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    Mercado informal tem maior disponibilidade na venda de dólares

    (Foto: D.R.)
    (Foto: D.R.)

    Comprar dólares de modo oficial no mercado formal está cada vez mais difícil. O mesmo não se pode dizer do sector informal, onde na rua 15 do Mártires do Kifangando, por exemplo, é possível adquirir até 100 mil dólares, sem “burocracias”

    O Semanário Económico efectuou uma ronda a algumas agências dos principais Bancos que operam no sistema financeiro angolano e constatou que mesmo com bilhete de passagem para o exterior do país, com ou sem documentos médicos anexados ao processo que comprovem uma eventual viagem para tratamentos de saúde, os bancos simplesmente alegam não ter dólares disponíveis para a venda.

    A marcação para aquisição de dólares deve ser feita, em média, com mais de 15 dias de antecedência podendo resultar da acção uma resposta negativa ou positiva, em função daquilo que os bancários consideram “sorte”. Numa das agências do Banco BAI, por exemplo, somos informados de que para adquirir até o equivalente em dólares a 500 mil kwanzas é preciso ter salário domiciliado no banco ou uma conta com movimentos que justifiquem “rendimentos”.

    No BFA, o cenário não é muito diferente.Numa das dependências, na avenida Pedro de Castro Ván-Dunem “Loy” encontramos um funcionário que referiu estarem há quase um mês sem comercializar divisas.

    O bancário relatou que durante este período têm estado a receber solicitações formais, mas que até ao momento (terça- feira 29 de Setembro) não tinham respostas positivas para os pedidos recebidos. Explica que por cada bilhete de passagem são disponibilizados até cinco mil dólares, comercializados ao câmbio do dia.

    Questionado sobre uma eventual facilitação ou prioridade do pedido caso se tratar de uma consulta médica, o supracitado responde a decisão passaria pela direcção financeira da instituição. Procuramos saber de que modo se podia contactar a área de processamentos dos pedidos em caso de urgência, pelo que fomos aconselhados a enviar um e-mail.

    Ao que o SE apurou, faz parte dos requisitos para aquisição de divisas no banco em causa, ser cliente da instituição financeira que não esteja em incumprimento e que tenha uma conta com movimentação de valores monetários regulares.

    “O normal, até Novembro do ano passado, para adquirir divisas era solicitar um instrutivo ao balcão, preenche-lo anexar o passaporte com visto e o bilhete de passagem e solicitar a compra no valor de cinco mil dólares. E, o valor era disponibilizado na hora”, explicou. Entretanto, refere que agora as coisas estão diferentes, os valores são disponibilizados por uma questão de sorte. O funcionário desabafou que até a sua esposa quando viajou teve de levar um cartão VISA, porque não conseguiu comprar divisas.

    Entretanto, referiu que de momento a instituição não está a emitir VISA. “Minha senhora no problema das divisas não sei o que lhe dizer”, disse, suspirando, chegando mesmo a aconselhar o contacto com outros bancos.

    Numa das dependências do Banco Millennium localizada numa zona comercial a sul de Luanda, o gerente informou-nos haver disponibilidade para a venda de divisas mediante apresentação do bilhete de passagem para o exterior do país, do passaporte com visto e do valor em kwanzas equivalente a 2500 dólares depositados na conta. “Todo este processo deve ser feito com um mês de antecedência”, recomendou.

    Em caso de tratamentos de saúde, referiu o funcionário, mediante apresentação da factura da clínica onde se pretende fazer a consulta ou tratamento, o banco transfere directamente os valores para a conta da instituição em causa. “Os valores variam mediante a quantia disponível na conta do cliente”, disse.

    Na instituição também não estão a emitir VISA. E logo de início o cliente é avisado de que pode correr o risco de ver o seu pedido negado. “Estamos nesta condição há dois meses, nós estamos a dar este prazo de um mês, porque estamos com muitos pedidos”, disse.

    Tal como noutros bancos, para a aquisição de divisas é preciso que o cliente tenha o salário domiciliado no banco ou que seja detentora de uma conta com movimentos regulares.

