
O socialista, que esteve na direção do partido ao lado de António Seguro, disse que lhe parece existir “um aproveitamento da situação” por parte de comunistas e bloco. E isso é “perigoso”.
Alvaro Beleza não se poupou nas palavras e mostrou-se desconfiado relativamente às intenções do Partido Comunista e Bloco de Esquerda numa coligação com o Partido Socialista. Em entrevista à RTP 3, na noite desta segunda-feira, o dirigente socialista sublinhou que não se pode querer “governar de qualquer maneira” e defendeu, que numa primeira fase, deveria existir um Governo da Coligação com o apoio socialista.
“É muito estranho que o PS passe de principal inimigo para principal aliado do PCP e Bloco. (…) Parece mais inteligente e mais honesto que a Coligação governe com o apoio do Partido Socialista, mas sem excluir a possibilidade do Partido Socialista ser Governo ainda nesta legislatura com a esquerda ”, disse Álvaro Beleza. “O que me parece é que da parte dos partidos à esquerda há um aproveitamento da situação do PS. É perigoso”, acrescentou. O socialista teme que a aliança possa estar “envenenada”: “Pode até fritar-nos”, admite.
Para Álvaro Beleza, embora existam algumas questões de convergência entre PS e a esquerda, há um grande fosso, que se chama Europa: “Não estamos sozinhos, estamos na Europa. Há uma linha que nos separa. O PS é o partido em Portugal que defende o euro e a economia de mercado. O Bloco e o PC são contra a moeda única. Os comunistas são contra a Europa e a economia de mercado. Como é que vão aceitar as nossas regras?”
Bloco de Esquerda e Partido comunista são “no fundo dois partidos marxistas disfarçados”. “Temos de ter cuidado, não podemos ceder a partidos que estiveram até aqui contra o nosso programa”, referiu.
Álvaro Beleza admite ter receio “da excitação um pouco adolescente” da esquerda “mais intelectual” do partido que achou que o PS poderia ser como o Syriza na Grécia. “O Syriza teve de mudar radicalmente a sua política. Agora são um partido social-democrata”, lembrou.
“O PS é o partido de centro em Portugal” que não foi construído nem “pode ser refém” de radicalismos.
“António Costa merece o maior respeito. Acredito que pense, com alguma ingenuidade, que é possível fazer um Governo estável com estes partidos [PCP e BE]”, disse Beleza.
Crise interna e Presidenciais
Membro do secretariado nacional da direção de António José Seguro, Álvaro Beleza admite que os socialistas estão “a viver um momento de facto difícil”, mas assegura que não é candidato à liderança do partido.
“Essa questão não se põe [ser secretário geral do PS]. Não o pretendo fazer, não é um objetivo de vida”, garantiu. Agora o foco é debater internamente “com tranquilidade” as questões do partido. Após as presidenciais no começo do próximo ano, “haverá Congresso do Partido Socialista”.
Sobre os candidatos do partido a Belém, Beleza confessou que “a direção cometeu alguns erros” e que “não percebeu que era melhor apoiar uma pessoa mais moderada [Maria de Belém] do que alguém que não pertence ao Partido Socialista [Sampaio da Nóvoa]”. Esta situação criou alguma divisão dentro do seio socialista e a “solução era não apoiar agora ninguém” na primeira volta das presidenciais.
“Espero que Maria Belém seja eleita. É a única solução viável à esquerda”, rematou Álvaro Beleza. (expresso.pt)