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    Entre polêmicas e pressão profissional, médicos recomeçam a vida no Brasil

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    Adaptando-se aos poucos com a nova vida no Brasil, médicos vindos de Cuba e de outros países desembarcaram por aqui nesta semana para começar o treinamento do programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, e foram recebidos com uma considerável pressão profissional e um clima bastante polêmico.

    Segundo o Ministério, estes bolsistas do Governo Federal serão direcionados para atuar na saúde básica nas periferias e em municípios do interior do país, onde há uma demanda que não foi preenchida por médicos brasileiros, mas isso não evitou a revolta dos conselhos regionais de medicina.

    Na última segunda-feira, um grupo de médicos cubanos foi hostilizado em Fortaleza sob gritos de “escravos” e “incompetentes” durante um protesto organizado pelo Sindicato dos Médicos do Ceará após a aula inaugural do treinamento.

    Diversos conselhos regionais de medicina do país exigem a aplicação do Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos), dispensado no edital do Mais Médicos, que tem duração de três anos.

    Sobre a forte reação dos representantes da classe médica, que declararam que não vão conceder os registros profissionais para os estrangeiros, a médica cubana Marlene Ramirez Gonzalez, de 43 anos, afirmou que conseguir o registro não é o objetivo do grupo.

    “Não estamos aqui para isso. Nós viemos para uma missão solidária, estamos acostumados a ajudar os países irmãos e queremos elevar os indicadores de saúde do Brasil. Nosso objetivo é este”, disse a médica, que já estudava português há cerca de um ano para vir ao país.

    Segundo o Ministério da Saúde, 682 profissionais estrangeiros ou brasileiros formados fora do país já chegaram para trabalhar no Brasil. Destes, 400 são cubanos.

    Ainda está prevista a chegada de mais 3,6 mil médicos de Cuba neste ano, conforme acordo feito entre o Ministério da Saúde e a OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), além dos candidatos que estão fazendo a inscrição individual, no site do programa.

    Conforme as regras de trabalho de missões humanitárias do governo de Cuba, os médicos cubanos continuam recebendo o valor integral de seus salários de lá – já que eles mantêm seus empregos garantidos quando voltarem ao país – com um adicional de 20% por estarem em missão no exterior.

    Mas isso não tem relação com a bolsa de R$ 10 mil, paga pelo governo federal brasileiro aos profissionais do programa: o valor irá primeiramente para a OPAS, responsável por direcionar o pagamento ao governo de Cuba, que distribuirá uma porcentagem aos médicos que estão no Brasil.

    Segundo especulações baseadas em outros contratos de Cuba com o exterior, dependendo do custo de vida da cidade onde o médico se estabelecer, o governo cubano pode confiscar até 70% do salário, embora a vice-ministra da Saúde do país, Márcia Cobas, tenha afirmado no começo da semana que os profissionais devem receber no mínimo 40% do valor da bolsa.

    Em entrevista recente, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse não saber se o salário dos profissionais cubanos seria suficiente para arcar com o custo de vida nas cidades brasileiras.

    A cubana Silvia Belvides Hernandez, de 41 anos, não quis comentar sobre o valor da bolsa que deve ser chegar ao bolso dos profissionais, mas disse ter certeza de que “é o suficiente para viver aqui”.

    Alheia à polêmica salarial, a argentina Helga Adriana Gonzalez, de 40 anos, deixou a cidade de Puerto Iguazu para trabalhar no Brasil, mas acabou ficando perto de casa: encaminhada para a cidade São Miguel do Iguaçú, no Paraná, a médica estará a apenas 50km de distância de sua terra natal.

    Mas a ginecologista não pretende cruzar o Rio Paraná a cada final de semana. “Para conhecer e me comprometer 100% com a comunidade que precisa do meu trabalho agora, minha família se mudou para o Brasil. Minhas filhas vieram aproveitar comigo essa experiência humana”, disse Helga.

    João Alfredo Ausem, de 35 anos, deixou o Brasil há mais de uma década para morar na Itália, onde se formou em medicina e fazia residência em Radioterapia. Faltando apenas um ano para terminar a especialização, abandonou a ideia de carreira na Europa, refez as malas e voltou para casa.

    O catarinense de Florianópolis, que chegou há poucos dias no Brasil, ainda está se acostumando com a decisão “combattuta”, ou seja, difícil, que tomou – e ainda tropeça em palavras italianas durante a conversa.

    “Ainda penso em italiano. Dez anos em outro país é muito tempo. As aulas de português do curso acabam me ajudando também”, brincou.

    O treinamento do Mais Médicos, que durará mais duas semanas, são ministradas em português e também abordam o sistema público de saúde, a cultura brasileira e as doenças mais comuns em áreas carentes.

    “As aulas estão no contexto da realidade do SUS, que vai ser a nossa realidade de trabalho. O curso ajuda a colocar o pé no chão, a ver o Brasil com o qual vamos nos deparar, longe dos grandes centros, das clínicas particulares. Vamos para as periferias”, disse João.

    “Não só para quem veio de fora, mas também para os brasileiros é importante conhecer esse outro lado”, concluiu o catarinense. (saude.terra.com.br)

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