
(Foto: D.R.)
Regra do Banco Central Europeu ‘força’ BPI a reduzir exposição a dívida pública angolana, o que implica venda de pelo menos uma parte da posição na ‘Fortaleza BFA’.
O BPI poderá vender total ou parcialmente a posição de 50,1% que detém no BFA para cumprir com a regra dos grandes riscos, imposta em Janeiro deste ano pelo Banco Central Europeu (BCE), admitiu o presidente executivo do banco português.
Em entrevista ao Expresso, Fernando Ulrich explicou que não está em causa nenhum risco associado ao BFA, que já rendeu 876 milhões de euros (cerca de 122 mil milhões Kz, ao câmbio actual) à casa-mãe desde 1993.
“A partir de 1 de Janeiro as regras mudaram, a dívida soberana angolana passou a ponderar 100%, e o banco em termos consolidados passou a violar os limites”, disse, lembrando que, antes da nova disposição do BCE, a exposição a Angola pesava 0% para efeitos de rácios de capital.
“É uma sobreexposição formal e regulamentar e não em termos de risco”, realçou o gestor, sublinhando que o banco está a negociar uma solução “em vários tabuleiros”, que envolve o accionista angolano [Unitel] e que terá de ser aprovada pela assembleia-geral, pelo BCE e pelo Banco Nacional de Angola.
“As soluções possíveis vão desde a venda pura e simples dos 50,1% até à venda parcial. É possível fazer uma cisão, criando uma holding onde fica a posição no BFA, e as acções dessa holding são distribuídas aos accionistas”, explicou. “Essa holding teria, no início, a mesma estrutura accionista do BPI, mas seria cotada na bolsa, pelo que quem quisesse depois podia vender”, acrescentou, afirmando que esta estrutura seria comparável a “um banco irmão” do banco português.
“Poderá também ser criada uma holding em que se abre o capital a investidores internacionais, mas da qual o BPI será também accionista, com menos de 50%, afirmou Fernando Ulrich, revelando que a solução poderá ser “uma combinação” destas possibilidades.
Regra é “infeliz”
O gestor recusou indicar o prazo para a solução do problema e qualificou a regra imposta pelo BCE como “infeliz”.
“Quando um país não tem equivalência de supervisão, como Angola, a dívida soberana desse país não é ponderada a zero e sim a 100%”, afirmou, sublinhando que “esse limite faz sentido para as empresas, mas não concordo que se aplique a um Estado”. “Temos a infelicidade de ter de cumprir” a regra, reforçou, garantindo que o BPI “não tem nenhum crédito ao BFA”, que tem, aliás, “excesso de liquidez que tem de aplicar fora de Angola”.
“Uma parte importante é em Portugal, no BPI. Se tivermos de falar de sobreexposição, é ao contrário”, disse Ulrich. O CEO do BPI afirmou que os problemas económicos e financeiros que Angola atravessa “ainda não” estão a afectar a actividade do BFA, nomeadamente ao nível do incumprimento do crédito.
“Mas estamos preparados para isso”, disse o responsável, adiantando que “é evidente que o nível de depósitos na economia angolana não vai crescer da mesma forma”. O banco angolano, que durante anos o BPI ‘apresentou’ nas suas contas como a ‘Fortaleza BFA’, teve um lucro de 139,1 milhões de euros (perto de 19,4 mil milhões Kz) no primeiro semestre deste ano, contribuindo com 69,6 milhões de euros para o resultado líquido consolidado do banco luso, que no mesmo período registou ganhos de 76,2 milhões de euros. (expansao.ao)
Por: Ricardo David Lopes