    No Banco Sol o cenário não é diferente, numa das dependências que visitamos não haviam dólares disponíveis, e a situação já durava alguns dias. A funcionária que aparentava estar pouco dotada de informações da instituição em que trabalhava.

    No BPC os pedidos devem ser feitos com 20 dias de antecedência. Numa das agências que o SE visitou fomos explicados de que a instituição disponibiliza até cinco mil dólares aos clientes que queiram adquirir divisas, mediante apresentação do bilhete de passagem. De acordo com um dos funcionários mesmo apresentando documento médico o valor não ultrapassa os cinco mil.

    Outrossim, o funcionário refere ser necessário ter “sorte” para que o pedido seja aceite. Na instituição os cartões VISA não estão a ser emitido. Os que já têm também não podem ser carregados. O jovem garantiu ser uma informação que abrange todas as agências do BPC. Entretanto referiu ser necessário ter salário domiciliado no Banco.

    No BIC pode se dizer que o processo, aparenta ser mais flexível, na medida em que não é obrigatório ter o salário domiciliado na instituição para comprar divisas, bastando apenas a apresentação do bilhete de passagem, o bilhete de identidade e o passaporte com visto. O pedido leva 15 dias a ser aceite, sendo que em caso de recusa, em sete dias o banco contacta o cliente. Uma funcionária garantiu ao SE haver disponibilidade no momento (terça-feira 29 de Setembro) para a venda de divisas. Entretanto referiu que dos diferentes cartões VISA que a instituição dispõe apenas o Cartão “Mundo” está a ser recarregado com um plafond que vai até os 150 mil kwanzas.

    No Standard Bank só é possível comprar mil dólares por viagem. Sendo que com um documento médico deve-se solicitar uma prévia autorização ao banco. De acordo com uma funcionária, a situação dura já dois meses. E, para a disponibilização das verbas é obrigatório ter o salário domiciliado na instituição. De acordo com o disposto no AVISO N.º 13 /2013 de 31 de Julho, “o volume de operações para viagens, efectuadas no mesmo ano civil por pessoas singulares residentes cambiais maiores de 18 anos, não deve ultrapassar o montante cumulativo de 25 milhões de Kwanzas, quando ordenado ou feito em nome da mesma pessoa”.

    O SE confrontou um gestor bancário sobre os limites estabelecidos pelos bancos que não ultrapassam os cinco mil dólares por viagem, este respondeu tratar- se de uma medida adoptada pelos bancos em função da falta de divisas. “Se não temos dólares não podemos vender mais do que aquilo que temos, ainda que seja contrário à lei”, justificou.

    O mesmo artigo, no se número dois refere que as operações relativas às despesas de viagem pessoal, em benefício de pessoas singulares residentes cambiais menores de 18 anos, não devem ultrapassar o montante cumulativo de seis milhões de Kwanzas para cada ano civil.

    De acordo com o documento que vimos citando, contrariamente ao que tem ocorrido nos bancos, as operações relativas às despesas de saúde e educação não estão sujeitos a limites quando os pagamentos forem directamente efectuados aos estabelecimentos de saúde ou de ensino, com base em suportes documentais.

    Leilões directos às casas de câmbio sem efeito

    Quando se esperava que os leilões de venda directa de divisas às casas de câmbio fosse facilitar o acesso ao dólar, a medida parece ter efeito contrário, uma vez que as mesmas dificuldades persistem. Até o momento realizaram-se três sessões. A primeira teve lugar no dia 27 de Agosto e contou com a participação de 33 das 48 casas de câmbios autorizadas pelo BNA.

    É que passados pouco mais de um mês, desde o início dos leilões que têm disponibilizado uma média de 10 milhões de dólares por sessão, o Semanário Económico constatou que as Casas de Câmbio continuam a não ter dólares para vender.

    Na Travelexcel, por exemplo, encontramos dois seguranças à porta mostrando-se despreocupados com a nossa presença, ao contrário do habitual procedimentos nestas casas de venda de dinheiro, onde a revista à porta, às vezes é rigorosa por excesso.

    No interior da instituição, que comporta dois balcões, encontramos um funcionário à conversa com uma senhora que por sinal, não parecia ser cliente, devido ao modo como foi despachada.

