
A empresa americana Kodak, “gigante” mundial de material fotográfico que tornou a fotografia num fenómeno de massas há mais de 100 anos, está prestes a recompor-se, um ano depois de ter accionado um processo de falência para obter protecção face aos credores, quando evocou o capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos, a 19 de Janeiro de 2012.
A Kodak afirmou na altura que o processo de falência era uma estratégia para a recuperação e reorganização da empresa, pretendendo, assim, obter liquidez nos Estados Unidos e no estrangeiro, para rentabilizar a propriedade intelectual não estratégica, resolver a situação dos passivos e poder concentrar-se nos negócios mais competitivos.
A empresa procurou proteger activos no valor de 5,1 mil milhões de dólares e uma dívida de 6,8 mil milhões de dólares. O pedido não incluía as subsidiárias fora dos Estados Unidos. No entanto, a empresa procurou cumprir com o pagamento dos salários e a operacionalidade dos serviços aos consumidores nos Estados Unidos.
A empresa já despediu cerca de 50 mil trabalhadores nos últimos dez anos, mas só no ano passado deixou de fabricar máquinas fotográficas e vendeu o serviço “online” de fotografias e um conjunto de patentes ligadas à área multimédia. Há dias, um juiz especialista em falências, aprovou um plano que prevê que a anterior gigante de fotografia renasça como uma empresa de impressão para o mercado empresarial, com uma dimensão mais pequena.
O plano agora aprovado vai eliminar cerca de 4 mil milhões de dólares em dívida. “Esperemos que comece a recuperar o seu lugar no Olimpo das empresas americanas”, preconizou o juiz do tribunal federal de Manhattan, Allan Gropper, citado pela Reuters.
A decisão não implica, contudo, o regresso do gigante histórico dos filmes para as câmaras fotográficas e cinema, que outrora dominou Hollywood antes do advento da era digital. A Kodak vai passar a ser uma companhia muito mais pequena, focada somente para a impressão comercial.
O plano de reestruturação foi aceite por 80 por cento dos credores na semana passada, mas tudo pode mudar, pois, dos 17 mil trabalhadores anteriores, vai passar para 8.500.
Plano aceite
O peso da dívida acumulada no valor de cinco mil milhões de euros vai ser agora aliviado, com este novo plano, para três mil milhões. A solução encontrada foi a venda de 1.100 patentes tecnológicas e o fim das câmaras fotográficas e da digitalização de imagens, que rendeu muito menos (392 milhões de euros) que o previsto, quando a companhia entrou em falência (1,4 mil milhões de euros).
Para a estrutura mais reduzida estão também previstas menos receitas, com estas a caírem para metade da anterior facturação (1.800 milhões de euros). A Kodak estava já em processo de reestruturação há vários anos, tendo, desde 2003, eliminado 47 mil postos de trabalho e encerrado mais de uma dezena de fábricas onde produzia películas, papel fotográfico e químicos. Da mesma forma, encerrou 130 laboratórios fotográficos.
Supervisor de falência
O supervisor de falência do governo dos Estados Unidos opôs-se ao plano da Kodak de sair da concordata, porque o projecto prevê o pagamento de bónus ilegal para funcionários da empresa, incluindo um prémio de 1,9 milhões de dólares para um dos executivos da companhia, António Perez.
O agente fiduciário americano Tracy Hope Davis, um funcionário do Departamento de Justiça dos EUA que actua como supervisor de tribunais de falência do país, teve como alvo uma série de bónus e prémios prometidos para altos executivos da Kodak como parte do pedido de concordata da empresa.
António Perez, que devia pedir demissão como chefe da empresa, após um ano da recuperação da Kodak da concordata, também receberia um prémio adicional até 155 por cento do salário actual de 1,155 milhões de dólares, dois milhões em pagamentos não competitivos e mais outros dois milhões em valores não concorrentes durante um período de dois anos, de período não concorrente.
A Kodak também quer pagar milhões em bónus e prémios para sete outros altos executivos, como parte do plano. Tracy Hope Davis questionou, em particular, numa acção no tribunal, se os pagamentos emergentes para o chefe da Kodak e outros estão de acordo com as regras do Código de Falências para bónus em casos de quebra. (jornaldeangola.com)