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    Reportagem Filarmónicas: A crise mora aqui

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    O Governo decretou que a 01 de setembro se comemora o Dia Nacional das Bandas Filarmónicas, mas os “conservatórios do povo” têm poucas razões para o assinalar no domingo: a crise “empurrou” vários para apertos financeiros e “fechou” portas de outros.

    Que o diga José Alberto Gordo, que lidera uma coletividade em Mira Sintra e se viu obrigado, “com muita mágoa”, a acabar, em janeiro, com a banda filarmónica, criada em 1977 para “incentivar os miúdos para a música, e não irem por maus caminhos”.

    As dificuldades financeiras, relata, agravaram-se no ano passado, com o corte, para metade, do subsídio atribuído anualmente pela Câmara Municipal de Sintra. Com poucos concertos, com as poucas receitas do bar da coletividade e sem verba para pagar instrumentos e honorários a maestro, a banda arquivou as partituras de 300 obras de música popular e sinfónica.

    “A curto prazo, não conseguimos reativar a banda”, lamenta, não obstante a coletividade manter a escola de música, de frequência gratuita, embora com poucos alunos.

    Nas contas de José Alberto Gordo, que teve dois filhos a tocar na banda, mais de 100 “conservatórios do povo”, nome por que são conhecidas popularmente as bandas filarmónicas, acabaram em 2012, de norte a sul do país, fruto da crise, que as privou dos mesmos apoios das autarquias, as suas principais “almofadas financeiras”.

    Tristão Nogueira, que preside à Confederação Musical Portuguesa, não arrisca tanto nas estatísticas e destaca apenas mais de 200 bandas filarmónicas “em dificuldades”, num universo de 720 ativas, muitas centenárias.

    No entanto, é perentório quando justifica por que as bandas filarmónicas “estão aflitas, algumas com dívidas”: com a crise, “a maior parte” dos municípios reduziu os subsídios e, por arrasto, a promoção de concertos…”isso acabou”.

    A banda de Freamunde, fundada em 1822, não acabou, nem vai acabar. “Não vou por aí”, vinca o diretor, José Queirós, músico há 48 anos.

    Para contornar o sufoco financeiro, recorre “ao esforço” dos amigos da banda e a campanhas de angariação de fundos, por altura das Janeiras, porque as quotas a 50 cêntimos por mês dos menos de 300 sócios não chegam.

    “Os instrumentos são caríssimos, um pode custar 7.500 euros”, aponta, acrescentando que as saídas da banda para o resto do país e para o estrangeiro, em concertos, “são menos” por causa dos custos com alojamento e transportes.

    “Se não estamos bem, pior ficaríamos”, sustenta, realçando que a Câmara de Paços de Ferreira pede apenas “alguns concertos” no Natal e no 25 de Abril e as atuações em festas e romarias são cada vez em menor número, com as paróquias e o município a pagarem “menos dinheiro pelos serviços”.

    José Queirós defende uma “ajuda mais forte” do Governo, o mesmo que a 14 de agosto, em Conselho de Ministros, consignou 01 de setembro como Dia Nacional das Bandas Filarmónicas, num reconhecimento pelo “trabalho desenvolvido em prol da sociedade da cultura”.

    Porque, sobre os apoios governamentais, o diretor da banda de Freamunde responde, irónico: “Sujeitamo-nos àquilo que nos dão – nada!”.

    A agência Lusa procurou saber, sem sucesso, através do Ministério da Educação e do gabinete do secretário de Estado da Cultura, que tutelam o ensino e a divulgação da música, se a atribuição do Dia Nacional das Bandas Filarmónicas se traduzirá em medidas de apoio concreto, e, se sim, quais.

    “As bandas filarmónicas substituem-se ao Estado, ensinando música gratuitamente nas zonas mais recônditas do país”, lembra, a este propósito, André Granjo, maestro da União Filarmónica do Troviscal.

    A banda já atuou no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, e foi premiada, por diversas vezes, em festivais na Europa. Sobrevive dos apoios da Câmara de Oliveira do Bairro, concertos e atuações em festas religiosas por enquanto não lhe faltam.

    “Estamos a ter o número suficiente para manter a banda e a escola de música”, sublinha o maestro.

    André Granjo entende que o Estado deve dar o exemplo, não só promovendo a realização de concertos e a criação de um repertório de autores portugueses para bandas, mas também atribuindo isenções ou benefícios fiscais para a compra de instrumentos.

    O presidente da Confederação Musical Portuguesa, Tristão Nogueira, desabafa: “Se as bandas desaparecerem, as pessoas ficarão a ver televisão, ‘enlatados’…”. (noticiasaominuto.com)

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