Os sete polícias envolvidos na morte de Daniel Prude foram agora suspensos, mais de cinco meses depois dos acontecimentos.
A presidente da câmara de Rochester, local onde morreu Prude, começou por dizer, em conferência de imprensa, que o “racismo estrutural e institucional levou à morte de Daniel Prude”.
“Daniel Prude foi reprovado pelo nosso departamento da polícia, pelo nosso sistema de saúde mental, pela nossa sociedade e foi também reprovado por mim”, disse Lovely Warren, presidente da câmara, acrescentando que o chefe da polícia, até ao início de Agosto nunca a tinha informado do que tinha acontecido.
A presidente da Câmara de Rochester disse ainda que alguns dos agentes que foram suspensos aparecem nas imagens e os “outros tinham o dever de impedir o que estava a acontecer”.
De acordo com a BBC, a autarca disse na quinta-feira que foi “enganada” pelo chefe da polícia local que terá afirmado que Daniel Prude morreu na sequência de uma sobredose de drogas.
Lovely Warren explica que a versão da polícia é “totalmente diferente” da que viu no vídeo. A presidente da câmara disse estar “profundamente, pessoal e profissionalmente decepcionada” com o chefe Singletary.
O caso veio a público esta quarta-feira, depois da família da vítima divulgar os vídeos das câmaras dos uniformes dos polícias, que mostram a forma como morreu Daniel Prude.
Em 23 de Março, a polícia de Rochester, onde 40% da população é negra, foi chamada a intervir depois de o irmão da vítima ter pedido ajuda, relatando na altura que Daniel Prude apresentava sinais de distúrbios psicológicos.
Os vídeos mostram Prude, que tinha retirado as suas roupas, a obedecer quando a polícia lhe ordenou para se sentar no chão e pôr as mãos atrás das costas. Depois, colocaram-lhe um capuz especial na cabeça, usado para evitar que os detidos cuspam e mordam, designados ‘spit hood’ em Inglês.
Prude pediu que lhe retirassem o capuz. E foi aí que um agente lhe atirou a cabeça para o chão e outro a manteve forçada contra o chão, com as mãos, enquanto um terceiro lhe colocava um joelho nas costas. Os agentes riram-se várias vezes durante a detenção, de acordo com as imagens.
Prude deixou de se mexer e falar. Nas imagens veem-se médicos a assisti-lo antes de ser colocado numa ambulância.
AUTÓPSIA REVELA MORTE POR “ASFIXIA CONSECUTIVA”
Daniel Prude entrou em coma e morreu uma semana depois ter sido hospitalizado.
O instituto de medicina legal concluiu, após uma autópsia, que a morte de Prude foi um homicídio, relacionado com uma “asfixia consecutiva por constrangimento físico”.
“Trataram o meu irmão como um animal”, afirmou Joe Prude (o irmão de Daniel Prude que pediu ajuda no dia da detenção), numa conferência de imprensa realizada na quarta-feira.
A ordem de suspensão ocorre um dia depois de os advogados da família de Prude terem divulgado as imagens captadas pela câmara de vídeo da própria polícia e que mostram os agentes a taparem a cabeça do homem enquanto o mantêm vergado no chão. A suspensão é a primeira acção disciplinar que acontece depois da morte de Daniel Prude.
O homem de 41 anos morreu dois meses antes de George Floyd, a 30 de Março. A Procuradoria-Geral de Nova Iorque assumiu a investigação em Abril e o chefe da polícia, que não faz parte dos elementos que foram agora suspensos, nega que o departamento tenha tentado manter os detalhes do casos ocultos.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, pediu que o caso fosse concluído “o mais rapidamente possível”.
O caso da morte de Daniel Prude junta-se a outros casos semelhantes ocorridos nos últimos meses e que geraram protestos nos Estados Unidos contra a violência policial de carácter racista.