Parto do pressuposto, segundo o qual, pequenos detalhes podem libertar uma memória. Então, que devemos defender intransigente a independência do nosso país e os interesses nacionais do nosso povo, estamos de acordo.
Mas com uma coisa ainda estou inconformado.
《O COMITÊ CENTRAL DO MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA, MPLA, PROCLAMA, SOLENEMENTE, PERANTE A ÁFRICA E O MUNDO, A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA》.
Esta proclamação unilateral de Agostinho Neto é o meu irritante em Novembro de cada ano. Irritante, porque todos sabem que urge redefinir os pilares sobre os quais assenta a história da nossa independência. Porque todos sabem que é necessário corrigir tais erros a partir da génese.
Ninguém erguerá um prédio, por mais alto que se pretenda que venha a ser, sejam quais forem seus arquitectos, sem possuir uma boa equipa de técnicos capazes de antes faze-lo descer para as profundezas.
Se ninguém pensar em que pequenos detalhes podem libertar uma memória, no caso, a memória de nossa história, nunca
seremos verdadeiramente livres, tão pouco independentes.
E estaremos condenados a morar eternamente num país com monumentos baptizados com nomes provindos de inigmas “revolucionários” para enganar o povo. Aquilo a que chamo de ngangulanizacão da história do país.
Porque é que ainda há espaços públicos, estabelecimentos públicos com o nome de Ngangula, se essa figura nunca existiu, quando há inúmeras pessoas que devem ser bem recordadas?
por Lutock Matokisa, jornalista angolano