    Questionamos se havia kwanzas ou dólares à venda e o funcionário prontamente respondeu que não e que já há um mês não tinham dólares para a venda, ao passo que para os Euros referiu ficarem disponíveis mediante a quantidade de clientes que ali aparecer para a troca.

    Voltamos a questionar o destino que se dá às receitas disponibilizados nos leilões do Banco Central, mas com sorriso respondeu não saber e tratar-se de algo que só diz respeito aos responsáveis da instituição.

    Numa das dependências da “Nova Câmbios” encontramos uma fila enorme para transferências bancárias. A marcação na fila era feita por meio de uma lista. Na agência tentamos obter informações sobre a venda de dólares e o que nos foi respondido é que na ocasião, terça-feira 29, não havia dólares e euros para vender.

    “Quando há são vendidos por clientes apenas 200 dólares”, refere um dos funcionários aconselhando, caso a pessoa pretenda comprar mais divisas, a optar por fazê-lo em diferentes balcões e durante vários dias.

    Na Rucâmbio foi a única instituição em que encontramos dólares disponíveis à venda. Entretanto a quantia não ultrapassa os 100 dólares diários, sendo que há possibilidade de se comprar nas diferentes dependências sem a apresentação do bilhete de passagem a um preço de 22,5 kwanzas por dólar.

    Rua 15 do Mártires, o maior banco informal

    O preço do dólar no mercado informal em Angola voltou a disparar pressionado por uma mistura de factores macroeconómicos aos quais se soma a incerteza sobre o rumo que a economia nacional tomará. Até o final do dia desta terça- feira em Luanda o dólar passou a custar no mercado informal 25 mil kwanzas ao passo que a venda ronda os 22 á 23 mil kwanzas.

    Num clima de bastante incerteza e de desconfiança a nossa equipa de reportagem infiltrou-se no mercado do Kikolo, no município de Cacuaco, onde constatou a possibilidade comprar até cinco mil dólares.

    Um jovem kíngila, com o sotaque influenciada pela língua materna kicongo, confidenciou-nos haver um grupo de senhores, cujas identidades não revelou, que os fornece as divisas até 30 mil dólares.

    Depois do mercado do Kikolo, rumamos para a Rua 15 do Mártires do Kifangondo, no Distrito da Maianga, em Luanda. A zona é tida por muitos como o maior banco informal em Angola.

    No local, é visível o movimento frenético. A rua se confunde com qualquer bairro de países oeste africano, por serem os principais detentores de cantinas aí existentes, onde se comercializam as divisas e outras actividades comerciais.

    Interpelamos Salif Mohamed “nome fictício”, um jovem oeste africano, sobre que quantidade de dólares nos podia vender e a que câmbio. Este disse que dispunha, na altura, 100 mil dólares ao câmbio de 24 e 200 Kwanzas. “Na sexta-feira passada vendemos a 28 mil kwanzas, hoje baixou”, informou aconselhando-nos a comprar naquele instante, pois a qualquer altura podia voltar a subir.

    O esquema é contínuo e constante. O senhor Roberto é outro fornecedor de divisas interpelado pela nossa reportagem, que garantiu vender-nos até cinco mil dólares.

    Na semana passada o dólar atingiu o ponto máximo em 2015. Para cada nota de 100 dólares pagava-se 28 mil kwanzas, cerca de 50 por cento acima da cotação da moeda americana no mercado formal, ao qual se estabelece ao preço de 134,630 a compra e 135 970 a venda.

    Economistas atiram a bola ao BNA

    Ouvidos pelo Semanário Económico, economistas foram unânimes em defender uma intervenção rápida do BNA para travar a crise das divisas no país Para o economista José Cerqueira, esta reação do mercado era esperada, tendo em conta a desestabilização provocada sobre a economia, com realce para os pagamentos de bens e serviços ao estrangeiro.

    O especialista disse que Governo não pode pedir aos empresários sentimento de patriotismo, sendo que maior parte deles não são angolanos, pois “não é com sentimentalismo que a economia funciona”.

    Cerqueira lembrou que no passado “já tivemos situações piores mas não podemos andar para atrás, é preciso uma reação forte do Governo para reconquistar a confiança”, rematou. (semanarioeconomico.ao)

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