
O director do Museu da Escravatura de Angola, Jacinto Vladimiro Fortuna, apontou domingo, no Dondo, município de Kambambe, Kwanza Norte, a forte presença de africanos no Brasil como consequência das lutas de ocupação das terras africanas protagonizadas por Portugal, Inglaterra e Holanda.
O responsável, que fala na numa palestra sob o tema “Kilombo Versus Kilombo”, fez uma retrospectiva histórica, tendo lembrado a forte pressão exercida no séc. XV pelos ingleses e holandeses sobre Portugal que dominava o hemisfério Sul, que representava essencialmente a África, obrigando-o a se deslocar até ao sul do continente, e se instalar nas terras que hoje constituem Angola.
A partir de então, Portugal procurou reforçar a sua presença no Brasil, onde explorava grandes roças da cana-de-açúcar, em que a mão-de-obra era originária de África, daí o surgimento dos Kilombos do Brasil, caracterizados por povos negros em pequenos círculos territoriais.
O fluxo de carregamento de povos negros nos navios para o Brasil, no período entre os Séculos XVI e XVII, impediu a transposição dos traços culturais simples, porquanto as instituições que conferiam a originalidade das diversas culturas africanas não foram levadas nos navios negreiros, o que obrigou aos cativos a criarem novos traços, na base de uma conservação profunda dos elementos da gramática africana.
Por este facto, disse, há necessidade da compreensão da história da América e da África, da importância da comparação entre os diferentes sistemas, do papel dos escravos como sujeito histórico para a conformação dos sistemas em que viviam, afiguram-se como elementos de estrema importância para a descoberta ao nível da sobrevivência das formas culturais africanas no mundo contemporâneo.
No caso do Kilombo dos Palmares, no Brasil, enquanto uma organização política, social e militar, corresponde a reprodução do modelo que existiu em Angola (o Kilombo do Kwanza Norte), de acordo com pesquisas feitas por estudiosos, interessados em determinar o número de africanos escravizados nas Américas.
Para Jacinto Fortuna, as regiões do Congo e de Angola foram as principais exportadoras de escravos, ao totalizarem 45 porcento dos onze milhões de africanos, vítimas do tráfico negreiro, para o suporte fundamentalmente dos compromissos internacionais, assumidos pelo Brasil, no fornecimento do açúcar.
Salienta que a forte presença de africanos e os maus-tratos nas grandes plantações brasileiras, no Século XVI, resultou no surgimento de uma sublevação dos negros, dando origem ao Kilombo, um punhado de terras situado na região montanhosa dos Palmares, com animais ferozes, mosquitos e outras ameaças para a integridade física do homem, para onde se refugiaram e se instalaram durante um século.
Esta região, também conhecida como “Angola Janga ou Pequena”, após a sua fundação, atraiu para si várias comunidades africanas que se escapavam da escravatura, daí o crescimento que conformou a permanência definitiva de aproximadamente 20 mil africanos nas terras dos Palmares, distribuídos por mil e 838 comunidades, segundo um estudo divulgado em 2012 pela “Fundação Palmares”.
Assim, o termo Kilombo afigura-se, no contexto internacional, como sendo o conceito de africanos bantus, que se modificam com o decorrer do tempo, na condição de acampados, guerreiros, residentes em florestas ou divisões administrativas.
A palestra inseriu-se no quadro da realização da 4ª edição da feira de artesanato, encerrada neste domingo, na cidade do Dondo, que durou três dias. (portalangop.co.ao)