
Coligação galvaniza-se com sondagens diárias e PS refugia-se em pesquisas internas “qualitativas”. Especialistas dizem que há influência no eleitorado, mas não sabem em benefício de quem.
E se o efeito nos eleitores é difícil de prever (palavra de especialistas), as sondagens diárias colocaram as duas maiores campanhas em alvoroço. Na coligação PSD-CDS já se ouvem gritos de “maioria”, enquanto no PS se tenta ultrapassar o desânimo e dar a volta a partir de um outro tipo de sondagens: as “qualitativas”.
A semântica não é uma questão de somenos: não foi por acaso que o PS escolheu “confiança” para palavra-chave da sua campanha, em vez de “mudança”.
Sendo evidente que a direção do partido se interessa por todas as sondagens quantitativas (as que medem intenções de voto) que têm sido publicadas, a verdade também é que tem outras – conhecidas apenas por um núcleo restrito – que são as que importam para modelar o discurso.
Essas são as chamadas sondagens qualitativas. Basicamente medem o que os eleitores querem ouvir e o que não querem ouvir. Ora nelas a direção do PS detetou uma espécie de contradição muito difícil de resolver num discurso político simples e linear.
Ponto n.º 1: há um elevado nível de rejeição às políticas levadas a cabo pela coligação PSD-CDS nos últimos quatro anos. Ponto n.º 2: ao mesmo tempo, há muito medo de mudar, uma recusa radical de experiências novas.
O eleitorado sabe com o que contar da coligação e, mesmo não gostando, dá sinais de preferir – como aliás o próprio Portas já disse – “um pássaro na mão do que dois a voar”. Foi por causa desta rejeição do experimentalismo que o PS não apostou na palavra “mudança” e preferiu “confiança”.
Ao mesmo tempo tenta sinalizar que é um PS diferente do de Sócrates – por exemplo com a ideia, central no programa socialista, de só avançar com grandes investimentos públicos mediante consenso prévio com o PSD.
Quanto às sondagens que os media têm vindo a publicar, elas foram indiferentes para a definição do mapa da campanha. Falando ao DN, Duarte Cordeiro, diretor da campanha de Costa, garantiu que o facto de o PS não conseguir descolar nas sondagens da imprensa – ou estar até abaixo da coligação – não tem influenciado a mobilização dos militantes. Além disso, elas “não permitem uma leitura homogénea” sobre as intenções de voto.
Ontem, num almoço em Paião, Figueira da Foz, António Costa não conteve um desabafo contra as sondagens diárias que têm sido divulgadas pela RTP e pela TVI: “Passos Coelho já ganhou umas eleições a enganar os portugueses, deve pensar que pode vencer umas segundas eleições a mentir. Deve ser por causa das tracking polls que julga que já só está a uma mentira da vitória.”
“Maioria, maioria, maioria”
Na coligação as sondagens diárias nos media têm servido para animar as “hostes laranjinhas”, como lhes chamou Marcelo Rebelo de Sousa, uma vez que a coligação tem aparecido à frente nas tracking polls. Além disso, como garantiu fonte da direção do PSD, os dados de pesquisas que os partidos da coligação pediram andam próximos dos números dos media. Isso mesmo tem sido utilizado para mobilizar e motivar os apoiantes.
Fonte da direção, numa opinião engajada, explicou ao DN que “as estruturas regionais estão a pedir mais materiais de campanha porque a mobilização está a ser acima do esperado”. Nos últimos dias já há quem grite nas ações de campanha por “maioria, maioria, maioria”. Paulo Portas – que desta vez não tem atacado as sondagens de forma insistente – já pediu calma aos apoiantes . Afinal, como disse no dia do anúncio da coligação (a 25 de abril): “Prudência e caldos de galinha nunca são de mais.”
Bloco e CDU ignoram sondagens
Confrontado pelo DN sobre o efeito das sondagens na campanha, fonte da CDU limitou-se a dizer que a estratégia eleitoral não é ditada pelos humores de sondagens ou pseudosondagens.
No Bloco de Esquerda, as tracking polls são vistas como “alheadas da realidade”. As palavras são do líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, que diz que já se percebeu a “fragilidade” destas sondagens diárias. “Sobretudo porque sabemos da sua falta de adesão à realidade e falta de consequência”.
Pedro Filipe Soares disse ainda estar em causa uma espécie de “orquestração da democracia”, pois há discrepâncias “tão gritantes” entre os números que vão sendo conhecidos diariamente e os resultados eleitorais, que os próprios eleitores acabam por não as levar demasiado a sério. “Acabam por ruir como baralhos de cartas”, sintetiza.
Efeito nos eleitores? Sim.
Se é certo que as sondagens afetaram algumas campanhas, também afetam os eleitores. Mas em que sentido? Isso não é possível saber.
O politólogo e especialista em sondagens Pedro Magalhães explica (ver entrevista ao lado) que as sondagens diárias, favoráveis a PSD e CDS, podem fazer que “algumas pessoas se decidam a favor da coligação. Mas também gerar o efeito entre os eleitores de esquerda para se deslocarem para o PS”.
Sobre as sondagens diárias, o coautor do livro Insondáveis Sondagens e chefe de gabinete de Pedro Santana Lopes, Diogo Agostinho, admite que as sondagens diárias são “low cost”, uma vez que é transversal às sondagens em Portugal a “falta de meios”. No entanto, Diogo Agostinho acredita que estas sondagens bipolarizam, contribuindo para que haja uma maior propensão “para o voto útil: neste caso pode levar os indecisos de esquerda a votar no PS e aqueles que não querem que o PS volte a votar na coligação”. (dn.pt)
Forca Passos Coelho a bem de Portugal y