
O misterioso “César”, cujo testemunho possibilitou a abertura de uma investigação penal por “crimes contra a humanidade” pela França contra o regime de Bashar al Assad, foi fotógrafo do serviço de documentação da polícia militar síria, antes de fugir do país.
Horrorizado com as milhares de fotos de corpos torturados que tirou nas prisões do regime sírio entre 2011 e 2013, “César” contactou a oposição, que lhe pediu para reunir a maior quantidade de imagens possível e organizou a sua saída do país, o que conseguiu graças a um estratagema que fez com que fosse considerado morto.
Actualmente, reside em França com vários integrantes de sua família, anónimo e sob rigorosa protecção policial.
“Durante dois anos, César trabalhou em uma unidade de documentação da polícia militar. O regime fez dele o fotógrafo de um dos piores crimes contra a humanidade”, afirmou, em Março passado, durante uma conferencia de imprensa na qual foram apresentadas várias de suas fotos, Hassan Shalabi, membro da rede que organizou a sua fuga.
“Nós fizemos contacto com César, que trabalhava em Damasco”, “depois, diante do horror, buscou a forma de fugir, mas nós o convencemos de que permanecesse no cargo” para que continuasse a enviar-nos fotos, acrescentou Imadeddine Rashid, que também participou da operação para tirá-lo da Síria.
“O informe de César – milhares de fotos assustadoras, autentificadas por vários especialistas, que mostram cadáveres torturados e mortos de fome nas prisões sírias – atesta a crueldade sistemática do regime de Bashar al Assad”, declarou nesta terça-feira, em Nova York, o chanceler francês, Laurent Fabius, que participava da Assembleia Geral da ONU.
A chancelaria francesa deu conta destes fatos à justiça, que abriu em 15 de Setembro uma investigação preliminar contra pessoas desconhecidas por “crimes contra a humanidade”.
A Investigação foi atribuída ao escritório central de Luta contra os Crimes contra a Humanidade e Crimes de Guerra (OCLCHGCG).
As fotos de César também poderiam servir de base para a preparação de um expediente de acusação contra o presidente Bashar al Assad perante um tribunal penal internacional.
Em Julho de 2014, o fotógrafo testemunhou perante o Congresso americano, ao qual apresentou várias fotos.
Em entrevista publicada no portal do semanário L’Obs, César disse que quer “mostrar a verdadeira face de Bashar Al Assad, a de um ditador que fez derramar muito sangue”.
Sua história tem sido contada por uma jornalista francesa, Garance Le Caisne, em um livro que será publicado em 7 de Outubro, com o título “Opération César – Au cœur de la machine de mort syrienne” (Operação César – no centro da máquina de morte síria, em tradução literal). (afp.com)