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    Gestão 2.0: Desemprego jovem e combate à pobreza

    JAIME FIDALGO Director executivo da revista Exame Angola (DR)
    JAIME FIDALGO
    Director executivo da revista Exame Angola
    (DR)

    Estes são os dois grandes desafios que pairam sobre a economia mundial. Movem-se em sentido contrário. Enquanto o número de pessoas que vive no limiar da pobreza desce, o de jovens desempregados sobe. São tendências que Angola também conhece bem.

    No ano 2000, os chefes de 147 governos acordaram reduzir para metade o número de pessoas que vive no limiar da pobreza até 2015 (usando os níveis de 1990 como referência). Assim nasceram os chamados “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio” (OMD) das Nações Unidas Parte das metas não foram atingidas – cortar a taxa de mortalidade infantil em 2/3 ou a mortalidade materna em três quartos -, mas a da pobreza foi… cinco anos antes.

    Em 1990 43% da população mundial (1,9 mil milhões) viviam com menos de um dólar  (entretanto o limiar foi actualizado para 1,25 dólares). No ano 2000, a proporção caíu para um terço. Em 2010 passou a 21% (1,2 mil milhões). Ou seja, a taxa mundial de pobreza foi cortada para metade em 20 anos.

    Agora o mundo interroga-se se é possível colocar a outra metade, nos próximos 20 anos. Na última reunião do Banco Mundial, o presidente Jim Yong Kim pegou numa folha de papel em branco e escreveu: 2030. “Fixem a data. Esta é a meta para erradicar a pobreza no mundo”.

    As Nações Unidas já estão a preparar os objectivos do milénio pós-2015 e é bem provável que o secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-Moon aproveite a dica do seu compatriota. Agora que o mundo aprendeu como se faz deveria ser mais fácil eliminar a metade que falta. Mas os economistas dizem que pode ser mais complicado. A proeza até aqui deveu-se, em grande medida, ao crescimento económico dos emergentes.

    Só a China tirou 680 milhões da pobreza, de 1981 a 2010, mais do que a população da América Latina e três quartos da redução global. Mas não é crível que os emergentes continuem a crescer ao mesmo ritmo. E, a partir de agora será ainda mais decisivo que  a riqueza seja mais bem distribuída. O êxito depende, acima de tudo, do que se fizer até lá na África Subsariana.

    Angola congratulou-se recentemente por estar entre as 20 nações que reduziram para metade a percentagem de pobres (passou de 63,9% para 27,4% em 20 anos). Mas ainda não cumpriu a segunda meta: cortar em 50% o número absoluto de pobres hoje estimados em cerca de 5 milhões.

    Na edição passa da Exame  o FMI  deixou uma sugestão. Através de um programa  que os académicos designam de transferências monetárias condicionadas” (caso do Bolsa Família do Brasil, ou o Oportunidades, do México) de 66 dólares por mês para os mais pobres puder-se-ia atingir 2 milhões de pessoas. Isso significaria gastar 450 milhões de dólares por ano.

    Significaria também cortar pouco mais de metade do que hoje se gasta nos subsídios à electricidade ou 10% dos dirigidos aos combustíveis como escreve na revista The Economist . No passado, a pobreza resultava da escassez, da carência. Hoje é apenas um problema de identificação, de selecção de alvos de uma melhor distribuição.  Em tese parece ser um problema mais fácil de resolver”.  Palavras que assentam a Angola.

    A mesma revista analisou noutra edição o drama do desemprego jovem. Um relatório da Organização Geral do Trabalho divulgado em Julho estima que há 73 milhões de jovens desempregados no mundo (taxa de 12,6%). A revista britânica elege duas grandes causas. A crise no mundo occidental reduziu a oferta de emprego e é mais fácil recrutar jovens do que despedir idosos.

    E nas economias emergentes, os mercados de trabalho, são em grande medidas ineficientes. . Acrescenta que tudo seria mais fácil se o mundo voltasse a crescer a taxas superiors ( a última previsão do FMI aponta para 3%). Mas recorda que a Espanha e o Egipto já tinham altas taxas de desemprego jovem enquanto cresciam.

    Logo, talvez seja preferível olhar para o que resulta nos países com baixas taxas. O ponto de partida é a aposta na Educação. Segundo a OCDE, os jovens que abandonam a escola mais cedo têm o dobro da probabilidade de ficar desempregados do que os que concluem a universidade. Muitos países concluíram, porém, que mais do que aumentar os anos de escolaridade, é preciso adequar o conteúdo do ensino às necessidades do mercado. Os nórdicos chegam a investir em programas personalizados de formação e “empregabilidade”.

    A Alemanha, que tem a segunda menor taxa de desemprego jovem do mundo, aposta no ensino técnico e nos estágios profissionais, exemplo seguido pela Coreia do Sul e Singapura.

    Angola também o poderia fazer. O estudo GEM estima que o desemprego jovem no país seja de 44%. Outro estudo da Universidade Católica prova que não tem havido correlação entre o crescimento da economia e a redução do desemprego (estimado em 26%). A prioridade é inverter o quadro. Fazer com que a economia cresça em sectores potenciadores do emprego.

    Que os novos postos de trabalho sejam ocupados preferencialmente por jovens angolanos (criando-se incentivos fiscais às empresas, por exemplo, e que o ensino universitário ou técnico profissional seja mais ajustado ao mercado de trabalho. Se assim for talvez as duas taxas – redução da pobreza e desemprego jovem – possam convergir, ao contrário do que sucede na maior parte do mundo. JAIME FIDALGO (exameangola.com)

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