
O humor está em toda a parte e ninguém tem dúvidas de que gostamos particularmente dos momentos hilariantes que resultam de situações improváveis. Ou seja, quanto mais inesperado maior é a graça. Uma amiga minha, a Kina Mawa Mpango, que por sinal vive super orgulhosa do seu nome kongo para se diferenciar dos vizinhos suíços Noah, Lucas, Louis, Emma, Anais, Lea & companhia, esteve muito recentemente no epicentro de um equívoco que merece um prémio.
Do nada, criou um verdadeiro ícone do humor epistolar que só precisa de cair em mãos sábias para figurar no anedotário dos craques da arte de fazer rir, como o tremendo Calado Show ou o português Fernando Rocha. Andávamos, eu e ela, em triangulações de correspondência nestes tempos ágeis em que as cartas não chegam mais pelos CTT mas à velocidade incrível do email.
O terceiro vértice da pirâmide era uma simpática funcionária com responsabilidades de Estado, minha amiga, e que a Kina – descendente de dinastias nobres do Uíge a residir no estrangeiro há uma eternidade – aprendeu a tratar com um formalismo e deferência próprios de quem mergulhou em cheio noutras realidades mesmo que se não tenha desligado das raízes africanas.
A amiga que vive em Luanda foi a causadora de todo o embaraço que depois redundou em motivo de riso. Já faz parte do folclore anedótico que consigo reproduzir a outros amigos, nos momentos em que acredito que sou capaz, também, de contar piadas. Aconteceu ainda há dias em Lisboa, numa rodada com pão líquido a circular generosamente, como convém em dias de férias curtas. Tudo ocorreu assim: De Luanda, a Kina Mawa Mpango recebeu um email corporativo com explicações sobre os passos que ela deveria seguir, nos quais se incluía um contacto com a pessoa X do departamento tal. E o correio finalizava com a linguagem da praxe – ‘muito agradecidos pela atenção dispensada, aguardamos pela sua próxima diligência, etcétera, etcêterapara, em remate final, surgir um caloroso e familiar “Mungweno”.
O email em resposta da Kina Mawa Mpango, a mui digna escultora e pintora saída do Uíge há décadas para conquistar o mundo com a sua arte de primeiríssima água, foi estrondoso logo no cabeçal: “Excelentíssimo Senhor Mungweno, muito obrigado pelas informações que me prestou, farei então o que me orienta, etc. etc.”.
Precisei de uma semana para controlar as gargalhadas mas a autora do email, a minha amiga com funções no topo da administração do Estado, necessitou de muitíssimo mais tempo, conforme confissão que interpretei como fazendo parte, também ela, da gigantesca piada que tinha nascido dessa rasteira linguística.
Dias depois do monumental tropeção da Kina Mawa Mpango – que se vê mais talhada, afinal, para o seu kikongo materno do que o quimbundo – ela recebeu um email que a despertou, entre gargalhadas de rebolar no chão: “Estimada Kina Mawa, não existe qualquer senhor Mwngueno neste ministério mas o seu correio será encaminhado à pessoa certa.
Mwngueno é uma forma de despedida em língua quimbundo, que quer dizer ‘até já’, ‘fica bem’, até à próxima. Valeu!” Os três já tivemos oportunidade de um encontro de celebração em Luanda, com direito a muitas gargalhadas, que é a única maneira de se fazer justiça num golpe humorístico tão bem conseguido como este. E como a partilha está feita…‘mwngueno’, que na próxima semana haverá mais! (opais.net)