Ouagadougou – O presidente burkinabe, Michel Kafando, destituído por militares golpistas em 17 de Setembro de 2015, voltará ao cargo nesta quarta-feira – disse terça à AFP o general golpista Gilbert Diendéré.

“Os chefes de Estado (da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental) chegarão amanhã (a Ouagadougou) para o seu regresso ao cargo”, realçou.
Acrescentou que teoricamente, iria recebê-los quarta-feira no aeroporto, e Kafando vai acompanhá-los depois”, afirmou Diendéré, chefe do Regimento de Segurança Presidencial (RSP), que liderou o golpe de Estado.
O Exército do Burkina Faso e os golpistas assinaram um acordo, em Ouagadougou, para evitar um confronto. O acerto foi divulgado para a imprensa na presença do rei dos Mossis (etnia maioritária no país), Mogho Naaba, autoridade tradicional muito respeitada.
Entre os cinco pontos do acordo, o Regimento de Segurança Presidencial (RSP), responsável pelo golpe, compromete-se a “aceitar o acantonamento” na sua base no “campo” Naaba Koom II e “ceder os postos de segurança” que ocupam “na cidade de Ouagadougou”.
As forças “legalistas” prometeram “recuar as tropas em 50 km” e “garantir a segurança do pessoal (do RSP) e de suas famílias”.
Reunidos terça-feira numa cimeira extraordinária na cidade nigeriana de Abuja, os chefes de Estado e de Governo da África Ocidental pediram à guarda presidencial que deponha as armas e exigiram das outras unidades do Exército que não façam uso da força, para evitar a perda de vidas humanas, informou o presidente da Comissão da Cedeao, Kadré Désiré Ouédraogo.
Os presidentes concordaram em enviar nesta quarta-feira uma delegação de chefes de Estado “para devolver Michel Kafando nas suas funções de presidente de transição do Burkina Faso.
Depois de vários dias em prisão domiciliar, os golpistas decidiram libertá-lo na segunda-feira.
Terça-feira, os golpistas libertaram o primeiro-ministro interino, tenente-coronel Isaac Zida – disseram várias fontes, pouco depois de o Exército entrar na capital para negociar a rendição dos responsáveis pelo golpe.
Uma fonte da Polícia e um membro do círculo de Zida contaram à AFP que o PM, detido no Palácio presidencial, desde o golpe da última quarta-feira, foi autorizado a voltar para sua residência oficial.
Num comunicado divulgado terça à noite, Zida dirigiu-se a seus ex-companheiros de armas do Regime de Segurança Presidencial (RSP).
“A todos os meus irmãos de armas do RSP, vocês se comprometeram a servir à Pátria, mas vocês tomaram o mau caminho. Voltem às fileiras do povo para que, juntos, possamos construir uma nação de paz, de justiça e de liberdade”, declara a nota.
Mantido como refém pelos golpistas desde 16 de Setembro, ele confirmou a sua “libertação terça de manhã por volta das 4h00 locais e garantiu que passa bem.
“Estou bem, mas moralmente chocado com o que meu país atravessa”, desabafou.
Primeiro-ministro da transição, Zida estava em conflito aberto com o RSP antes do golpe.
Ele assumiu interinamente a função de chefe de Estado, após a queda do presidente Blaise Compaoré, deposto por pressão popular em 2014.
“Felicitando o povo por sua luta ferrenha pela liberdade, pela paz e pela democracia, eu gostaria de garantir a todos os filhos e filhas de Burkina que a luta, à qual vocês foram obrigados, ainda terminará com uma vitória”, acrescenta a nota.
“Dirigindo-me ao conjunto das Forças Armadas nacionais, eu renovo minha total confiança”, concluiu. (Angop)