
Costa fala em “gigantesco buraco” nas contas, mas garante que programa do PS é imune ao “novo défice”. Passos mantém promessa de défice abaixo dos 3% em 2015
Numa campanha desanimada por sondagens desfavoráveis e por uma fraca mobilização de rua, as notícias vindas do Instituto Nacional de Estatística (INE) serviram como um precioso tónico para a comitiva do PS. Já a coligação desvalorizou os números, reduzindo o aumento do défice de 2014 a um mero exercício de contabilidade.
Da parte socialista, a exploração do caso começou na terça-feira. João Galamba, candidato em Coimbra, foi de propósito ao comício em Viseu dizer que o INE se preparava para anunciar um défice de 7,4 em 2014 – o mesmo de 2011.
Não foi bem 7,4 – foi 7,2. Ontem, em Águeda, Pedro Nuno Santos reagiu aos números oficiais dizendo que o país está perante o “maior fracasso” da governação Passos–Portas. Para o socialista, Passos “é incapaz de assumir as suas responsabilidades”, lembrando que o responsável de “tudo o que aconteceu com o Novo Banco” é o primeiro–ministro e não o governador do Banco de Portugal. Dito isto, deixava a pergunta: “Mas afinal para que serviu a austeridade?”
Mas pouco depois a direção de campanha do PS percebeu que tinha um problema: garantir que as consequências que este novo défice de 2014 terá no défice final deste ano não atingirão negativamente a aplicação do programa do PS. Isto porque Pedro Nuno Santos tinha admitido que se o PS chegar ao governo terá uma missão “mais desafiante” para enfrentar esta “pesada herança”.
Coube ao próprio António Costa tentar resolver o problema. Segundo disse no almoço-comício em Águeda, o programa eleitoral do PS foi feito com suficiente “realismo” para “acomodar” o “gigantesco buraco” orçamental divulgado pelo INE.
Já Passos Coelho resumiu o novo défice a uma “contabilização estatística” sem impacto e frisando que o Estado já recebeu “mais de 120 milhões de euros de juros do dinheiro que emprestou” ao fundo de resolução e, “quanto mais tarde for reembolsado, mais juros recebe”. Por outro lado, o presidente do PSD defendeu que os dados do INE sobre 2015 reforçam a convicção do governo de que está ao alcance um défice abaixo dos 3% este ano. Costa, claro, discorda, pois diz que “ficou absolutamente claro que as contas daquele programa de estabilidade assentavam numa ficção.”
À esquerda do PS, os números também serviram de arma de arremesso contra a coligação. O líder da CDU, Jerónimo de Sousa, sublinhou que o défice segue semelhante ao de 2011, após três anos de “saque ao povo”, antevendo a “condenação” das políticas do governo PSD/CDS-PP nas urnas.
Também a líder do Bloco, Catarina Martins, afirmou que ontem foi “o dia em que a campanha eleitoral da direita morreu” porque agora que “a conta está à vista (…) há duas mentiras que foram desmontadas”. A primeira , defende, “é que os sacrifícios dariam algum resultado nas contas públicas”, e a segunda é a afirmação de que “a resolução do BES não ia custar um tostão aos contribuintes”. (dn.pt)