Só depois de analisar os milhares de ficheiros de pornografia de menores e nudez explícita de adultos apreendidos a um homem de 27 anos, residente em Barcelos, é que a Polícia Judiciária (PJ) de Leiria vai perceber a verdadeira dimensão do crime.
Para já, sabe-se que foram centenas as vítimas deste desempregado, entretanto detido, que passava o dia agarrado à Internet, para assegurar a sua subsistência. E fazia-o criando perfis falsos nas redes sociais, fazendo passar-se por mulher ou adolescente. Depois, ganhava confiança com as vítimas, pedia-lhes fotos e iniciava a chantagem.
Segundo informações recolhidas pela PJ, este era o seu modo de vida, pelo menos desde 2011. O Departamento de Investigação Criminal de Leiria já andava a investigar o caso há dois anos, mas como conseguia esconder a verdadeira identidade ao usar dados das vítimas, foi conseguindo escapar ao controlo das autoridades.
Foi entretanto sinalizado por um organismo internacional pela partilha de fotos e vídeos de cariz pornográfico. A PJ foi avisada, fez uma busca à casa do suspeito, e pode agora começar a construir o puzzle que permitirá apurar a quantidade de vítimas e os valores extorquidos, através do material que armazenava em diversos suportes informáticos.
Numa primeira análise ao material apreendido, os investigadores perceberam que o suspeito criou centenas de perfis fazendo passar-se por mulher no Facebook, através dos quais estabelecia amizade com homens.
EXTORQUIA COM FOTOS
Enviava-lhes fotos de nudez (que tiraria da Internet) e convidava-os a fazerem o mesmo. Quando eles acediam, passava à fase da extorsão. Ameaçava colocar as fotos deles na rede e exigia-lhes dinheiro, ou o carregamento de cartões de telemóvel.
Ao mesmo tempo, usava os dados das vítimas para a partilha de fotos e vídeos pornográficos de menores, transformando-as em suspeitas.
Para as camadas mais jovens, segundo fonte da PJ, criava perfis apresentando-se como adolescente, com os quais conseguiu estabelecer amizade com rapazes e meninas, algumas com 10 e 12 anos, às quais convenceu a enviarem fotos de nudez. Depois, fazia chantagem, obrigando-as a enviarem mais fotos, que seriam partilhadas na Internet.
Indiciado pela prática de crimes de pornografia de menores e de extorsão, o suspeito já foi ouvido em primeiro interrogatório por um juiz de instrução criminal, que o constituiu arguido e mandou aguardar julgamento em liberdade, com a obrigatoriedade de se apresentar periodicamente no posto policial da sua área de residência.
Os conselhos da Polícia Judiciária
1. Troca de fotos – A PJ recomenda aos utilizadores das redes sociais que evitem a “exposição íntima e sexual”. Deve haver um cuidado acrescido nos contactos com desconhecidos nas trocas de fotos ou vídeos.
2. Webcams – É aconselhada prudência na utilização das webcams para prevenir situações de devassa grave da vida pessoal e profissional.
3. Menores – Em relação às crianças e menores, a PJ salienta a importância de se estabelecer uma “idade mínima” para a sua adesão às redes sociais e de avisar os mais jovens “das consequências do seu mau uso”.
Outros Casos
Extorquida oito meses – Uma mulher de Santarém, de 56 anos, foi alvo de extorsão, durante oito meses, entregando a um homem que conhecera num site de encontros amorosos mais de 15 mil euros, para evitar que ele divulgasse fotos em poses comprometedoras, à família e amigos. O suspeito foi detido em flagrante delito em agosto pela PJ.
Dono de supermercados – O dono de uma rede de supermercados de Barcelos entregou 25 mil euros através de sucessivas quantias a um segurança, depois de ser confrontado, em 2015, com filmagens em que se relacionava sexualmente com outra mulher. Um segurança e duas mulheres foram condenados a quatro anos e nove meses de prisão pelo crime de extorsão.
Reclusos com Internet – Dois reclusos na cadeia de Paços de Ferreira conseguiram ter acesso a telemóveis com Internet e, através de redes sociais para encontros amorosos, contactavam com mulheres para as chantagear. Umas das vítimas foi extorquida, em 2017, em 600 euros. Era chantageada com a divulgação de um vídeo íntimo que não existia. O caso foi descoberto depois da vítima se queixar. (Jornal de Notícias)