
O mundo deve alterar o seu discurso “estereotipado e sócio-economicamente descontextualizado” sobre África, devido ao crescimento económico registado na última década, naquela zona do globo, defendeu, em Maputo, o chefe da Comissão Económica da ONU para o continente, o guineense Carlos Lopes. Até 2015, cerca de 190 milhões de africanos passarão a integrar a classe média, sublinhou.
“O discurso estereotipado e afro-pessimista, frequentemente baseado em instrumentos quantitativos e qualitativos externos, sócio-economicamente descontextualizados, leva a que muitos africanos sintam que o chamado momento africano não esteja a ser tido em conta no actual panorama socio-económico mundial”, referiu o guineense, citado pelo jornalista da Rádio ONU, Manuel Matola.
Numa palestra intitulada “Educação e Formação – Alavanca de Desenvolvimento”, Carlos Lopes defendeu que as mudanças no panorama económico requerem, igualmente, mudanças de paradigmas narrativos sobre a região.
“África é hoje uma potência económica emergente, na medida da evolução sócio económica que tem vindo a registar ao longo dos últimos 10 anos. Apesar da evidente expansão económica do continente, persiste uma certa miopia pessimista, discursiva, que rasura visões comparativas que colocam em perspectiva problemas considerados como intrinsecamente africanos, por exemplo, um deles a corrupção”.
Carlos Lopes assinalou que o crescimento do continente evoluiu de 2,1%, em 1990, para 5% em 2012 e apesar da crise mundial, tem perspectivas de crescer.
“Se, no início do milénio, o PIB africano era de 600 biliões de dólares, hoje situa-se em 2,2 triliões, o crescimento mais rápido da história contemporânea. Se acrescentarmos a estes dados ao facto de que a estabilidade política atraíu no início de 2012 cerca de 80 biliões de dólares de investimento estrangeiro, prevendo-se que até 2015, em apenas mais dois anos, este montante suba para 150 biliões de dólares, está justificado a mudança de narrador sobre a atual narrativa do continente”.
PERFIL
Carlos Lopes holds a PhD in history from the University of Paris1, Panthéon-Sorbonne and a research master from the Geneva Graduate Institute of International and Development Studies. Carlos Lopes nasceu em Cachungo, no Norte da Guiné-Bissau, numa família originária de Cabo Verde. Licenciou-se em História em Paris, onde se destacou pela sua tese “História pré-Colonial da Gâmbia, Casamança e Guiné-Bissau”. Estudou depois ciências sociais na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro e fez um estudo sobre a contribuição intelectual de Amílcar Cabral. Foi discípulo de Mário Pinto de Andrade, um dos fundadores do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Entre outras funções, foi director executivo do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR), em Genebra. Em Setembro de 2012 foi nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, secretário executivo da Comissão Económica para África, com sede em Adis Abeba. MANUELA FERREIRA (africamonitor)