
Banca não terá capacidade para financiar projectos de crescimento da indústria transformadora “no curto e médio prazo”, alerta secretário de Estado da Indústria. Sector cresceu 29% entre 2002 e 2013.
As empresas devem ver o mercado de capitais como uma alternativa para o seu financiamento, pois a banca “no curto e médio” não conseguirá apoiar o seu crescimento, com vista à diversificação da economia, defendeu o secretário de Estado da Indústria. “Apesar de registar crescimento em termos institucionais e associativos”, disse Kiala Gabriel, no primeiro encontro do Plano Operacional de Preparação das Empresas para o Mercado Accionista (POPEMA), que decorreu na semana passada, em Luanda.
A bolsa de valores, sublinhou o responsável, perante uma plateia de gestores, é “uma boa alternativa para o financiamento das empresas”, numa fase em que Angola, “apesar dos constrangimentos, está empenhada no processo de industrialização e de diversificação da economia, no sentido de diminuir as importações, fomentar as exportações e lançar as bases para um crescimento interno sustentável”.
Segundo Kiala Gabriel, o sector da indústria registou um crescimento de 29% entre 2002 e 2013, período no qual foram licenciados investimentos privados avaliados em mais de 4 mil milhões USD e adoptadas várias medidas macroeconómicas.
Mas, entre 2009 e 2012, houve um arrefecimento do investimento. Um recenseamento realizado pelo Ministério da Indústria revela que, em 2002, o sector da indústria transformadora contava com 2.140 empresas activas e 29.856 trabalhadores, pesando 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Já em 2012, acrescentou, este peso tinha aumentado 1,5 vezes, para 7% do PIB, empregando 45,1 mil trabalhadores, correspondentes a apenas a 0,6 % da população activa. Nesse ano, os sectores do comércio, banca, seguros e serviços empregavam 7,7 % da população activa, e as obras públicas e construção, 4,7 %.
Entre 2010 e 2012, afirmou, o investimento privado na indústria transformadora não ultrapassou os 200 milhões USD, gerando apenas mais 140 empresas e 3.570 postos de trabalho. Este abrandamento do crescimento do sector, explicou, já vinha sendo sentido desde 2009, fruto “do impacto da crise mundial sobre a economia angolana, cujo crescimento foi de apenas 2,9 %”.
Boa governação transmite confiança Patrício Vilar, administrador executivo da Comissão do Mercado de Capitais (CMC), explicou que o POPEMA pretende “fazer um diagnóstico organizativo das empresas e detectar as áreas onde é preciso realizar algum trabalho antes de estas começarem a pensar em entrar para a bolsa de valores”. Este programa, acrescentou, serve também de fomento “para dinamizar o arranque do mercado accionista em Angola”.
A entrada neste mercado, disse o responsável, exige que as empresas se preparam “seguindo as metodologias do programa” para que, “depois dos resultados alcançados, sejam determinadas as sociedades em condições de entrar para o mercado accionista”. “Quanto mais transparentes forem os conselhos de administração das empresas, maior será a possibilidade de estas verem e suas acções adquiridas no mercado”, disse Patrício Vilar, destacando que as empresas não são obrigadas a aderir ao POPEMA.
No entanto, afirmou, “têm de ter a noção de que se não estiverem devidamente preparadas podem não ser admitidas na bolsa”. Segundo o responsável, “a adopção de boas práticas de governação corporativa transmitirá aos investidores um entendimento sólido de como são tomadas as decisões nas empresas que podem afectar os seus investimentos”. Patrício Vilar sublinhou igualmente que as empresas devem ponderar as “vantagens” que existem em financiamentos alternativos.
“Torna-se mais razoável recorrer directamente à bolsa em vez de ao crédito bancário”, defendeu. O evento foi uma iniciativa do Ministério da Indústria e da CMC, e contou com a participação de vários presidentes de conselhos de administração de empresas públicas e privadas, para além de estudantes universitários, principalmente de Economia. (expansao.ao)
Por: Osvaldo Manuel