima de tudo, dar amor. “Infelizmente, ainda é comum a mulher receber olhares tortos e sentir-se constrangida ao amamentar fora de casa.”
Banco de leite humano
Uma das metas do milénio é a “segurança alimentar e nutricional no contexto da atenção primária de saúde”, que consta da agenda do Governo como prioridade. Nesse sentido, as maternidades têm transmitido conhecimentos às mulheres sobre a importância do aleitamento materno.
Elisa Gaspar revela que existe o projecto de criação de um “banco de leite” que está a ser preparado para atender os bebés prematuros e também as mães seropositivas e com hepatite, mas também as que não querem dar de mamar. O projecto está a ser estudado e é possível que, dentro de alguns meses, “haja pelo menos um banco piloto, para vermos as vantagens”.
A direcção da Maternidade já tem o espaço escolhido dentro da instituição, onde vai funcionar o futuro banco de leite, faltando apenas os meios, como geleiras e arcas, para o seu acondicionamento.
O banco de leite humano (BLH) é um centro responsável pelo apoio, protecção e promoção do aleitamento materno, além de desenvolver um forte trabalho de incentivo ao prolongamento da amamentação.
O leite colhido é utilizado para os bebés internados em hospitais ou que, por algum motivo, as mães estejam impossibilitadas de amamentar. O leite passa por um processo de pasteurização e controlo de qualidade. Depois de aprovado, é armazenado por um período até seis meses. A sua substituição é feita após análises criteriosas.
Toda as mães podem ser doadoras de leite humano, desde que possuam uma produção excedente à necessidade do seu filho, que tenha realizado o pré-natal em rede pública ou privada e que o comprove através da apreentação do respectivo cartão.
Fonte: JA