
O processo de ajustamento da economia angolana à baixa do preço do petróleo passa pelo empobrecimento dos cidadãos e pelo aumento do preço dos bens e serviços, tendo em conta a redução da entrada de divisas no país, provenientes da principal matéria de exportação de Angola, segundo o economista Carlos Rosado.
Numa entrevista concedida hoje à Angop, o técnico explicou que com a baixa do preço do petróleo reduziu-se a capacidade dos angolanos importarem bens e serviços, que são pagos com moeda estrangeira – fundamentalmente obtidas através da venda do petróleo (principal comodity de Angola).
A queda do preço do crude, de acordo com o Carlos Rosado, também trouxe efeitos negativos sobre a moeda angolana – o Kwanza. Desvalorizou-se face ao dólar, porque quanto menor for a oferta desta divisa, no mercado, maior é a procura, tendo em conta as necessidades de aquisição de bens e serviços no estrangeiro.
“Se a procura pelo dólar aumenta, logo, para se obté-lo precisa-se de mais kwanzas”, disse.
Carlos Rosado, que também é docente universitário, argumentou que a desvalorização da moeda nacional também faz parte do processo de ajustamento da economia, porque o valor do dólar depende da oferta e da procura e, nesta altura, o Banco Nacional de Angola (BNA) tem poucos dólares para vender, facto que aumenta a sua procura e a consequentemente desvalorização do Kwanza.
“Como o dólar está mais caro, as importações se tornam mais caras e nós vamos importar menos. É assim que se produz o ajustamento. As pessoas não tenham ilusões que não é possível fazer de outra maneira”, alertou a fonte.
Noutra perspectiva, disse que a inflação, em parte, é um fenómeno psicológico, isto é, de confiança. “Se o governo adoptar políticas correctas que inspirem confiança nos agentes económicos isso pode mitigar a desvalorização do Kwanza”.
Disse também que uma das causas da inflação é a insuficiente concorrência que ocorre no mercado. “Há agentes económicos por força dessa situação que decidem aumentar o preço dos bens que vende. Isso pode ser corrigido com políticas a correctas”.
Porém, rematou o interlocutor, a desvalorização não é só inevitável como também é desejável.
Em meio ao actual quadro da nossa economia, o interlocutor disse que só é possível combater a inflação e a desvalorização da moeda com uma economia diversificada – em que uma redução do preço do petróleo não afecta tanto e seja compensada pela exportação de outros produtos. Enquanto isso, não há outra solução se não aguentar com a desvalorização do Kwanza.
Referiu, entretanto, que o acordo assinado recentemente pelo Governo angolano com o Banco Mundial (BM), em que se compromete com um conjunto de políticas, poderão ajudar a confiança relativamente Angola e isso pode mitigar a desvalorização do kwanza. (portalangop.co.ao)